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A REN já tinha avisado para o risco de apagão. Estado não avaliou a tempo

Brais Lorenzo / EPA

A REN deixou avisos sobre os riscos de apagão no seu último plano de investimentos. As soluções passavam por investir em equipamentos para dar estabilidade à rede elétrica; e evitar que desvios entre produção e consumo possam levar a um blackout.

No dia 28 de abril, um corte generalizado no abastecimento elétrico deixou Portugal às escuras.

Aeroportos fechados, congestionamento nos transportes e no trânsito nas grandes cidades e falta de combustíveis foram algumas das consequências do apagão.

Em dezembro de 2024, no seu último plano de investimentos, a REN – Redes Energéticas Nacionais já tinha alertado para a possibilidade de tal evento.

No documento, a empresa referiu três vezes a expressão blackout (apagão).

Não foi falta de aviso

De acordo com o Expresso, na proposta de Plano de Desenvolvimento e Investimento da Rede Nacional de Transporte de Eletricidade (PDIRT), a REN propunha investir em equipamentos para dar estabilidade à rede elétrica.

Seriam quase 1,7 mil milhões de euros ao longo da década de 2025 a 2034 – um montante que, segundo o semanário, mais do que duplica o investimento decenal da anterior proposta de PDIRT. A REN acreditava que este valor podia ser acomodado sem pesar nos bolsos dos consumidores.

O plano esteve em consulta pública entre janeiro e fevereiro deste ano; e precisa da aprovação do Estado para os investimentos. Mas, como nota o Expresso, antes de o Governo se pronunciar, a ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos tem de emitir um parecer – o que ainda não aconteceu.

A REN lembra, no PDIRT, que quando há desequilíbrios entre produção e consumo ocorrem variações na frequência da rede elétrica. Por isso, a empresa propôs, no PDIRT, a instalação de dois compensadores síncronos no sul de Portugal.

A ideia é “prevenir situações mais gravosas de déficit de inércia no sistema que, devido a desequilíbrios severos entre a geração e o consumo, possam conduzir a maiores desvios de frequência, o que poderá levar à atuação de proteções de mínimo ou máximo de frequência de consumos e geração, e levar, em última instância, a um blackout” – cita o Expresso.

Contudo, a REN esclareceu, que uma decisão final sobre esse investimento nos compensadores síncronos dependia de uma monitorização do comportamento da rede e da avaliação das horas em que a rede opera abaixo de um limiar que estava ainda (no final de 2024) por definir por uma metodologia da ENTSOE.

 

Nas últimas duas semanas vários especialistas têm defendido que há soluções técnicas para tornar a rede mais resiliente num contexto de maior penetração das fontes fotovoltaica e eólica.

Um exemplo é, escreve o Expresso, por exemplo, dotar as centrais solares de inversores do tipo grid forming – capazes de fixar a sua própria frequência, em vez de se limitarem a seguir a que recebem da rede.

Na semana passada o instituto Inesc Tec publicou uma análise sobre o apagão de 28 de abril, notando que há já no mercado sistemas de informação e monitorização que permitem preservar a integridade das redes e evitar a queda em cascata do sistema elétrico.

A adoção de metodologias probabilísticas, a instalação de estabilizadores de potência e o aprofundamento dos mercados de reserva serão também opções a seguir. Além disso, também será importante ajustar os parâmetros de proteção dos parques eólicos e centrais solares para que sejam um pouco mais tolerantes às oscilações de frequência, em vez de se desligarem de imediato com pequenos desvios – conclui o estudo, citado pelo semanário.

ZAP //

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