Todas as línguas têm palavras como “isso” ou “aquilo” para distinguir algo que é próximo ou distante — e em todos os idiomas funcionam como poderosas ferramentas de atenção.
Os demonstrativos – como “isso” ou “aquilo” – têm uma forte ligação à cognição social, sendo usados para direcionar a atenção do ouvinte para um referente e estabelecer atenção conjunta.
“Envolver-se na atenção conjunta é uma capacidade exclusivamente humana que liga a linguagem à cognição social na comunicação.
Como os demonstrativos são universais, tendo surgido no início da evolução da linguagem e adquiridos no início do desenvolvimento infantil, oferecem um caso de teste ideal para a interdependência entre essas duas capacidades fundamentalmente humanas”, explica a investigadora Paula Rubio-Fernández.
O que os cientistas não sabiam era se direcionar a atenção do ouvinte faz parte do significado (semântica) dos demonstrativos ou se surge de princípios gerais da cognição social (pragmática).
Para descobrir, a equipa usou modelagem computacional e diversas experiências com falantes de dez idiomas diferentes de oito grupos linguísticos distintos.
Numa das tarefas, realizada online, os participantes viram fotos de um orador a pedir um objeto de um ouvinte, que estava do outro lado de uma mesa comprida. Convidados a assumir o papel de falante, os voluntários tiveram de escolher um demonstrativo da sua língua nativa para solicitar o objeto.
Nas fotografias, o ouvinte já estava a olhar para o objeto pretendido ou para um dos quatro outros objetos (mais perto ou mais longe do alvo).
Se direcionar a atenção faz parte do significado, todos os falantes deviam ser sensíveis à atenção inicial do ouvinte ao selecionar um demonstrativo. No entanto, os cientistas partiram do princípio de que havia variação conforme o idioma.
Segundo o EurekAlert, os resultados mostraram que, além de sensíveis à localização do alvo, os participantes eram também sensíveis à atenção do ouvinte.
Como esperado, o significado dos demonstrativos variou entre os idiomas. O demonstrativo ‘próximo’ (como o ‘this’, em inglês) tem, por vezes, um significado espacial (‘aquele perto de mim’); um significado de atenção conjunta (‘aquele para o qual ambos estamos a olhar); ou um significado “mentalista” (“aquele aqui”), direcionando a atenção do ouvinte para o falante.
Curiosamente, os falantes de línguas com um sistema de três palavras usavam a palavra medial (como o português “esse”) para indicar atenção conjunta.
“Mostramos que as representações da atenção do interlocutor estão embutidas numa das classes de palavras mais básicas que aparecem em todas as línguas: os demonstrativos”, concluiu Rubio-Fernández.
O artigo científico foi recentemente publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences.