Três reféns libertadas e milhares de “vidas destruídas” voltam a Gaza. O dia 1 do cessar-fogo

ABIR SULTAN/EPA

Emily, Doron e Romi “passaram por um inferno”, diz primeiro-ministro israelita. Em Gaza, milhares caminharam no meio da destruição: “não sobrou nada, tornou-se inabitável”. Próxima troca de reféns é no sábado.

Um ano e três meses depois, três reféns israelitas foram libertadas este domingo na Faixa de Gaza pelo Hamas, no âmbito do acordo de cessar-fogo que entrou hoje em vigor com quase três horas de atraso e que contemplará ainda a libertação de 90 palestinianos aprisionados por Israel.

A rede social X de Israel publicou vários registos da chegada das três reféns, como uma fotografia de Emily Damari, 28 anos, uma das três reféns libertadas, com a sua mãe, Mandy Damari, em que a jovem, com a mão enfaixada, sorri ao seu lado.

Além da britânico-israelita, foi libertada a romeno-israelita Doron Steinbrecher, de 31 anos, ambas capturadas no kibutz Kfar Aza, e Romi Gonen, de 24 anos, sequestrada no festival de música Nova durante o ataque perpetrado Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel.

Pouco depois, o exército anunciou que as três jovens, acompanhadas pelas suas mães, tinham embarcado num helicóptero com destino a um hospital em Israel “onde se encontrarão com o resto das suas famílias e receberão tratamento médico”.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que as três reféns “passaram por um inferno”, refere um comunicado do seu gabinete. Numa conversa telefónica com Gal Hirsh, seu chefe de gabinete do caso de reféns, Netanyahu afirmou que as três jovens “passaram pelo inferno”, acrescentando que estavam a sair “das trevas para a luz, da escravatura para a liberdade”.

Próxima libertação de reféns no sábado

Um alto responsável do Hamas indicou que a próxima libertação de reféns israelitas mantidos em cativeiro em Gaza vai decorrer “no próximo sábado”, em declarações em anonimato à agência de notícias francesa, AFP.

“A libertação do segundo grupo de prisioneiros israelitas realizar-se-á no próximo sábado à noite, no sétimo dia desde a entrada em vigor do acordo de cessar-fogo”, afirmou o responsável, contactado por telefone em Doha, sem especificar o número de reféns a libertar nesse dia, nem o número de prisioneiros palestinianos que Israel libertará em troca.

De acordo com o presidente cessante dos EUA, Joe Biden, a primeira fase do acordo inclui também uma retirada israelita das zonas densamente povoadas de Gaza e um aumento da ajuda humanitária ao território, que está ameaçado pela fome, segundo a ONU.

Milhares regressam a casa, mas “não sobrou nada”

Milhares de deslocados pela guerra na Faixa de Gaza voltaram para casa neste primeiro dia de cessar-fogo, no meio da destruição.

A entrada em vigor do acordo alimenta esperanças de paz duradoura no território palestiniano, mesmo que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já tenha avisado que as suas forças poderão voltar a pegar em armas, sublinha a AFP.

Colunas de milhares de palestinianos deslocados percorrem as estradas através de uma paisagem apocalíptica de escombros para voltar para casa, muitas vezes para encontrar apenas ruínas, reporta a agência francesa.

As nossas vidas estão destruídas. Levaremos mais de 20 anos para retornar a uma vida normal”, lamenta à AFP Siria al-Arouqi, um homem de Gaza, de 52 anos, acabado de retornar a Rafah (no sul). Em Jabalia, no extremo norte de Gaza, epicentro de uma intensa ofensiva israelita desde outubro, “não sobrou nada, tornou-se inabitável”, lamenta Walid Abou Jiab, também acabado de regressar.

Combatentes encapuzados e armados do Hamas marcharam em Deir el-Balah, no centro do pequeno território palestiniano onde a grande maioria dos 2,4 milhões de habitantes foi deslocada, testemunharam as equipas de reportagem da AFP.

Noutros lugares, a bordo de carrinhas ou a pé, alguns fazem o “V” da vitória ou agitam a bandeira palestiniana.

Os primeiros camiões com ajuda humanitária entraram em Gaza poucos minutos após o início do cessar-fogo, confirmou a ONU para os Territórios Palestinianos.

Segundo um funcionário egípcio, “260 camiões de ajuda humanitária e 16 camiões de combustível” entraram através da passagem de Kerem Shalom, entre Israel e Gaza, e de Nitzana, na fronteira entre o Egito e Israel. A ONU apela aos países que têm “influência” sobre Israel, o Hamas e os grupos armados que estão a saquear os comboios para que usem a sua influência para que a ajuda possa chegar à população.

No intervalo entre o início previsto da trégua e a sua entrada em vigor, Israel realizou hoje ataques em Gaza, que mataram oito palestinianos, segundo a Defesa Civil local.  Netanyahu, já alertou que este se tratava de “um cessar-fogo temporário” e reservou-se “o direito de retomar a guerra, se necessário”.

ZAP // Lusa

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