/

Noite de caos em Lisboa com autocarros queimados, tiros e petardos. “Inadmissível”, diz ministra

Miguel A. Lopes / Lusa

Autocarro queimado em desacatos no bairro do Zambujal na Amadora.

Autocarro queimado em desacatos no bairro do Zambujal na Amadora.

Os desacatos que começaram no bairro do Zambujal, na Amadora, após a morte de um morador baleado pela polícia, espalharam-se a várias zonas de Lisboa, com autocarros queimados, tiros e petardos. Dois polícias feridos, três detidos.

Verificaram-se vários “focos de desordem em várias zonas da Área Metropolitana de Lisboa”, nomeadamente em Carnaxide (Oeiras), Casal de Cambra (Sintra) e Damaia (Amadora), adiantou à Lusa uma fonte policial.

No geral, dois polícias ficaram feridos. Foram atingidos com pedras em Carnaxide e na Damaia.

No bairro da Portela, em Carnaxide, registaram-se disparos de tiros, alguns dos quais da parte da PSP, que utilizou balas de borracha para entrar na zona.

No concelho de Sintra, foi arremessado um objecto contra a esquadra da PSP de Casal de Cambra, sem causar danos.

Já na Damaia, houve desacatos em várias ruas, com o arremesso de petardos e de pedras na via pública, bem como fogo posto em vários caixotes do lixo.

Dois autocarros incendiados

No início da noite desta terça-feira, moradores do Bairro do Zambujal incendiaram um autocarro da Carris Metropolitana. Não houve feridos no âmbito do incidente.

A CNN Portugal adianta que o autocarro foi roubado durante a rota que fazia habitualmente, e que foi desviado para o bairro, onde acabou por ser incendiado.

Depois disso, ardeu outro autocarro na Portela de Carnaxide, num incidente que estará relacionado com a onda de violência que começou no Zambujal, conforme referiu o chefe da Área Operacional da PSP de Lisboa, Manuel Gonçalves, em declarações aos jornalistas.

Em Carnaxide, foram também incendiados vários caixotes do lixo.

O balanço da noite dá também conta de oito carros e um motociclo incendiados.

Viatura da PSP atacada a tiro

Uma Equipa de Intervenção Rápida da PSP também foi atacada a tiro nas imediações da Cova da Moura. O disparo terá sido feito com uma arma cujo uso é proibido a civis.

Duas viaturas da polícia terão também sido danificadas e dois agentes policiais terão sido agredidos.

“Inadmissível”

Já na manhã seguinte, nesta quarta-feira, a ministra da Administração Interna anunciou que três pessoas foram detidas.

Margarida Blasco classificou estas cenas como “distúrbios perfeitamente inadmissíveis”.

Margarida Blasco contou que já se realizou uma reunião de urgência do Sistema de Segurança Interna, na noite passada.

As forças de segurança estão, em conjunto, a “acompanhar e a repor a ordem pública”.

No entanto, a ministra não anunciou qualquer medida preventiva, qualquer reforço policial nas zonas em causa.

Revolta começou no bairro do Zambujal

Os desacatos começaram no bairro do Zambujal após a morte de um morador, Odair Moniz, de 43 anos, que foi baleado pela polícia no bairro da Cova da Moura, também na Amadora.

O superintendente Manuel Gonçalves apontou que os meios da PSP estão dispersos em vários pontos do concelho da Amadora e arredores, devido aos desacatos.

As forças policiais estão também a investigar para encontrar os responsáveis pelos desacatos, recorrendo ao auxílio das imagens de video-vigilância do concelho, referiu ainda Manuel Gonçalves.

Uma pessoa foi detida nesta terça-feira à noite por posse de material combustível no bairro do Zambujal.

Moradores não acreditam na versão da polícia

Odair Moniz foi atingido por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, e morreu pouco depois no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.

A direção nacional da PSP anunciou que o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial na Avenida da República, na Amadora.

Acabou por despistar-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, terá “resistido à detenção” e tentado agredir os agentes com uma “arma branca”, ainda segundo a PSP.

“O Odair não fazia isso”

“Todas as pessoas aqui no Zambujal dizem que era quase impossível ele fazer isso“, referiu, contudo, o presidente da Associação de Moradores do Bairro do Zambujal, Gilberto Pinto, em declarações ao Expresso.

“Não era a maneira de ser dele, não eram os valores que ele tinha, ele não fazia isso. Ninguém aqui acredita nisso”, sublinhou Gilberto Pinto que salienta que Odair “fazia trabalho voluntário na associação” e que ajudava pessoas com dificuldades.

A provar como era uma pessoa querida e respeitada no bairro, Gabriel Pinto destacou que “pessoas de todas as etnias choraram e pediram justiça” juntas.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa também contestaram a versão policial e exigem uma investigação “séria e isenta”, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.

De acordo com os relatos recolhidos no bairro pelo Vida Justa, o que houve foram “dois tiros num trabalhador desarmado”.

Vizinhos acusam polícia de “invadir a casa do morto”

Os vizinhos de Odair Moniz acusam a PSP de ter entrado na casa da família da vítima “sem qualquer justificação”.

“A polícia invadiu a casa do morto“, denuncia Delfina, moradora no bairro do Zambujal, à agência Lusa.

Fonte da PSP nega que tenha entrado na casa da família da vítima, garantindo que entrou na residência de um vizinho para apoiar os Bombeiros Voluntários da Amadora que foram dar apoio médico a uma criança.

Polícia que matou constituído arguido

O agente que baleou o homem foi, entretanto, constituído arguido, indicou fonte da Polícia Judiciária.

Será um polícia na casa dos 20 anos que “está a gozar, por ordem superior, uns dias de férias em casa”, segundo o Correio da Manhã.

O Ministério da Administração Interna determinou à Inspecção-Geral da Administração Interna a abertura de um inquérito urgente.

A PSP também anunciou a abertura de um inquérito interno para apurar as circunstâncias da morte.

ZAP // Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.