Uma aplicação para smartphone usa apenas o microfone do telemóvel para monitorizar os batimentos do coração e potencialmente encontrar doenças.
Quando tinha apenas 11 anos de idade, o pai de Roeland Decorte começou a sentir fortes dores no peito. Apesar das visitas a dois médicos, que após breves exames consideraram os sintomas como ansiedade, foi apenas um exame completo num hospital privado que revelou a verdadeira causa – um pequeno mas potencialmente mortal buraco no coração.
Este quase acidente iria moldar o futuro de Decorte, despertando a sua paixão por encontrar melhores formas de diagnosticar problemas de saúde críticos.
Aos 17 anos, Decorte já era estudante na Universidade de Cambridge, onde se especializou em decifração de códigos antigos. Apesar da sua promissora carreira académica, não conseguia esquecer o diagnóstico errado do seu pai. A ideia de que um exame mais minucioso poderia ter salvo o seu pai de meses de incerteza levou-o a aplicar as suas competências em decifrar os complexos ritmos do coração humano.
Em 2019, com 27 anos de idade, Decorte fundou a Decorte Future Industries, uma empresa dedicada a utilizar a IA para interpretar os sinais do corpo com maior precisão do que nunca. O seu objetivo era criar tecnologia que pudesse monitorizar continuamente e com precisão os sinais vitais, tornando o diagnóstico precoce mais acessível e menos dependente de visitas apressadas ao médico.
As tentativas iniciais de Decorte envolveram a integração de sensores na roupa e o desenvolvimento de um exoesqueleto cheio de dispositivos de monitorização. No entanto, rapidamente se apercebeu que estas soluções eram impraticáveis devido à interferência causada pelos movimentos do dia a dia.
A descoberta veio quando conheceu a estudante de doutoramento Erika Bondareva durante a pandemia de COVID-19. Bondareva tinha desenvolvido um software capaz de diagnosticar a COVID através da análise do áudio da tosse, o que inspirou Decorte a repensar a sua abordagem.
Decorte e Bondareva exploraram o potencial de utilizar apenas o áudio para detetar problemas de saúde. Juntos descobriram que, com algoritmos sofisticados para filtrar o ruído de fundo, um simples microfone podia captar os sinais subtis do corpo com grande precisão.
Isto levou à criação de uma tecnologia capaz de diagnosticar uma série de doenças, desde problemas cardíacos até ao cancro do estômago, utilizando apenas o microfone de um smartphone, detalha a revista WIRED.
Atualmente, a tecnologia da Decorte está na vanguarda de uma revolução nos cuidados de saúde através do áudio. Ensaios clínicos demonstraram que o seu sistema consegue fazer corresponder as leituras de eletrocardiogramas com uma precisão de 99,6%, tudo através do simples microfone do telemóvel.
As aplicações potenciais são vastas, com a possibilidade de diagnosticar doenças relacionadas com a fala, a marcha e até os níveis de açúcar no sangue.