É uma noite difícil e vêm aí tempos difíceis. “Um país assim não cresce”

(dr) BE

Jorge Costa, BE

Jorge Costa admite “vitória da direita em toda a linha”. Os votos dos partidos da esquerda, juntos, nunca foram tão poucos em legislativas.

O dirigente bloquista Jorge Costa antecipou que o partido vai ter uma “noite e tempos difíceis” pela frente, falando numa “vitória da direita em toda a linha”, após serem conhecidas as primeiras projeções de resultados para as legislativas.

Temos uma noite difícil pela frente e tempos difíceis pela frente. As projeções apontam para uma vitória da direita em toda a linha. O somatório dos votos do Partido Socialista e dos partidos à esquerda nunca foi tão pequeno em eleições legislativas”, considerou Jorge Costa, dirigente do ‘núcleo duro’ do partido.

Jorge Costa reagia às primeiras projeções televisivas que dão vitória à AD nas eleições legislativas ao obter entre 29% e 36,9%, seguindo-se o PS e o Chega muito próximos.

O dirigente do BE salientou que estes primeiros valores apontam para uma redução da representação do BE no parlamento e que, a confirmarem-se, “sublinham uma possibilidade que o Bloco já tinha levantado durante a campanha eleitoral de uma viragem à direita continuada, que já tinha começado nas legislativas anteriores e que se prolonga agora”.

“Em face desses riscos, optámos por uma campanha eleitoral que abre caminhos para as dificuldades que agora teremos que enfrentar”, sublinhou o dirigente, que defendeu a estratégia adotada pelo partido nesta campanha, diferente do habitual, sem arruadas e visitas a feiras ou mercados.

O dirigente bloquista defendeu que “a luta por questões essenciais da igualdade, do acesso à habitação, do direito dos trabalhadores por turnos, das questões da oposição à guerra e em defesa da paz” foram “o centro” da campanha bloquista.

“Uma campanha militante, porta a porta, olhos nos olhos, que é como o Bloco de Esquerda vai continuar a intervir neste cenário difícil. Vamos esperar pelos resultados finais”, finalizou.

Mais tarde, e na sua primeira reação da noite, Mariana Mortágua apareceu (sorridente), admitiu uma “grande derrota” do BE e uma “derrota importante” da esquerda. Mas deixou uma palavra de esperança para o futuro, para “derrotar a extrema-direita”.

A coordenadora do BE garantiu que vai manter a sua candidatura à liderança na convenção de novembro.

Quando Mortágua começou a falar, o Bloco não tinha conseguido eleger qualquer deputado. A meio do discurso, um momento curioso: Mariana Mortágua foi eleita, “em directo”. Foi aplaudida, sorriu e deixou a sala.

IL não vai para o Governo

Rui Rocha descartou integrar num Governo com AD, frisando que as “maiorias estão constituídas” e o seu papel será na Assembleia da República, mas manifestou-se disponível para dialogar.

O líder da IL recordou que, nesta campanha, tinha dito que seria “garantia de governabilidade” e de “solução para o país”, na medida em que isso dependesse do partido.

“Mas, olhando para os resultados, o que vemos nesta altura é que as maiorias possíveis estão constituídas. Portanto, o nosso papel será o papel de, no parlamento, continuarmos a defender as nossas ideias, de continuarmos a dizer aos portugueses: têm aqui um partido de confiança que os vai defender e que vai querer levar Portugal para a frente, a partir do parlamento, onde teremos maior representação”, referiu.

O líder da IL disse que, “obviamente”, estará disponível “para as conversas que houver a ter nos próximos dias, para todos os contactos”.

A IL tinha oito deputados, passa a ter nove: “Queríamos ter crescido mais, obviamente. Creio que fizemos muito ao longo deste tempo para merecer a confiança dos portugueses. Não foi possível crescer mais, eu assumo esse ponto”, afirmou.

“Não é um país bom”

O Livre deixou palmas (poucas) e palavras a quem votou no partido, mas olha para as projeções com “grande preocupação” porque são números que mostram “uma direita radicalizada que continua em maré alta“.

Isabel Mendes Lopes disse na RTP que este “crescimento da direita radicalizada” é sinónimo de “um país que não cresce, nem é um país bom quando o ódio se instala“.

“Termos um cenário com uma direita radicalizada, em maré alta, é um cenário que nos preocupa. Deixamos essa palavra de preocupação”, reforçou a líder parlamentar do Livre.

Já em relação ao provável crescimento do Livre, a deputada disse que essa subida “está em linha com os objetivos que o Livre traçou”, de crescer e de “chegar a mais pessoas” e ainda de “ser o 4.º partido do país” – embora não seja certo que ultrapasse a Iniciativa Liberal.

“O campo progressista tem de crescer para ocupar o espaço que está a ser ocupado pela direita radicalizada – e que não serve a ninguém”, finalizou Isabel Mendes Lopes.

“Preconceito, falsificação”

A CDU queria ter mais deputados mas não conseguiu. Mesmo assim, e segundo Paulo Raimundo, o grupo parlamentar de 4 deputados estava seguro, não ia descer (tinham 3 deputados no momento do seu discurso).

Paulo Raimundo lamentou o “preconceito, a falsificação e a menorização da CDU e das suas propostas”, ao longo da campanha eleitoral.

Para o deputado, “alegadas disputas por maiorias eleitorais condicionaram a votação” deste domingo.

E acrescentou que este resultado também é consequência da “instrumentalização da AD a ideia da estabilidade governativa, da falta de credibilidade do PS” e avisou que o crescimento do Chega é um resultado “inseparável dos meios financeiros e mediáticos” que financiam o partido.

“Se não estivesse sozinha…”

A porta-voz do PAN agradeceu o “voto de confiança” dos eleitores que permitiram manter a representação no parlamento, mas reconheceu que o resultado ficou aquém das expetativas, responsabilizando o “voto útil” por não conseguir um grupo parlamentar.

Inês de Sousa Real disse que o resultado conseguido esta noite – a sua reeleição pelo círculo eleitoral de Lisboa – não foi o “resultado que gostaria de ter tido”, por não ter permitido formar um grupo parlamentar.

“Seria importante que não estivesse sozinha no Parlamento, que tivéssemos conseguido, noutros distritos, noutras áreas geográficas, onde já elegemos, quer no Porto, quer em Setúbal e até mesmo naquilo que é reforçar a nossa representatividade em todo o país, mas sabemos também que o voto útil acabou por prejudicar, mais uma vez, a pluralidade democrática”, acrescentou a deputada única do PAN.

A líder do PAN alertou para “ameaça concreta” da ascensão da extrema-direita com uma “agenda xenófoba de discriminação” e recuo na proteção animal, comprometendo-se a lutar para que as suas causas “não fiquem para trás”.

Sobre a possibilidade de vir a ser parte do apoio parlamentar ao novo Governo da AD, Sousa Real disse que essa é uma reflexão que o partido terá de fazer, mas acrescentou que o PAN, “como partido de oposição”, tem o papel de garantir que não há recuos nas causas.

O estreante

Pela primeira vez, o JPP vai ter um deputado. Será o primeiro partido de perfil regional com um representante na Assembleia da República.

O deputado será Filipe Sousa: “Este é o resultado do trabalho que o JPP tem vindo a desenvolver nesta região desde 2013. A nossa forma de estar e o nosso sentido de tolerância foi ganhando aos poucos a confiança da população”.

“Com todo o crescimento dos populismos, conseguimos superar os nossos resultados. Superámos sem estar à sombra de líderes nacionais”, atirou.

ZAP // Lusa

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