O plano de Montenegro para fintar os “casos e casinhos” do Governo

José Sena Goulão / LUSA

O primeiro-ministro, Luis Montenegro, à chegada para a discussão do programa de Governo

Ainda a adaptar-se a um novo contexto no Governo, o PSD está a tentar manter a comunicação sobre controlo e todos os anúncios passam primeiro pelo gabinete de Montenegro.

O primeiro mês do novo Governo foi marcado por vários contratempos. A saída de figuras-chave como Fernando Araújo, diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde, da provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Ana Jorge, ou do diretor nacional da PSP, José Barros Correia, destacaram-se nesta lista.

O Ministro da Defesa, Nuno Melo, também esteve no centro de uma polémica em torno do recrutamento de jovens delinquentes para as forças armadas. A questão do grande corte no IRS que depois, afinal, não era assim tão grande, também fez correr muita tinta.

A relação entre o Governo e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também tem sido tensa. Marcelo criticou abertamente a abordagem de Montenegro e a lentidão percebida do seu estilo de liderança, comparando-o ao “antigo PSD” e ao “tempo do país rural“.

De acordo com fontes sociais-democratas, o plano do primeiro-ministro para tentar travar estes “casos e casinhos” é garantir que não haja nenhum anúncio do Governo que não passe pelo seu gabinete. “A lógica é de afirmação de Montenegro”, revela um social-democrata experiente ao Expresso.

O executivo está ainda a tentar garantir que apenas um tema domine a agenda mediática de cada dia e que os ministros não se sobreponham na comunicação. “Estão a aprender a andar de bicicleta enquanto pedalam”, refere uma outra fonte do PSD sobre a falta de experiência governativa da maioria dos ministros e secretários de Estado.

A tentativa de colar o PS ao Chega também se inclui nesta estratégia, especialmente depois de os dois partidos terem votado juntos no IRS e no fim das portagens das ex-SCUT. A direção do PSD tem analisado estudos de opinião regulares que indicam que o eleitorado do Chega não gosta de ver o partido colado ao PS, estando Montenegro a apostar neste truque para tentar roubar votos a Ventura.

“Enquanto eles se distraem com esses arranjos, estamos a resolver os problemas”, afirmou o primeiro-ministro no recente jantar do PSD.

Além disso, o Governo tem se apressado em implementar medidas que obriguem o PS a apoiar suas iniciativas legislativas, como a recente alteração ao Complemento Solidário para Idosos (CSI), que exclui os filhos do cálculo da condição de recursos. A medida foi originalmente proposta pelo PS, mas o Governo apressou-se a apresentá-la para evitar que a oposição a pudesse reclamar como mais uma vitória.

No âmbito político mais amplo, o Governo enfrenta dificuldades para aprovar medidas-chave como a descida do IRS, enquanto negocia com o PS para tentar chegar a um consenso que fortaleça a sua frágil governabilidade.

ZAP //

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