Estónia prepara-se para o “pior cenário” e simula fuga da população em caso de invasão russa

População acredita que a Rússia pode levar a guerra na Ucrânia até aos países bálticos. Liga de Defesa da Estónia tem cerca de 30 mil voluntários que organizam estratégias de proteção civil.

Os cidadãos da Estónia acreditam cada vez mais que o seu país pode ser alvo de uma invasão militar estrangeira — e o governo já está a treinar a sua população para se proteger, caso uma guerra ecluda na região.

Juntamente com outros Estados Bálticos, o país admite que um esgotamento da guerra na Ucrânia pode levar a Rússia a avançar sobre outras nações.

Como parte do treino, um exercício de evacuação teve lugar no início deste mês na pacata cidade de Abja-Paluoja, no sul da Estónia. O teste fez parte de um cenário fictício que simulou rotas de fuga da população civil em caso de invasão estrangeira.

O Conselho de Resgate da Estónia, principal agência de proteção civil do país, e a Liga de Defesa da Estónia (Kaitseliit), uma organização voluntária de defesa nacional, participaram no exercício — o maior do género já realizado no país. Mais de 200 dos mil habitantes do município participaram na simulação.

“Não é segredo onde estamos a viver. Não estamos sozinhos na região do Báltico”, comentou Raul Kütt, comandante da divisão sul da Liga de Defesa da Estónia. “O mesmo se aplica à Letónia e à Lituânia. E não sabemos qual será o desfecho do conflito na Ucrânia. Pode espalhar-se? Para estarmos preparados para o pior cenário, ainda temos tempo para praticar este tipo de atividades.”

Uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Defesa da Estónia mostra que quase 40% da população considera provável um ataque militar em grande escala ao país – 10% a mais do que em 2023.

Medo de uma invasão russa

A mesma pesquisa sugere também que 60% dos cidadãos estão dispostos a defender o seu país. A Estónia possui apenas 6.500 militares no ativo, numa população de 1,3 milhões e, por isso, depende de reservas e voluntários, como os que atuam na Kaitseliit.

A professora de jardim de infância Liis Pariis, de 43 anos, é uma das voluntárias da Liga de Defesa. Tendo-se filiado à organização feminina da Liga há dois anos, supervisiona a receção e acomodação de civis num centro desportivo de Abja-Paluoja. Ver as imagens da guerra na Ucrânia fê-la questionar o que faria pela própria segurança se o mesmo acontecesse na Estónia.

Tenho uma filha de três anos em casa, e as crianças fazem-nos pensar: ‘Como posso estar lá para elas?’

Vários homens da sua família já eram membros da Liga de Defesa quando decidiu associar-se também. Após receber treino militar, médico e de segurança civil, entrou para a equipa de evacuação.

Invasão russa aumentou número de voluntários

Atualmente, a Liga de Defesa da Estónia tem mais de 30 mil membros. Deste total, 5 mil juntaram-se ao grupo após o início da invasão na Ucrânia, em 24 de Fevereiro de 2022.

“Não precisei de convencê-los. Só tive de encontrar um papel adequado e fornecer oportunidades suficientes de treino”, contou o comandante da Kaitseliit, Ilmar Tamm.

Os voluntários são trabalhadores, professores e médicos que contribuíram com o exercício de evacuação. “Enquanto a Rússia estiver ocupada na Ucrânia, ainda temos esse tempo.” Para si, “a Estónia estará sempre pronta para se defender, mas há sempre espaço para melhorias.”

A Estónia gasta 3,4% do seu PIB em defesa, um valor acima da meta de 2% estabelecida pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). Proporcionalmente, é o segundo maior orçamento militar da aliança, apenas atrás da Polónia.

Além de lidar com tarefas logísticas, os voluntários da Liga são treinados para fornecer ajuda psicológica e médica em situações como uma eventual invasão. Juntamente com a Cruz Vermelha da Estónia, organizam oficinas de primeiros socorros para os participantes do exercício.

“Por um lado, é assustador, porque poderia ser uma situação real”, diz Helena, uma gestora de Tartu, no leste da Estónia. “Mas, neste momento, é interessante, porque estamos a adquirir muito conhecimento sobre primeiros socorros.”

O que a Ucrânia ensina

O chefe de gestão de catástrofes da Cruz Vermelha da Estónia, Kirill Badikin, enfatiza a importância destas atividades: “Os ucranianos dizem que, se a população soubesse como usar conhecimentos de primeiros socorros, muitas vidas teriam sido salvas.”

Na sala ao lado, colegas do Conselho de Resgate da Estónia oferecem outros treinos. Ensinam a fazer fogo, a produzir eletricidade, a preparar as mochilas com itens essenciais, e onde encontrar abrigo em caso de emergência.

Em setembro, uma delegação do Conselho de Resgate da Estónia visitou a Ucrânia. “O mais importante é que saibamos o que fazer”, frisa Arvi Uustalu, chefe do Departamento de Prevenção do Conselho de Resgate da Estónia.

Desde que se juntou à Liga de Defesa da Estónia, Liis Pariis sente-se muito mais segura, até mesmo na sua vida quotidiana, e espera nunca ter que organizar uma evacuação real – seja por causa de uma guerra ou de um desastre natural. Mas, se acontecer, está preparada.

ZAP // DW

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