“Está na altura de concluir esse acordo” de cessar fogo, avisam os Estados Unidos. Primeiro-ministro israelita já avisou que não cederá a pressões: “Perdeu o rumo e vê-se a si mesmo como o Estado. E isso é perigoso”.
Os Estados Unidos apelaram esta terça-feira às partes em conflito em Gaza para mostrarem flexibilidade perante a urgência de concluir um acordo de cessar-fogo após a morte de seis reféns, comprometendo-se a prosseguir os seus esforços nos próximos dias.
“Ainda há dezenas de reféns na Faixa de Gaza, à espera de um acordo que os leve de volta a casa. Está na altura de concluir esse acordo”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, à comunicação social.
“A população israelita não pode dar-se ao luxo de esperar mais tempo. O povo palestiniano, que também está a sofrer os terríveis efeitos desta guerra, não pode dar-se ao luxo de esperar mais. O mundo não pode dar-se ao luxo de esperar mais tempo”, afirmou.
O próprio Presidente norte-americano, Joe Biden, cujo país é o principal aliado de Israel, criticou Netanyahu por não ter ainda feito a sua parte para alcançar um acordo com o Hamas.
Miller precisou que “no decurso dos próximos dias, os Estados Unidos continuarão a empenhar-se, juntamente com os seus parceiros na região, para alcançarem um acordo final”, referindo-se às negociações sob a égide dos mediadores— Estados Unidos, Qatar e Egito — para um acordo de cessar-fogo associado a uma libertação de reféns.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou em meados de agosto que Israel aceitou uma proposta de cessar-fogo em Gaza e libertação de reféns, e apelou ao movimento islamita palestiniano Hamas para fazer o mesmo.
Netanyahu não cederá a pressões
O Exército israelita anunciou no domingo que seis reféns tinham sido encontrados num túnel em Gaza, mortos, na sua opinião, “à queima-roupa” pelo movimento islamita palestiniano Hamas, aumentando a pressão sobre o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para concluir um acordo.
Contudo, Netanyahu avisou que não cederá a pressões, afirmando querer manter a pressão militar sobre o Hamas, no 11.º mês da guerra desencadeada pelo ataque de 7 de outubro do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) em território israelita, que fez 1.194 mortos, na maioria civis, e 251 reféns, 97 dos quais continuam em cativeiro, 33 deles entretanto declarados mortos pelas autoridades israelitas.
“Perdeu o rumo”
O opositor israelita e antigo membro do gabinete de guerra, Benny Gantz, defendeu que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, “perdeu o rumo” e está a confundir os interesses pessoais com os do país.
“Perdeu o rumo e vê-se a si mesmo como o Estado. E isso é perigoso“, disse Gantz durante o seu discurso na conferência anual da Ordem dos Advogados de Israel, no qual censurou Netanyahu por querer “sobreviver no poder a qualquer preço”, de acordo com o jornal The Times of Israel.
Gantz criticou, por outro lado, aqueles que descreveram Netanyahu como um assassino.
“Netanyahu não é um assassino e condeno que isto seja incitado contra ele”, declarou o antigo ministro da Defesa, acrescentando que assassinos são o líder do Hamas, Yahya Sinwar, e a Guarda Revolucionária Iraniana.
Protestos continuam
Em Telavive e Jerusalém, realizaram-se manifestações com milhares de pessoas, acompanhadas de uma greve em várias cidades, para exigir um acordo que permita a libertação dos reféns ainda detidos na Faixa de Gaza.
Um dos principais pomos de discórdia é a insistência do chefe do Governo israelita em que as tropas israelitas mantenham o controlo de um corredor ao longo da fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito.
“Nós opomo-nos à presença a longo prazo de tropas das Forças Armadas de Israel em Gaza”, reafirmou o porta-voz da diplomacia norte-americana.
“A conclusão de um acordo exigirá das duas partes que ambas deem provas de flexibilidade. Será necessário que as duas partes procurem razões para dizer sim, ao invés de razões para dizer não”, sustentou.
A guerra, que esta terça-feira entrou no 333.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 40.819 mortos (quase 2% da população) e 94.291 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros após mais de dez meses e meio de guerra, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
O conflito causou também cerca de 1,9 milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer vítimas — “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
ZAP // Lusa
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