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Com veia lusa, Shōgun varre Globos de Ouro. Fernanda Torres faz história e bate três “grandes”

Golden Globes

Fernanda Torres

Série com personagens portuguesas levou quatro estatuetas em noite de sonho para a atriz brasileira, que ultrapassou Kidman, Jolie e Winslet. Hacks foi a melhor série e “O Brutalista” e “Emilia Pérez” triunfaram no cinema.

A série japonesa “Shōgun”, que inclui personagens portuguesas, venceu os maiores prémios de televisão da 82ª cerimónia dos Globos de Ouro, entregues no domingo, no hotel Beverly Hilton em Los Angeles.

A série da FX dominou a categoria de drama e levou quatro estatuetas para casa: Melhor Série, Melhor Atriz para Anna Sawai, Melhor Ator para Hiroyuki Sanada e Melhor Ator Secundário para Tadanobu Asano, numa noite histórica por ter dado a primeira estatueta de sempre a uma atriz brasileira, Fernanda Torres, em “Ainda Estou Aqui”, na categoria mais cobiçada, a de filme dramático, ultrapassando veteranas como Nicole Kidman, Angelina Jolie e Kate Winslet.

“Não preparei nada”, confessou a atriz brasileira, mostrando-se muito surpreendida pela distinção entregue na 82ª cerimónia dos Globos de Ouro, que decorreu esta madrugada em Los Angeles.

“Este foi um ano tão incrível em desempenhos femininos”, continuou. A atriz dedicou a vitória à mãe, Fernanda Montenegro, que foi a primeira brasileira nomeada, por “Central do Brasil”, em 1999, mas não ganhou.

“Isto é a prova de que a arte pode perdurar pela vida, mesmo em momentos difíceis como este da incrível Eunice Paiva que eu interpreto”, afirmou a atriz.

“Ainda Estou Aqui”, filme realizado por Walter Salles, baseia-se na história verídica de Eunice Paiva, que durante 40 anos lutou para descobrir o que aconteceu ao seu marido Rubens Paiva, um ex-deputado que foi levado pela polícia durante a ditadura militar no Brasil. O relato foi contado pelo filho Marcelo Rubens Paiva, num livro com título homónimo publicado em 2015 e que Walter Salles adaptou ao cinema.

“Nunca deviam ter dito sim” à série japonesa

“Nada desta série foi algo esperado”, confessou o cocriador Justin Marks, ao aceitar a estatueta de Melhor Série dramática do ano. “Foi construída em cima das costas de muitos ‘sins’ destemidos que recebemos ao longo dos anos”, continuou. “É uma série a que vocês nunca deviam ter dito sim”, gracejou, dirigindo-se aos patrões da Disney. “É um milagre que toda a gente ainda tenha um emprego”.

Retrato ficcional sobre o Japão do século XVI, “Shōgun” tem no elenco o português Joaquim de Almeida e o luso-canadiano Louis Ferreira. Já tinha triunfado nos Emmys em setembro.

“Estou tão feliz por estar aqui com estes grandes nomeados”, exclamou o ator Hiroyuki Sanada, que usou o discurso de agradecimento para deixar uma mensagem inspiradora. “Aos jovens atores e criadores no mundo, sejam vocês mesmos, acreditem em vós próprios e nunca desistam”.

Baby Reindeer melhor minissérie. Jodie Foster e Colin Farrell premiados

Outra vencedora da noite foi a série “Baby Reindeer”, da Netflix, considerada a Melhor Minissérie do ano.

“Isto é de loucos”, disse Richard Gadd, que escreveu e protagonizou a série com base em factos verídicos que lhe aconteceram. “A forma como vocês abraçaram esta série significa tudo para mim”.

“Baby Reindeer” também deu a Jessica Gunning o globo de Melhor Atriz Secundária em televisão. A britânica contou uma história de infância para ilustrar quão surreal o último ano tem sido devido ao sucesso do trabalho na Netflix.

“Não consigo acreditar que isto está a acontecer-me”, exclamou. “Baby Reindeer mudou a minha vida”.

Ainda em minissérie, foi Jodie Foster que levou o galardão de Melhor Atriz, pela interpretação da detetive Liz Denvers em “True Detective: Night Country”. A veterana agradeceu ao povo indígena Iñupiaq, que habita as terras do Alasca há milhares de anos, por ter partilhado as suas histórias com ela.

Nessa categoria, Colin Farrell agarrou a estatueta de Melhor Ator, pela interpretação na série da HBO Max “The Penguin”.

Hacks foi a melhor série

Em comédia, “Hacks” ultrapassou toda a concorrência. Foi a Melhor Série e voltou a dar a Jean Smart o globo de ouro de Melhor Atriz.

“Nunca pensei que ficaria tão contente por ser chamada de ‘hack’”, gracejou Smart, referindo-se ao título da série e à expressão pejorativa que indica mediocridade. “Estamos a meio da quarta temporada e ainda a divertir-nos imenso”, partilhou.

Já o Melhor Ator em comédia foi Jeremy Allen White, por “The Bear”, sendo que o ator não compareceu na cerimónia.

A comediante Ali Wong recebeu o globo por ter tido o melhor especial de comédia ‘stand-up’, com “Ali Wong: Single Lady” na Netflix.

“O Brutalista” e “Emilia Pérez” são os melhores filmes do ano

A primeira grande cerimónia de prémios do ano distinguiu “O Brutalista”, de Brady Corbet, e “Emilia Pérez”, de Jacques Audiard, como os melhores filmes do ano, entregando várias estatuetas a ambos.

“O Brutalista” foi o Melhor Filme Dramático e também deu a Brady Corbet o globo de Melhor Realização, com o protagonista Adrien Brody a vencer o prémio de Melhor Ator na categoria de drama.

“No centro de ‘O Brutalista’ está uma história sobre a capacidade humana para a criação”, afirmou Brody, que interpreta o arquiteto húngaro László Tóth na sua fuga para os Estados Unidos após a II Guerra Mundial. Ele próprio filho de uma húngara que fugiu da Europa pós-guerra, Brody mostrou-se muito emocionado pela vitória, dizendo que deve muito à mãe e aos avós pelo sacrifício que fizeram.

“Espero que este trabalho possa elevar-vos e dar-vos uma voz”, afirmou.

O realizador Brady Corbet, que subiu duas vezes ao palco do Beverly Hilton, onde os prémios foram entregues, disse que ganhar tinha muito significado para um filme que até há poucos meses tinha tudo contra ele.

“O Brutalista” demorou mais de sete anos a ser feito e foi com a A24 e Warner Bros. que se tornou um dos títulos mais cotados do ano. “Obrigado a todos os que apostaram neste filme quando estava a desmoronar-se”, agradeceu Corbet.

O outro grande vencedor da cerimónia foi o filme do francês Jacques Audiard “Emilia Pérez”, um musical sobretudo falado em espanhol.

Protagonizado pela atriz transgénero Karla Sofía Gascón, Zoe Saldaña e Selena Gomez, levou para casa quatro globos de ouro: Melhor Filme Musical ou Comédia, Melhor Filme em Língua Estrangeira, Melhor Atriz Secundária em filme para Zoe Saldaña e Melhor Canção Original, “El Mal”.

“Obrigada por celebrarem o nosso filme e honrarem as mulheres de ‘Emilia Pérez’”, disse a atriz Zoe Saldaña, que chorou abertamente no discurso de aceitação. “Karla, mais ninguém teria podido interpretar Emilia. És única”, disse, olhando para a atriz.

Demi Moore não está “acabada” (nem é “atriz de pipocas”)

Karla Sofía Gascón estava nomeada na categoria de Melhor Atriz em filme musical ou comédia, mas perdeu para Demi Moore, que fez um dos discursos mais longos e emotivos da noite.

“Estou em choque”, disse a veterana. “Faço isto há 45 anos e esta é a primeira vez que recebo alguma coisa como atriz”, sublinhou.

Moore interpreta Elisabeth Sparkle em “A Substância”, que tem um dos argumentos considerados mais inesperados do ano. A atriz, com 62 anos, aceitou este papel numa altura em que estava praticamente a desistir da carreira.

“Há 30 anos, um produtor disse-me que eu era uma atriz de pipocas”, revelou Moore. “Percebi isso como significando que isto era algo que eu não podia ter, que podia fazer filmes de sucesso e muito dinheiro mas não ter reconhecimento”, disse.

