Dakota Minerals
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Os preços do chamado “ouro branco” caíram de forma significativa nos dois últimos anos, e há muita incerteza quanto ao que esperar para o futuro próximo no mercado do lítio.
Em 2021, os preços do lítio dispararam 442,8%, fazendo jus ao nome de “ouro branco” que é atribuído a este mineral crítico para as tecnologias de energia limpa, nomeadamente para as baterias recarregáveis para veículos elétricos e para os sistemas de armazenamento de energia.
No ano seguinte, a subida foi menor, mas ainda assim, assinalável, na ordem dos 72%.
Contudo, em 2023, o preço do lítio afundou 81,42%, e em 2024, a queda foi de 57,34%.
Estas descidas consideráveis deveram-se, por um lado, ao aumento da produção e, por outro, a uma menor procura por baterias para eléctricos.
Isto levou a que a oferta superasse a procura num momento em que o sector dos carros eléctricos desacelerou.
Em 2025, os especialistas esperam uma estabilização dos preços do lítio devido a uma redução na oferta. Contudo, este é um mundo complexo, influenciado por vários factores – e há mais dúvidas do que certezas.
Tensões geopolíticas afectam preço do lítio
A Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que a procura de lítio aumente em 60% até 2050, considerando o actual cenário político em termos de regulamentação, conforme se nota no relatório de 2024 sobre minerais críticos.
Mas num cenário de emissões zero dos gases com efeito estufa, no âmbito de políticas para enfrentar as alterações climáticas, a procura de lítio aumentará para os 85%, ainda segundo a AIE.
As políticas governamentais são, portanto, altamente relevantes na definição do preço do lítio. Em tempos de grande instabilidade geopolítica, é difícil prever o que vai acontecer.
As tensões entre países podem ter um impacto directo nos preços do lítio, à medida que os Governos implementam incentivos fiscais ou tarifas comerciais em função da localização de origem ou refinação do lítio.
Nos EUA, o Presidente Donald Trump já cortou os incentivos aos carros eléctricos e impôs tarifas de 10% sobre os produtos energéticos e os minerais importados do Canadá – entretanto, recuou na decisão, mas deixou-a em suspenso durante um mês, pelo que ainda há o risco de a vir a implementar.
Estas medidas vão, inevitavelmente, afectar negativamente a procura por carros eléctricos e, por consequência, interferir na procura por baterias de lítio.
Por outro lado, o crescimento da indústria dos carros eléctricos chinesa pode contribuir para a aumentar a procura. Em países como Portugal, a marca chinesa BYD já ultrapassou a Tesla nas vendas de veículos eléctricos.
Apesar da incerteza, “não é um mercado em declínio”
As projecções da consultora Standard & Poor’s Global Commodity Insights (SPGCI), especializada em dados do mercado de energia, aponta que, em 2025, o preço médio do lítio deverá situar-se nos 10.542 dólares por tonelada.
Em 2024, o valor rondou os 12.374 dólares.
A empresa considera que os preços do lítio deverão continuar sob pressão, apesar de se esperar uma nova redução do excedente da oferta, mas espera que o “mercado deve voltar a estar mais equilibrado”.
“Existe incerteza a curto prazo na perspectiva dos preços do lítio e no ritmo de desenvolvimento da transição energética”, analisa num documento da consultora o presidente da Savannah Resources, Rick Anton, salientando, contudo, que “não é um mercado em declínio”.
A Savannah Resources é a empresa europeia de desenvolvimento de minerais que está à frente do projecto da mina de lítio do Barroso, no norte de Portugal. Espera iniciar produção neste local no final de 2026, e produzir cerca de 191.000 toneladas métricas/ano de concentrado de espodumena, um mineral que é uma importante fonte de lítio.
A produção deverá decorrer durante 14 anos, a estimativa da vida útil da mina do Barroso.
Portugal tem a maior reserva de lítio da Europa, e a oitava maior reserva mundial.
Além da mina do Barroso, está também a avançar uma mina de lítio em Boticas, e há outros projectos para a prospecção noutras zonas do país.
Em Novembro de 2024, a Galp desistiu do projecto para implementar uma refinaria de lítio em Setúbal, após a retirada da parceira sueca Northvolt.
Limitações na refinação e distribuição de lítio
O processo de refinação do lítio é essencial para produzir as baterias para os carros eléctricos e, portanto, é fundamental também para a definição final dos preços.
Actualmente, há três países que dominam este processo – China, Chile e Argentina -, controlando 96% da produção de materiais refinados. Mas a China sozinha controla 65%.
Estas limitações no âmbito da refinação também causam limitações na cadeia de abastecimento, o que acaba por pressionar os mineiros de lítio que dependem da capacidade das instalações de refinação.
Tudo isto causa constrangimentos à chegada de baterias ao mercado, o que impacta necessariamente os preços.
A distribuição global de lítio também é limitada, com Austrália, China e Chile a representarem cerca de 90% da produção global. Mas esta percentagem deve diminuir para cerca de 68% até 2030, de acordo com a AIE.