Preços negativos da energia podem tornar-se o “novo normal”

O crescimento da oferta devido às energias renováveis já originou mais de 7000 horas de energia grátis na Europa em 2024. Este fenómeno arrisca levar a um corte no investimento nas energias limpas.

Este ano, a Europa registou um número sem precedentes de horas com preços negativos de eletricidade, um fenómeno que atingiu mais de 7800 horas nos primeiros oito meses de 2024, segundo dados da consultora ICIS.

Este fenómeno impactou particularmente países como Finlândia, Suécia, Países Baixos, Alemanha, Bélgica, Dinamarca e França, com valores que chegaram a -20 euros por megawatt-hora em alguns períodos.

Em Portugal, a primeira ocorrência de preços negativos aconteceu em abril, representando um marco no mercado grossista ibérico (Mibel), onde produtores chegaram a pagar para injetar eletricidade na rede, algo inédito desde a criação do Mibel, em 2007.

O aumento dos preços negativos deve-se ao crescimento da geração de energia renovável, especialmente solar, que, em momentos de pico, supera a procura.

A Eurelectric, associação representativa das elétricas europeias, relatou que, entre janeiro e agosto de 2024, houve 1031 horas com preços negativos na Europa, o equivalente a 18% do total, contrastando com anos anteriores.

Para contextualizar, em 2018, foram registadas apenas 154 horas negativas, subindo para 821 horas em 2023, num sinal claro de que esta tendência está a acelerar, explica o Jornal de Negócios.

Embora os preços negativos possam, à primeira vista, parecer benéficos para os consumidores, a Eurelectric alerta para os riscos que esta situação representa para a sustentabilidade dos projetos de energias renováveis na Europa.

Kristian Ruby, secretário-geral da Eurelectric, explica que o desequilíbrio entre oferta e procura está a pressionar o setor, com a procura a diminuir devido a fatores como a poupança energética das famílias e o encerramento de várias indústrias em anos recentes.

No panorama dos preços médios de eletricidade, verificou-se uma queda expressiva desde o auge de 227 euros por megawatt-hora em 2022, para 74,8 euros nos primeiros oito meses de 2024. Ainda assim, estes valores permanecem elevados face aos níveis pré-crise.

Para solucionar o desafio dos preços negativos, Ruby defende a necessidade de eletrificar a indústria, aumentando assim a procura de eletricidade limpa, uma vez que o consumo industrial continua a depender fortemente de combustíveis fósseis.

“Não vemos os preços negativos como um fenómeno mau, em si mesmo, mas se for sempre assim será mais difícil investir. O que vemos é uma evolução muito significativa da frequência e permanência desses mesmo preços negativos”, conclui.

ZAP //

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