A incrível e terrível evasão de “Mosca” (o homem mais procurado de França)

Centenas de polícias procuram Mohamed Amra, conhecido como “A Mosca”, depois de ter sido libertado por um grupo de homens armados, num ataque a uma carrinha prisional. Dois guardas morreram e três ficaram feridos.

Foi um ataque-relâmpago que demorou cerca de três minutos numa cena só habitual nos filmes e que deixou França em choque.

Um grupo de homens encapuzados libertou o criminoso Mohamed Amra que é conhecido como “A Mosca” e que terá ligações ao tráfico de droga.

O ataque de “indescritível selvajaria”, como o classifica o jornal francês Le Figaro, levou à morte de dois guardas prisioneiros – um tinha dois filhos e o outro deixa a mulher grávida de cinco meses. Outros três ficaram feridos.

Agora, continua a caça ao homem numa grande operação que conta com centenas de polícias mobilizados, com o apoio de meios aéreos. A Interpol também está alerta.

Fugitivo tinha tentado serrar as grades da cela

O ataque ocorreu em Eure, departamento da região da Alta Normandia, no norte de França, e foi feito com armas de guerra e de forma tão precisa que indicia o “profissionalismo” dos envolvidos.

Amra estava a ser deslocado da prisão de Évreux para o tribunal de Rouen para uma audiência com um juíz de instrução depois de, no passado domingo, ter tentado serrar as grades da sua cela para fugir.

A fuga acabou por dar-se de forma muito mais espectacular – e terrível.

Na evasão, participaram dois veículos, um dos quais tinha sido roubado alguns dias antes e que embateu numa das carrinhas prisionais. Nessa altura, homens armados, vestidos de preto e com a cara tapada, saíram dos carros e abriram fogo contra as duas viaturas prisionais.

O ataque ocorreu na auto-estrada A154, perto da portagem de Incarville, nesta terça-feira.

Entretanto, os dois carros usados no ataque foram encontrados queimados e estão a ser alvo de perícias forenses.

O caso está entregue “à nata da polícia” francesa, segundo o Le Figaro, incluindo a Brigada Nacional de Busca de Fugitivos, a secção anti-gangues e as brigadas de repressão ao banditismo de Rennes e Nantes.

Mas quem é Mohamed Amra, ou “A Mosca”?

Mohamed Amra, de 30 anos, é um criminoso reincidente com “uma longa ficha criminal”, como adianta o Le Figaro. Nascido em Rouen, no norte de França, já conta com 13 condenações – a primeira aconteceu quando tinha apenas 15 anos.

Na semana passada, foi condenado a 18 meses de prisão por roubo, mas é suspeito em vários outros casos, nomeadamente por homicídio cometido por gangue organizado, tentativa de homicídio e sequestro.

A agência Reuters confirmou junto de fontes policiais que Amra é considerado um “actor de nível médio no tráfico de drogas de França, com ligações ao poderoso gangue “Blacks” de Marselha“.

Estará também a ser investigado desde 2023, em Marselha, por “assassinato colectivo organizado, sequestro de reféns e participação em associação criminosa com vista à prática de um crime”.

Em 2022, foi condenado a três anos de prisão por associação criminosa e por roubo. Dois anos antes, em 2020, foi condenado a 3 meses de prisão por “rodeos motorizados”.

Apesar deste vasto “currículo” criminal, “A Mosca” não estava classificado como um recluso que precisasse de especial vigilância. Por isso, a sua transferência entre o tribunal e a prisão de Évreux só contou com a participação de cinco guardas prisionais.

“Vão pagar pelo que fizeram”

O caso deixou França consternada e o primeiro-ministro Gabriel Attal já deixou uma promessa. “Vão pagar pelo que fizeram”, assegurou, falando de um ataque à “ordem republicana” do país.

“Estamos atrás de vocês, vamos encontrar-vos e condenar-vos“, avisou ainda Attal num recado aos foragidos.

“Quando os questionarmos, também colocaremos em julgamento esta selvageria que afecta a nossa sociedade“, acrescentou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, sublinhando que os franceses estão “chocados pela violência deste ataque”.

Darmanin referiu ainda que há “meios sem precedentes” no terreno para apanhar “A Mosca” e o grupo que o ajudou em “condições vis”.

O ministro também notou que a violência do tráfico de droga não é “só para filmes”. “Não há romantismo no tráfico, apenas assassinatos, massacres, crianças entre 14 e 15 anos que são torturadas em porões porque não querem causar estragos”, referiu aos jornalistas.

Não podemos chorar pelas viúvas e órfãos da portagem de Incarville e continuar a fumar o nosso charro“, sublinhou também Darmanin, constatando que “o narco-banditismo mata muito mais do que o terrorismo”.

Extrema-direita fala em “quase guerra civil”

Foi a primeira vez, desde 1992, que um agente prisional morreu durante o exercício das suas funções, revelou o ministro da Justiça francês, Éric Dupond-Moretti, aos jornalistas.

A tragédia já está a ser aproveitada pela extrema-direita francesa para passar a sua mensagem contra a imigração.

Éric Zemmour, do partido Reconquista, falou do modo de actuação do grupo armado, notando que é idêntico a “operações de guerrilha” com ataques a “agentes do Estado”.

“Estamos numa situação de quase guerra civil”, atirou ainda, recusando a ideia de que esteja a “atiçar o fogo” e garantindo que está só a “descrever” o que se passa.

“O que vivemos há anos é esta guerra civil que está a ser travada contra nós por outro povo, outra civilização, que não tem a mesma relação com o indivíduo e com a violência que nós. Ela só conhece a lei do clã e a de Deus”, concluiu Zemmour na habitual retórica da extrema-direita.

Susana Valente, ZAP //

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