Um estudo recente revela que 45% dos trabalhadores japoneses estão a praticar “quiet quitting”, desafiando a cultura de trabalho excessivo praticada no país.
Uma percentagem cada vez maior da força de trabalho a tempo inteiro no Japão está a praticar o chamado “quiet quitting” – fazer apenas o suficiente para sobreviver no emprego, sem se esforçar por promoções ou reconhecimento, concluiu um novo inquérito.
O estudo realizado, pela empresa japonesa de recrutamento Mynavi, inquiriu 3.000 trabalhadores com idades entre os 20 e os 59 anos, e descobriu que a maioria dos que se identificaram “quiet quitters” estavam satisfeitos — e pretendem continuar a fazê-lo.
Segundo o The Japan Times, os resultados deste inquérito são reflexo de uma mudança subtil mas significativa em relação à cultura de trabalho excessivo, profundamente enraizada no país.
“Podemos considerar que o ‘quiet quitting’ está a tornar-se a nova norma“, disse Akari Asahina, investigadora do Mynavi Career Research Lab, ao jornal nipónico.
O termo, popularizado no TikTok nos EUA em 2022, refere-se a funcionários que cumprem as expectativas básicas do seu trabalho, mas evitam assumir responsabilidades extra ou procurar progredir na carreira.
No Japão, mais de 70% dos que se identificaram como praticantes de “quiet quitting” afirmaram que pretendiam continuar com esta prática, de acordo com os resultados do inquérito da Mynavi divulgados no mês passado.
Cerca de 60% disseram estar satisfeitos com o resultado, incluindo mais tempo para atividades pessoais durante e fora do horário de trabalho.
O inquérito identificou os principais fatores que levam os trabalhadores a optar pelo “quiet quitting, que incluem o sentimento de inadequação às suas funções, a priorização do equilíbrio entre vida profissional e pessoal, e uma indiferença geral em relação à progressão na carreira.
“À medida que os valores se tornam mais diversos, é importante que as empresas aceitem os diversos valores dos indivíduos e ofereçam estilos de trabalho flexíveis que se adequem a eles”, diz Asahina.
A cultura laboral no Japão é há décadas caracterizada por longas horas de trabalho e auto-sacrifício, a tal ponto que o país tem um termo específico para designar a morte por excesso de trabalho: karoshi. Mas o inquérito da Mynavi sugere que esta mentalidade pode estar a começar a mudar.
Entre os profissionais de recursos humanos, 32% expressaram preocupação de que o “quiet quitting” possa prejudicar a moral, enquanto quase 39% disseram estar recetivos à ideia — reconhecendo que nem todos os funcionários podem estar a lutar por progressão na carreira.
As horas de trabalho no Japão têm vindo a diminuir nos últimos anos. Um relatório de novembro de Takashi Sakamoto, analista do Recruit Works Institute, descobriu que a média anual de horas diminuiu 11,6% – de 1.839 em 2000 para 1.626 em 2022 – colocando o Japão em linha com muitos países europeus.