Doentes tratados em casa foram já 55 mil desde 2018. É o equivalente a 1 ano de funcionamento dos grandes hospitais.
O programa de internamento domiciliário foi criado em 2018. Consiste na deslocação das equipas médicas até à casa dos pacientes, em vez de os manterem internados no hospital.
De acordo com dados avançados por Delfim Rodrigues, coordenador dos programas de hospitalização domiciliária portugueses, ao Público, só nos primeiros meses deste ano a medida já poupou 3,3 milhões de euros ao SNS e continua a alargar-se.
Isto porque “o custo do tratamento destes doentes baixa em média para metade quando o tratamento é assegurado em casa, em vez de num hospital”, explica. De acordo com dados de dezembro da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), o custo médio de cada doente internado no hospital é de 261 euros por dia. Metade são 130,5 euros.
Desde que a medida foi criada, já usufruíram deste serviço 55 mil pacientes, o que, explica o coordenador, equivale a um ano inteiro de funcionamento de grandes hospitais como o São João, no Porto (que trata entre 48 mil a 50 mil pessoas por ano).
No final de fevereiro, 378 doentes recebiam este tipo de auxílio. 378 doentes excedem a capacidade de um hospital como o de Vila Franca de Xira, com 218 camas e 1500 funcionários. Para tratar este número de pessoas em casa, são necessários 400 funcionários.
Para Delfim Rodrigues, esta é “uma espécie de hospital virtual com mais capacidade de oferta que muitos hospitais físicos – o de Barcelos tem 117 camas, o de Beja 116 e o de Évora 310…, e cuja construção não envolve betão nem ferro”.
Joana Bordalo e Sá, presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), diz que o governo devia suportar mais a medida.
Diz que “é evidente que é melhor para um doente, estar em casa, com a sua família, e com apoio clínico, é melhor do que estar num hospital. Infelizmente, este modelo não esteve entre as prioridades do Governo. E, por outro lado, os médicos que temos não chegam para garantir as consultas, urgências e internamentos nos hospitais e muito menos na hospitalização em casa”.
Para além disso, explica Delfim Rodrigues, “infelizmente, os hospitais deixaram de ter espaços físicos para os doentes deambularem, porque os profissionais de saúde os foram ocupando. Até as salas de refeições foram desaparecendo, o que obriga muitos doentes a fazerem as refeições na cama, sem necessidade”.
“Exames como PET [tomografia por emissão de positrões] ou uma TAC [tomografia axial computorizada] não podem ser feitos em casa, mas tudo o que resulte da colheita de material biológico, sim”, diz ainda.
“Isto é sobretudo importante nos concelhos mais periféricos, muitas vezes sem redes eficazes de transportes urbanos, e em que os doentes apanham um autocarro às oito horas da manhã para regressarem apenas às nove da noite, por vezes apenas com uma côdea de pão e uma lata de conservas”.