Porta-voz do Livre até iria falar sobre a habitação, mas abordou escutas, Nuno Melo e as “migalhas” que o Governo deixa.
O porta-voz do Livre, Rui Tavares, acusou neste domingo o Governo de estar a negociar “migalhas” com os restantes partidos no Parlamento, no âmbito da preparação do Orçamento do Estado para 2025.
“Se o Governo diz que não vai mexer no IRC das grandes empresas e no IRS jovem de quem ganha mais (…), depois de termos gastado o dinheiro todo nisto, vamos discutir com os outros partidos no Parlamento as migalhas. É uma estranha forma de governar para um Governo que não tem maioria. Parece que querem mesmo criar uma crise política e ir para eleições“, disse Rui Tavares.
O deputado e porta-voz do Livre falava aos jornalistas em Aveiro, à margem do encerramento de “Os Setembrinas”, iniciativa que marca a ‘rentrée’ política do partido.
Rui Tavares defendeu que é preciso negociar um Orçamento no qual o Parlamento esteja todo representado, afirmando que já devia haver “um compromisso de equidade e investimento” para saber como utilizar o excedente orçamental.
“Os partidos que têm os votos suficientes para fazer passar um orçamento têm de ter as suas cartas na mesa e o Governo tem de negociar a sério e não apenas nas migalhas”, vincou.
Tavares referiu ainda que o Governo está “inamovível” na ajuda aos mais beneficiados, afirmando que o Livre continuará inamovível “nas políticas que interessam a todos, em particular aos que são mais desfavorecidos pela sorte familiar”.
Escândalo e Melo
No discurso de encerramento, Rui Tavares considerou ainda “um escândalo” o número de escutas realizadas em 2023 – mais de 10 mil – que foi avançado na semana passada pela Procuradora-Geral da República, na sua audição no Parlamento, a propósito da apresentação do relatório de 2023 do Ministério Público.
“Há mais pessoas a serem escutadas neste país do que eleitores de alguns partidos, ou adeptos de alguns clubes de futebol, ou de uma cidade de tamanho já considerável. É preciso haver quem diga claramente que isto é um escândalo“, ironizou, referindo que o Livre vai exigir um esclarecimento sobre este tema, na primeira Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.
Para Tavares, as escutas devem ser permitidas apenas por “razões muito restritas de investigação criminal, de ameaça iminente de ataque terrorista”.
“É preciso que se perceba em que condições, de que forma, com que tipo de reporte e supervisão é que pessoas são escutadas em Portugal”, defendeu.
O deputado do Livre também foi questionado sobre as declarações de Nuno Melo, que disse que Olivença “é portuguesa”, mas mais tarde assegurou que foi uma opinião só sua, não do Governo.
Rui Tavares analisou: “As declarações não são o pior. É que houve uma emenda pior do que o soneto. Depois de ter dito algo que é a posição do direito internacional e que é a posição histórica do Estado português vem dizer que essa posição foi emitida a título pessoal e não vincula o resto do Governo”.
“Qualquer pessoa de má vontade podia dizer: então o senhor é o único ministro deste Governo que acha que Olivença é portuguesa? É que isso é que seria uma grande novidade. O soneto já não era grande coisa. A emenda então é pior do que o soneto”, reforçou.
Rui Tavares anunciou ainda que as primeiras jornadas parlamentares do Livre vão ter lugar em Elvas, nos próximos dias 23 e 24.
Refira-se que este evento teria como foco a habitação e até contou com a presença de Marina Gonçalves, que foi ministra da Habitação – mas quase não se falou sobre esse assunto no palco, como descreve a RTP.
ZAP // Lusa