Estranhas coincidências no naufrágio do iate de luxo na Sicília. Homicídio negligente investigado

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EPA / Perini Navi Press Office

O iate de luxo Bayesian em Palermo, Sicília, Itália.

O iate de luxo Bayesian em Palermo, Sicília, Itália, antes do naufrágio.

Foi encontrado o último desaparecido do naufrágio do iate de luxo Bayesian ao largo da Sicília. Estão confirmadas sete mortes e as autoridades italianas estão a investigar a possibilidade de homicídio por negligência.

O Ministério Público italiano está a examinar as circunstâncias do acidente que matou seis pessoas depois de uma violenta tempestade ter afundado o iate de luxo, para tentar perceber o que causou o naufrágio.

A hipótese de erro humano é a que ganha mais força, nesta altura, com uma fonte próxima da investigação a revelar ao jornal The Times que estão a seguir a pista de homicídio involuntário, ou homicídio por negligência.

O magistrado do Ministério Público responsável pelo caso, Raffaele Cammarano, refere ao Giornale di Sicília que o que aconteceu foi “repentino e inesperado” numa noite para a qual não havia qualquer alerta de tempestade.

O iate foi “atingido por um downburst”, um fenómeno meteorológico marcado por fortes rajadas de vento que podem atingir velocidades superiores a 100 km por hora, salienta ainda Cammarano.

Nesta altura, já foram recuperados os corpos dos seis passageiros que estavam desaparecidos – o magnata da tecnologia Mike Lynch e a filha de 18 anos, o presidente do banco Morgan Stanley International Jonathan Bloomer e a esposa, o advogado Chris Morvillo e a esposa.

A sétima vítima mortal foi o cozinheiro do barco que estaria a fazer a sua última viagem de trabalho, antes de se reformar.

Entretanto, há uma circunstância particular que liga Lynch, Bloomer e Morvillo, e que está a alimentar a imaginação dos adeptos de teorias da conspiração.

Viagem no Bayesian para celebrar vitória na justiça

Mike Lynch era conhecido como o “Bill Gates Britânico” pelo sucesso que fez com a empresa Autonomy que co-fundou e que se destacou como uma das mais relevantes do Reino Unido na área do software.

Em 2011, Lynch vendeu a Autonomy à gigante norte-americana Hewlett-Packard (HP) por 11 mil milhões de dólares. Mas, depois do negócio concretizado, a HP acusou Lynch de ter “cozinhado” as contas da Autonomy para que a venda se fizesse por mais 5 mil milhões de dólares do que esta valia.

O magnata britânico foi, então, acusado de fraude e chegou a ser extraditado para os EUA, onde passou um ano em prisão domiciliária.

Lynch sempre defendeu a sua inocência e após uma batalha de mais de uma década, acabou por ser inocentado pela justiça norte-americana.

A viagem no Bayesian seria para comemorar a absolvição das acusações de fraude nos EUA, e, para isso, convidou o advogado que o defendeu no processo, Morvillo, e Bloomer que foi sua testemunha de defesa no caso.

Morvillo é especializado em casos de fraude e corrupção, representando várias figuras públicas, e enquanto foi Procurador Federal em Nova Iorque, trabalhou na investigação aos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001.

Bloomer foi nomeado para o Conselho de Administração da Autonomy em 2010, onde desempenhou as funções de presidente do Comité de Auditoria quando se deu o negócio com a HP.

Outra estranha coincidência…

Em mais uma coincidência peculiar, outro ex-executivo da Autonomy, Stephen Chamberlain, que foi absolvido juntamente com Lynch das acusações de fraude, morreu dois dias antes do naufrágio do Bayesian.

Chamberlain “foi mortalmente atropelado por um carro enquanto corria”, refere o seu advogado Gary Lincenberg num comunicado citado pela Associated Press (AP News).

O acidente terá sido causado por uma mulher de 49 anos na aldeia de Stretham, em Inglaterra.

Chamberlain era o antigo vice-presidente financeiro da Autonomy e foi acusado de inflaccionar artificialmente as receitas da empresa, e de fazer declarações falsas e enganosas a auditores, analistas e reguladores.

O atropelamento está a ser investigado como acidental, e agora, admite-se que pode ter havido um erro humano na tragédia do Bayesian – qual a probabilidade de tantas coincidências acontecerem ao mesmo tempo?

Dona do Bayesian é a mulher de Lynch que sobreviveu

O Bayesian é detido pela empresa Revtom Limited que pertence integralmente à mulher de Lynch, Angela Bacares, de 45 anos, que também estava no iate, mas que escapou com vida do naufrágio.

O nome do iate terá sido inspirado na teoria de Bayesian que Lynch abordou na sua tese de doutoramento e que serviu de base ao software com que fez fortuna.

A teoria de Bayesian baseia-se em estatísticas e é usada há mais de dois séculos para calcular as possibilidades de um determinado evento acontecer com base em dados e na experiência do conhecimento prévio. Mais uma estranha coincidência?

Susana Valente, ZAP //

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