Uma nova hipótese científica propõe que a lua não se formou a partir de detritos, mas pode sim ter estado emparelhada com outro objeto rochoso: até que a Terra a puxou para o pé de si.
Que a Terra tem o seu charme, que magnetiza a Lua, já se sabia, o que não se sabia era que a Lua tinha tido um primeiro amor, antes de se juntar ao nosso planeta.
Com a teoria tradicional da colisão (um objeto da dimensão de Marte teria colidido com a Terra formando detrito de que nasceu a Lua), não é possível explicar alguns aspetos que intrigam os cientistas sobre a rotação do satélite da Terra.
A crença tradicional também não explica certas assinaturas químicas encontradas em rochas lunares trazidas pelos astronautas da Apollo, explica a Study Finds.
“A Lua está mais alinhada com o Sol do que com o equador da Terra”, explica o investigador da Penn State Darren Williams num comunicado de imprensa, o que não bate certo com a conceção original da origem do astro.
Um novo estudo, publicado em setembro no The Planetary Science Journal por Williams e Michael Zugger, demonstra que a Terra pode ter “obtido” a Lua através de um processo chamado captura por troca binária — o mesmo mecanismo que se pensa explicar como o planeta Neptuno capturou a sua maior lua, Tritão.
O processo de captura de troca binária ocorre quando um planeta encontra dois objetos em órbita um do outro. Durante este encontro cósmico, a gravidade do planeta pode separar o par, capturando um objeto como satélite e ejetando o outro para o espaço.
A Terra terá, então, “roubado” a Lua de um outro objeto a que esta estava inicialmente ligada por magnetismo. Um pouco como o mito clássico de Hades, que raptou a deusa da agricultura, Perséfone, depois de se ter apaixonado por ela, levando-a consigo para o submundo.
Este mecanismo já foi demonstrado para planetas maiores do sistema solar, mas esta nova investigação mostra como o esquema da “captura” pode funcionar também para planetas do tamanho da Terra.
Na verdade, o estudo provou, com recurso a modelos matemáticos e simulações em computador, que a Terra tem, afinal, capacidade para capturar satélites que tenham de 1% a 10% da sua massa (e a Lua fica apenas nos 1,2% da massa da Terra).
Mas os investigadores também tiveram de explicar como é que a Lua, já capturada, se fixou na sua atual órbita circular, tão “bem comportada”, como a descreve a Study Finds. E é aqui que entra em jogo o poder das marés.
As forças das marés “civilizaram” uma órbita inicialmente selvagem: “Atualmente, a maré terrestre está à frente da Lua”, explica Williams no mesmo comunicado. “A maré alta acelera a órbita. Dá-lhe um impulso, um pouco de impulso. Com o tempo, a Lua afasta-se um pouco mais”.
De acordo com a Study Finds, esta descoberta levanta a possibilidade de que grandes luas possam ser mais comuns em torno de planetas rochosos do que se pensava anteriormente, o que pode mesmo ter implicações para a habitabilidade e o surgimento de vida. Também explica algumas inquietações dos cientistas, como as “marcas” químicas que se desconheciam na Lua.
“Ninguém sabe como é que a Lua se formou. Nas últimas quatro décadas, tínhamos uma possibilidade de como a Lua foi lá parar. Agora, temos duas. Isto abre um tesouro de novas questões e oportunidades para estudos futuros”, diz Williams.
Mas, ao contrário de Perséfone, que regularmente continuou a sair do submundo para fazer visitas à mãe, a Lua parece estar contente no seu relacionamento — caso contrário, não suportaria o planeta Terra há 4,5 mil milhões de anos. Por agora, não há sinais de divórcio.