O combustível “limpo” custa o dobro em relação ao país vizinho. O problema não é só a matéria prima: são os impostos de quase 30%.
“Numa botija de gás de 35 euros, dez euros são impostos“, diz à Renascença João Durão, presidente da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis (ANAREC).
O preço deste combustível “limpo” tem vindo a aumentar cada vez mais. Segundo avançou esta quarta feira o JN, o gás já aumentou 28% face a 2022, e custa agora mais de 35 euros. No país vizinho, é metade do preço.
Em 2022, o governo fixou o preço máximo da garrafa em 29,47 euros. Em dezembro de 2024, a botija de gás butano (13 kg) já custava 34,17 euros e a de gás propano (11 kg) 32,85 euros.
Hoje, de acordo com a dados da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) a botija de butano custa entre 36,5 e 36,9 euros, e a de propano entre 34 e 36,5 euros.
“Tem a ver com o aumento da matéria-prima e o câmbio da moeda”, justifica o presidente da ANAREC, mas “o principal problema são os impostos”.
Isto porque, se falamos de dez euros por botija em impostos, isso representa quase 29% do valor total.
“É uma das energias que paga 23% de IVA mais o imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos (ISP), 10 euros são para impostos”, alerta João Durão. “Até o vinho está sujeito a uma taxa de 6%. Nós já nem falamos em chegar a esse valor, mas, pelo menos, que fosse 13%.”
Segundo o presidente da ANAREC, os governos “não têm percebido esta energia é um bem essencial”, e que gás é a energia mais “limpa” de todos os combustíveis fósseis.
Em Espanha, mesmo com um salário mínimo de mais 334 euros do que em Portugal, “a garrafa do gás custa metade porque até é subsidiada pelo Governo, em Portugal somos nós que subsidiamos o Estado através da garrafa do gás”, lamenta João Durão.
De facto, em 2022, a Espanha anunciou um pacote de ajuda de 16 mil milhões de euros em ajudas diretas e empréstimos para ajudar as empresas e as famílias a fazer face aos elevados preços da energia, que fizeram subir a inflação, noticiava a Reuters.
Até ao final de 2023, as transportadoras espanholas recebiam também apoios para abastecerem os veículos, e, por exemplo, os pesados de mercadorias movidos a GPL, GNC ou GNL recebiam 1.845 euros do Estado, enquanto que quem tivesse veículos a gasolina ou gasóleo recebia apenas 500 euros de apoio, mencionava a World Liquid Gas.
E sim, se for a Espanha buscar gás, arrisca-se a pagar uma multa se não pagar na mesma o imposto português sobre o combustível.