Desde parceiras económicas e militares, passando por apelos ao ego de Trump e cortes de relações com a China, a Ucrânia está a preparar-se para não deixar escapar o apoio norte-americano com a mudança na presidência.
Com o regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, antecipa-se uma mudança de postura de Washington no apoio à Ucrânia. Com um crescente movimento nos Republicanos que questiona a utilidade dos repetidos pacotes de apoio — incluindo o próprio vice-presidente de Trump, JD Vance — e com a infame amizade entre Trump e Putin, Zelenskyy tem um grande desafio pela frente.
De acordo com o Financial Times, o “plano de vitória” desenhado pela Ucrânia já inclui medidas destinadas a garantir a continuação do apoio americano caso Trump fosse reeleito. Esta estratégia destaca potenciais parcerias económicas, o acesso a recursos e um realinhamento dos destacamentos militares
As propostas têm em conta as preocupações das autoridades ucranianas e europeias de que Trump tente assinar um acordo de paz com a Rússia, comprometendo potencialmente os objetivos estratégicos da Ucrânia e da Europa.
Duas componentes centrais envolvem a oferta de acesso do Ocidente às matérias-primas essenciais da Ucrânia e a proposta de substituição de algumas tropas americanas estacionadas na Europa por forças ucranianas quando a guerra terminar. Este último conceito alinha-se com a ênfase de Trump na redução dos compromissos diretos dos Estados Unidos no estrangeiro. Fontes ouvidas pelo FT revelam que Trump se mostrou recetivo a estas ideias.
Para além de assegurar o apoio militar, a Ucrânia está também a explorar incentivos económicos. Os líderes empresariais ucranianos discutiram a possibilidade de conceder a Trump poderes de “triagem de investimento”, permitindo-lhe controlar quem pode fazer negócios no país.
Uma pessoa envolvida no planeamento descreveu a ideia como “ABC – Anybody But China” (qualquer um menos a China), o que poderia ser particularmente apelativo para Trump. A ideia seria que as indústrias ucranianas dependentes da tecnologia chinesa, como as telecomunicações, fizessem acordos com fornecedores americanos.
Apesar destes esforços, as autoridades ucranianas e europeias receiam que a administração de Trump possa optar por um rápido acordo de paz com a Rússia. O Presidente russo, Vladimir Putin, animado pelos recentes sucessos obtidos no campo de batalha, poderá aproveitar a oportunidade para pressionar no sentido de obter condições favoráveis que ponham fim à guerra segundo os termos de Moscovo.
Os aliados na Europa estão também preocupados com o facto de, se Trump liderar as conversações de paz, o contributo europeu poder ser minimizado, limitando a influência do continente no resultado final.
Com o poder humano e de fogo superior da Rússia, Putin pode exigir grandes concessões, incluindo a redução da presença da NATO na Europa de Leste, que foi um dos principais temas discutidos nos meses que precederam o conflito.
Apelo ao ego de Trump
Esta mudança estratégica na abordagem da Ucrânia sublinha as frustrações com a administração cessante de Biden. Os responsáveis ucranianos, que há muito esperam um aumento da ajuda militar dos EUA, estão a apostar que Trump poderá estar mais aberto a apoiar a sua causa se os incentivos forem apelativos.
“O nível de insatisfação com a administração Biden era tal que sentiram que era altura de mudar e que esta mudança [para Trump] poderia talvez ser boa”, disse uma fonte envolvida no desenho do plano, que já está a ser preparado desde o verão.
Oleksandr Merezhko, presidente da comissão parlamentar dos negócios estrangeiros da Ucrânia, elogiou a aproximação a Trump, argumentando que esta apresenta a Ucrânia não como um “fardo”, mas como um aliado valioso. “Trump quer ser um vencedor, não um perdedor. Para ser um vencedor, tem de colocar Putin no seu lugar”, frisa.
No entanto, para obter o apoio total de Trump, Zelenskyy terá de dar sinais de abertura a negociações de paz com a Rússia, tendo de fazer um malabarismo delicado. Alyona Getmanchuk, diretora do New Europe Center, um grupo de reflexão sediado em Kiev, observou que qualquer abertura à paz por parte de Zelenskyy deve equilibrar os interesses nacionais “com as expectativas da opinião pública”.
Mesmo assim, apelar ao ego de Donald Trump pode ser um trunfo importante, já que Zelenskyy “pode dar a Trump a oportunidade de ser o maior defensor da paz de sempre“.
Uma medida que também estará em cima da mesa para apaziguar os aliados de Trump será a substituição da embaixadora da Ucrânia nos EUA, Oksana Markarova. Esta decisão surge na sequência das críticas da direção Republicana na Câmara dos Representantes, que desaprovou as recentes iniciativas diplomáticas de Markarova que só incluíam membros dos Democratas. Esta mudança de embaixador poderá servir para reforçar o empenhamento de Kiev no apoio bipartidário dos EUA.
Entretanto, Putin acolheu cautelosamente a disponibilidade de Trump para negociar, embora tenha reservas sobre a consistência das suas posições políticas. Antigos funcionários do Kremlin sugerem que muito dependerá dos conselheiros que Trump escolher para mediar as futuras negociações entre os EUA e a Rússia.
lamber botas? titulo de mau tom e mau gosto
A Adriana Peixoto tem de fazer um curso acelerado de jornalismo.
Que vergonha!
Chama-se a isto Realpolitik – não lamber botas. É uma prática já secular…