Huang Yung-fu fez de uma aldeia “para mandar abaixo” em Taichung (Taiwan) uma capital do turismo. O Avozinho Arco-Íris morreu em janeiro de 2024, mas continua eternizado nas paredes do lugar que salvou com um pincel.
Há cerca de 15 anos, Huang Yung-fu – na altura com 86 anos e depois de ter combatido em duas Guerras – enfrentou um dos períodos mais difíceis da sua vida.
O governo de Taiwan informou-o que estava a planear deitar a sua aldeia abaixo – onde era o último residente – para construir um complexo de apartamentos moderno.
Mas Huang Yung-fu rejeitou. Lutou até ao fim. E foi aí que começou a pintar.
A história foi contada na primeira pessoas, à BBC, em 2018: Huang, agora carinhosamente conhecido como “Avozinho Arco-Íris”, nasceu na China. Depois de combater na Guerra Sino-Japonesa e na Segunda Guerra Mundial, lutou pelo Partido Nacionalista contra o governo comunista de Mao Zedong.
Quando os nacionalistas perderam, ele e mais dois milhões de pessoas foram obrigadas a fugir para Taiwan. Foi aqui que foi alojado numa aldeia improvisada, “construída à pressa” para receber os militares que chegavam e as suas famílias.
Aquele lugar pertencente a Taichung, que era suposto ser apenas uma solução temporária acabou por se tornar o seu lar para sempre.
“Quando vim para cá, a aldeia tinha 1200 famílias e sentávamo-nos todos a conversar como uma grande família. Mas depois toda a gente se mudou ou faleceu e eu senti-me sozinho”, contou à BBC.
E… 40 anos depois e quando parecia que nada lhe podia tirar já o sossego: um choque inesperado. O Governo de Taiwan ofereceu-lhe dinheiro para arrumar as “trouxas”, fazer as malas e mudar-se para outro sítio.
Sem ter para onde ir, virou-se para a arte para aliviar o seu sofrimento e tentar escapar ao despejo iminente.
Foi assim que nasceu o Rainbow Grandpa
Huang decidiu transformar a sua aldeia numa capital do turismo através da pintura.
O “avozinho” começou por pintar um pequeno pássaro no seu bungalow. Continuou com gatos, pássaros, vacas e pessoas que começaram a espalhar-se pelos edifícios vazios da aldeia.
Em 2010, um estudante universitário local descobriu a aldeia e, depois de ouvir a história de Huang, comprometeu-se a ajudar. Tirou algumas fotografias da aldeia e iniciou uma campanha de angariação de fundos e uma petição para a salvar da destruição.
A notícia tornou-se rapidamente viral e, assim, nasceu o “Rainbow Grandpa”.
A aldeia colorida tornou-se um grande atrativo para os turistas e – mesmo com o falecimento de Huang em janeiro de 2024 – continua a atrair mais de um milhão de visitantes por ano.
O melhor de tudo é que Huang pôde ficar com a sua casa até ao fim dos seus dias. “O governo prometeu-me que manteria esta casa e esta aldeia. Fiquei muito feliz e agradecido”.