Muita gente não sabe, mas eram eles quem cantavam cassetes de êxitos que eram vendidas nas feiras. Noutros tempos.
Os cantores “pimba”, que na verdade são cantores de música popular portuguesa, começaram a ser “pimba” a meio da década 1990. A “culpa” foi de Emanuel, por causa da sua Pimba Pimba.
Mas o que pouca gente sabe é que o sucesso – e o lucro – de alguns desses cantores começou uns anos antes.
Não, não foi no Festival da Canção, quando José Alberto Reis recordou Carlos Paião nas suas Palavras Cruzadas em 1989, ou quando Toy cantou Mais e mais no ano seguinte, ou quando Emanuel levou Com muito amor em 1991.
O sucesso começou nos anos 80 do século passado por causa de cassetes nas feiras.
João Bonifácio, que era jornalista ligado à música, revelou algo que os próprios cantores lhe contaram.
“Os Toys e os Emanuéis” – entre outros, como o compositor Ricardo Landum – começaram a ter sucesso quando passou a haver um leitor de cassetes em milhares de casas em Portugal.
Leitores que até eram vendidos à beira de melões e cuecas, nas feiras.
O acesso à música tinha-se tornado democrático e “eles tinham olho”, conta João na RTP.
Por isso, recuperaram por exemplo sucessos dos anos 60 e gravaram cassetes com versões desses êxitos.
Não tinham nome da banda na cassete; ou era um nome inventado.
Eram cassetes vendidas nas feiras, baratas, e naquela altura “toda a gente ia à feira, não havia muitos hipermercados, nem havia leis da União Europeia” a proibir a venda de determinado produto em determinado local; as pessoas iam à feira e compravam uma cassete.
Chegaram a gravar uma cassete inteira baseada na famosa Lambada, que era um sucesso dos Kaoma na altura.
“E ganharam dinheiro com isto. Perceberam que havia um circuito de cassetes, com custo baixo, que vendia depressa e vendia muito“, continua o jornalista.
No entanto, ainda hoje João Bonifácio tem uma dúvida… “Não sei se pagaram os direitos de autor. Nem me interessa, pouco importa”.
Toy confirma
O próprio Toy confirmou a parte da Lambada. Ele e Ricardo Landum criaram uma cassete só de Lambadas – embora só a primeira faixa fosse fotocópia da original (que por sua vez não era uma melodia dos Kaoma, mas sim dos Los Kjarkas).
Quatro lambadas cada um, oito faixas, uma banda fictícia chamada Camuta e cassete feita.
Aqui está um exemplo, precisamente com a voz de Toy:
“Enquanto os Kaoma venderam 30 mil cópias, nós vendemos mais de 1 milhão. Foi um achado para ganhar algum dinheirinho em direitos de autor, deu muito jeito”, admite Toy.
Hoje, Toy e Emanuel já têm 30 anos de carreira cada um. Os dois acumulam quase 5 milhões de cópias vendidas.
Esta popularidade feita à custa de músicas copiadas de artistas desconhecidos para nós (mas muito populares em especial na América do Sul) foi utilizada por todos programas de televisão de “entretenimento” de todos os canais para atrair audiências e veio normalizar uma música péssima. da mais baixa qualidade imaginável . A insistência de décadas nesta bosta em forma de música veio “ensinar” , especialmente aos mais novos, que aquilo é música e música tão boa que até passa na Televisão”. O oportunismo de uns, a falta de vergonha de outros e o prejuízo cultural de todos. Triste.