Essa ideia foi corrosiva ao longo dos anos. “Foi quando estava em baixo que este argumento ousado, corajoso, fora da caixa, absolutamente doido me apareceu. O universo disse-me que eu ainda não estava acabada”, revelou Moore.

Culkin vence Secundário, ‘Flow’ conquista Animação

Kieran Culkin venceu Melhor Ator Secundário em filme, por “A Verdadeira Dor” e, na categoria de Melhor Ator em filme musical ou comédia, o galardão foi para Sebastian Stan, por “Um Homem Diferente”.

Stan considerou estes filmes necessários e disse ser preciso acabar com “a ignorância e desconforto” que sentimos com as deficiências.

O Melhor Filme de Animação foi “Flow”, um título vindo da Letónia, a Melhor Banda Sonora a de “Challengers”, enquanto “Conclave”, sobre a escolha de um papa e a mecânica do Vaticano, ganhou Melhor Argumento.

Já “Wicked” venceu um prémio criado no ano passado, de Conquista Cinemática e de bilheteira.

Lista de vencedores nas categorias de Televisão

Melhor Série Dramática

“Shōgun” (FX)

Melhor Atriz em série dramática

Anna Sawai, “Shōgun” (FX)

Melhor Ator em série dramática

Hiroyuki Sanada, “Shōgun” (FX)

Melhor Atriz Secundária em televisão

Jessica Gunning, “Baby Reindeer” (Netflix)

Melhor Ator Secundário em televisão

Tadanobu Asano, “Shōgun” (FX)

Melhor Minissérie, série de antologia ou Filme para Televisão

“Baby reindeer” (Netflix)

Melhor Atriz em minissérie, série de antologia ou filme para televisão

Jodie Foster, “True Detective: Night Country” (HBO Max)

Melhor ator em minissérie, série de antologia ou filme para televisão

Colin Farrell, “The Penguin” (HBO Max)

Melhor Série Musical ou Comédia

“Hacks” (HBO Max)

Melhor Atriz em série musical ou comédia

Jean Smart, “Hacks” (HBO Max)

Melhor Ator em série musical ou comédia

Jeremy Allen White, “The Bear” (FX)

Melhor Performance Stand-Up para Televisão

Ali Wong, “Ali Wong: Single Lady” (Netflix)

Lista de vencedores nas categorias de Cinema

Melhor Realização

Brady Corbet, “O Brutalista” (A24)

Melhor Argumento

Peter Straughan, “Conclave” (Focus Features)

Melhor Filme Dramático

“O Brutalista” (A24)

Melhor Atriz em Filme Dramático

Fernanda Torres, “Ainda Estou Aqui” (Sony Pictures Classics)

Melhor Ator em Filme Dramático

Adrien Brody, “O Brutalista” (A24)

Melhor Atriz Secundária em Filme

Zoe Saldaña, “Emilia Pérez” (Netflix)

Melhor Ator Secundário em Filme

Kieran Culkin, “A Verdadeira Dor” (Searchlight Pictures)

Melhor Filme Musical ou Comédia

“Emilia Pérez” (Netflix)

Melhor Atriz em Filme musical ou comédia

Demi Moore, “A Substância” (Universal Pictures)

Melhor Ator em Filme musical ou comédia

Sebastian Stan, “A Different Man” (A24)

Melhor Filme de Animação

“Flow”, Gints Zilbalodis (Dream Well Studio)

Melhor Filme em Língua Estrangeira

“Emilia Pérez”, França (Netflix)

Melhor Canção Original

“El Mal”, interpretada por Zoe Saldaña, “Emilia Pérez” (Netflix)

Melhor Banda Sonora

Trent Reznor e Atticus Ross, “Challengers” (Amazon MGM Studios)

Conquista cinemática e de bilheteira

“Wicked” (Universal Pictures)

A próxima cerimónia de prémios é a da Associação de Críticos, os Critics Choice Awards, e acontece a 12 de janeiro. Já as nomeações para os Óscares serão anunciadas a 10 de fevereiro, com a cerimónia marcada para 2 de março.

ZAP // Lusa

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