Centenas de homens iemenitas terão sido forçados a combater na Ucrânia sob falsas promessas de emprego e cidadania russa. Contratos obtidos pelo Financial Times mostram ligação entre Houthi e o Kremlin com rede de tráfico.
As forças armadas russas recrutaram centenas de homens iemenitas, muitos deles através de meios coercivos, para combaterem na guerra na Ucrânia.
Os recrutas, atraídos por promessas de salários elevados e de cidadania russa, são forçados a cumprir o serviço militar à sua chegada à Rússia, avança o Financial Times, que aponta para os laços entre Moscovo e o grupo rebelde Houthi do Iémen, milícia apoiada pelo Irão, como estando na origem da rede de tráfico.
Alguns recrutas, que falaram com o jornal, descreveram um processo de duplicidade que envolveu uma empresa ligada aos Houthi que facilitou a sua deslocação à Rússia sob falsos pretextos. Uma vez na Rússia, foram integrados no exército de Putin e enviados para as linhas da frente ucranianas. Muitos não tinham formação militar e foram enganados quanto à natureza do seu emprego, tendo alguns sido levados a assinar contratos que nem sequer sabiam ler.
Os contratos analisados pelo Financial Times revelaram o envolvimento da Al Jabri General Trading & Investment, uma empresa ligada a Abdulwali Abdo Hassan al-Jabri, um “proeminente político Houthi”. A empresa, registada em Omã como operador turístico e fornecedor de medicamentos, é acusada de facilitar o esquema de recrutamento.
O jornal recolheu testemunhos angustiantes que relatam coerção, maus tratos e condições precárias no campo de batalha.
Nabil, um dos recrutas que falou com o FT, contou que fazia parte de um grupo de 200 iemenitas recrutados para o exército russo em setembro. Enganado por promessas de emprego em áreas como “segurança e engenharia”, viram-se empurrados para as florestas da Ucrânia, sob bombardeamentos e condições difíceis.
A outro recruta, Abdullah, foram prometidas recompensas financeiras e a cidadania russa: acabou recrutado à força para o serviço militar do Kremlin. “Assinei porque estava assustado“, disse Abdullah.
Ele e um pequeno grupo de recrutas iemenitas foram recentemente repatriados para o Iémen, graças à pressão da Federação Internacional dos Migrantes Iemenitas. No entanto, centenas de recrutas iemenitas permanecerão na Rússia.
Com cada vez mais baixas militares, a Rússia mostra-se cada vez mais dependente de soldados estrangeiros para reforçar as suas fileiras. Os relatórios sugerem que mercenários do Nepal, da Índia e da Coreia do Norte se juntaram ao conflito, tendo a nação liderada por Kim Jong-un contribuído com cerca de 12.000 soldados.
Os diplomatas americanos já tinham alertado para a crescente colaboração entre a Rússia e os Houthis, incluindo discussões sobre transferências de armas que poderiam desestabilizar ainda mais a região.
“Sabemos que há pessoal russo em Sana’a [capital do Iémen] a ajudar a aprofundar este diálogo”, disse um enviado especial dos EUA para o Iémen, Tim Lenderking: “Os tipos de armas que estão a ser discutidos são muito alarmantes e permitiriam aos Houthis atingir melhor os navios no Mar Vermelho e possivelmente mais além.”
“Uma coisa de que a Rússia precisa é de soldados e é evidente que os Houthis estão a recrutá-los” disse Farea al Muslimi, especialista na região do Golfo na Chatham House, descrevendo-o como uma abertura a Moscovo. “O Iémen é um local muito fácil de recrutar. É um país muito pobre”.
Guerra na Ucrânia
-
25 Novembro, 2024 Rússia envia à força iemenitas para a guerra em acordo obscuro com os houthis
-
22 Novembro, 2024 Ucrânia: 1,4 milhões por cada míssil – e nem são os mais caros
Ainda me lembro de os Russos acusarem o Ocidente de estarem a enviar mercenários para a Ucrânia. Afinal, são os Russos que usam (também) mão-de-obra estrangeira – e não é de agora mas de há muito tempo, nomeadamente no famigerado Grupo Wagner. O Putinho prefere pagar mais uns bons rublos por estrangeiros do que mobilizar os cidadãos russos das grandes cidades, para não fomentar a oposição. Compreende-se.