O “suicídio” da Europa e Putin igual a Hitler

Gavriil Grigorov / EPA

Vladimir Putin, presidente da Rússia

Se o acordo na Ucrânia “estiver muito próximo das ambições máximas da Rússia, vamos ter uma guerra bastante maior a curto prazo”.

É apenas um “parece”, mas parece que está mais próximo do que nunca um acordo para acabar com a guerra na Ucrânia.

Os sinais têm aparecido sobretudo do lado ucraniano, nomeadamente através do presidente Volodymyr Zelenskyy.

Em Dezembro, Zelenskyy começou a mudar o discurso e admitiu que as forças ucranianas já não conseguem recuperar no terreno o que a Rússia ocupou: “Precisamos de diplomacia”; nos últimos dias, disse que está pronto para falar com Vladimir Putin e admitiu trocar territórios com a Rússia.

António José Telo diz que “sabemos o que Rússia e Ucrânia querem” – e são desejos “incompatíveis”, por isso vai ter de haver concessões.

“Se houver um acordo, falta saber para que lado vai pender. Embora, para mim, não haja dúvidas sobre de que lado está o direito internacional e os valores da carta das Organização das Nações Unidas”, atirou o professor na Academia Militar.

Na RTP, o especialista avisou que pode começar uma (nova) guerra em breve: “Se esse acordo estiver muito próximo das ambições máximas da Rússia, vamos ter uma guerra bastante maior a curto prazo. Se a Rússia sai vitoriosa desta guerra, um novo conflito é inevitável”.

A questão central são os objectivos do Kremlin: “A Rússia tem muitas aspirações e ambições. Utiliza minorias para provocar problemas noutros países, justifica uma intervenção e depois intervém mesmo a nível militar”.

E António José Telo compara a estratégia de Putin à de Adolf Hitler: “Isto não é nada de novo. É exactamente, sem tirar nem pôr, o que Hitler fazia antes da II Guerra Mundial. Foi assim que invadiu a Checoslováquia, provocando problemas com as minorias alemãs nos Sudetas, na Checoslováquia, e depois conseguindo a cedência desse Estado”.

Agora a Rússia faz o mesmo “com mais facilidades, porque tem mais meios para actuar”.

No meio de nove guerras nas quais esta Rússia já se envolveu, há uma explicação: “O regime precisa disto para se manter, para se justificar internamente. Tem de criar internamente a ideia de uma ameaça e tem de apresentar ganhos – algo que conseguiu quase sempre”.

Em relação a Donald Trump, o professor acha que o presidente dos EUA tem uma “forma muito própria de negociar, com afirmações bombásticas para todos ouvirem, e depois envia dezenas de pessoas para contactos, nesta negociação de bastidores”.

Trump tem um conceito diferente de guerra e conflito “diferente do normal”. Traduzindo: “O que vale é a força, a força sobrepõe-se ao direito, a força faz o facto e o direito segue”.

“É um conceito europeu do século XVIII, muito visível nas guerras napoleónicas: a guerra é um negócio. E, sendo um negócio, só compensa uma guerra que traz vantagens a quem se envolve nela. Assim, é normal que Trump peça contrapartidas e é normal que Zelenskyy ceda nesse campo”, acrescentou.

António José Telo concorda com Volodymyr Zelenskyy: a ajuda europeia não chega para a Ucrânia ter paz, quer em termos financeiros, quer no armamento mais sofisticado.

E lança alerta sério sobre a defesa europeia: “A Europa caiu tremendamente nas últimas décadas: na defesa, nas forças que tem, na indústria da defesa – que pura e simplesmente desapareceu da Europa – na investigação… Ficou atrás em tudo”.

“É uma coisa impressionante ver como a Europa cometeu um suicídio, enquanto grande poder global. Está a tentar recuperar mas em três anos de guerra pouco fez”, analisou.

O especialista em assuntos militares finaliza ao dizer que a Europa só vai dar passo “minimamente perigoso” se tiver luz verde dos EUA, como se viu nos envios dos tanques Leopard ou dos caças F-16.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.