Uma alteração grave da força gravitacional, que demorou apenas 4,6 segundos e resultou numa queda de 55 metros de altitude, “causou provavelmente a morte de um passageiro e os ferimentos na tripulação e passageiros”, revela o relatório do acidente da semana passada num voo da Singapore Airlines.
É provável que os passageiros e o sector das viagens aéreas demorem muito tempo a recuperar do choque provocado pelo voo da Singapore Airlines, na semana passada, que sofreu uma turbulência que causou uma morte e dezenas de hospitalizações.
Mas a maior parte dos danos foi provocada em menos de cinco segundos, de acordo com uma investigação preliminar do Transport Safety Investigation Bureau de Singapura.
Um resumo das conclusões iniciais do inquérito, divulgado esta quarta-feira, revelou que uma alteração grave da força gravitacional, que demorou apenas 4,6 segundos e resultou numa perda de 55 metros de altitude, “causou provavelmente os ferimentos na tripulação e nos passageiros”.
O voo SQ321 da companhia singapurense, que viajava de Londres para Singapura a 20 de maio, com 211 passageiros e 18 tripulantes, estava a voar normalmente até passar sobre o sul de Myanmar a uma altitude de 37.000 pés e começar a sentir uma “ligeira vibração“.
Durante cerca de 19 segundos, conta a revista Time, enquanto o avião se deparava com esta turbulência inicial, provavelmente causada por uma corrente de ar ascendente, subiu “sem comando” cerca de 110 metros — movimento que o piloto automático tentou corrigir, inclinando o avião para baixo.
Ao mesmo tempo, os pilotos observaram um aumento “não comandado” da velocidade do ar, ao qual responderam estendendo os travões de velocidade. O relatório acrescenta que, nessa altura, “ouviu-se um piloto dizer que o sinal de apertar o cinto de segurança tinha sido ativado”.
Cerca de oito segundos mais tarde, o avião sofreu uma “mudança rápida” na força gravitacional (G), uma vez que a aceleração vertical registada diminuiu de +1,35G para -1,5G no espaço de 0,6 segundos.
“Isto fez provavelmente com que os ocupantes que não tinham o cinto de segurança ficassem suspensos no ar“, refere o relatório.
Nos 4 segundos seguintes, a força gravitacional mudou novamente de -1,5G para +1,5G, o que, segundo o relatório, “provavelmente fez com que os ocupantes que estavam no ar voltassem a cair“. No final do período de 4,6 segundos de mudanças drásticas de G, o avião tinha caído para uma altitude de 11 mil metros.
Os pilotos tentaram estabilizar o avião, que continuou a sofrer mais turbulência, embora menos intensa, “desactivando o piloto automático” e “controlando-o manualmente” durante 21 segundos, antes de o avião voltar à sua altitude normal, cerca de um minuto após a turbulência inicial.
Cerca de 17 minutos mais tarde, depois de se ter verificado que havia feridos que necessitavam de cuidados médicos, os pilotos iniciaram a descida do avião para uma aterragem de emergência no aeroporto tailandês de Suvarnabhumi.
Na quarta-feira, 42 passageiros que se encontravam a bordo do voo ainda se encontram em Banguecoque, incluindo 26 que ainda estão a receber tratamento hospitalar, informou a Singapore Airlines num comunicado.
As investigações estão ainda a decorrer.
Num comunicado separado, a Singapore Airlines, que anunciou anteriormente que está a rever a sua política de cintos de segurança a bordo, disse que “reconhece” as conclusões preliminares do departamento de segurança dos transportes e está a “cooperar plenamente” com todas as autoridades competentes.
Nos últimos anos, incidentes com turbulência causaram dezenas de feridos — entre outros, em voos da Air Canadá, Hong Kong Airlines e Malaysia Airlines, e num voo Ilhas Maurícias – Madrid contratado por um operador turístico.
A turbulência aérea, que continua a ser um dos maiores mistérios da Física, está a tornar-se mais frequente — e o aquecimento global pode ser uma das causas.
Em fevereiro, a startup austríaca Turbulence Solutions anunciou um sistema de Cancelamento de Turbulência capaz de reduzir as ondas de turbulência sentidas pelos passageiros em mais de 80%, pode potencialmente erradicar toda a turbulência e trazer voos mais suaves.