Falta de pagamento de salários motivou a suspensão. É “mais um ato de terrorismo”, denuncia a redação do JN. Presidente da República exige transparência sobre “quem lidera e gere o quê na comunicação social”.
Os plenários dos trabalhadores do Jornal de Notícias e do desportivo O Jogo resolveram ativar a suspensão de contratos de trabalho, por falta de pagamento de salários, segundo dois comunicados divulgados esta quinta-feira.
“Não podemos deixar de notar a coincidência de os dias de plenário do jornal O Jogo e Jornal de Notícias serem sempre marcados por comunicados da Comissão Executiva (CE)”, lamentaram, indicando que “desta feita, a nota foi apenas assinada por José Paulo Fafe”, mas surgiu antes na comunicação social, “apesar dos sucessivos pedidos de esclarecimento levados a cabo pelos representantes dos trabalhadores”.
O presidente do Global Media Group (GMG) disse esta quinta-feira, em comunicado, que o World Opportunity Fund (WOF) transmitiu a sua indisponibilidade em transferir dinheiro para pagar os salários em atraso até uma decisão da ERC e à retirada de um “alegado procedimento cautelar” anunciado por Marco Galinha.
“O comunicado de José Paulo Fafe deixa clara uma ideia repulsiva: não pagam porque não querem”, disse a redação do jornal O Jogo.
“Não cedemos a chantagens, pressões e táticas terroristas da CE ou de José Paulo Fafe, que fazem dos trabalhadores autênticos reféns e armas de arremesso”, lamentaram, indicando que “se a CE não é capaz de solucionar os problemas, que assuma isso e aja em conformidade” lembrando que “há propostas e vias de saída em cima da mesa para todos os títulos”.
“A situação exige em toda a linha a abertura para uma negociação”, destacaram.
A GMG tinha, à data de 15 de janeiro, seis propostas de investimento em cima da mesa que apontam para diferentes caminhos, avançou o Jornal Económico.
Duas propostas preveem aumento de capital, uma a compra do grupo e três o seu desmembramento.
Por sua vez, o Nobias European Studios, grupo de criação de conteúdos, incluindo de produção de vídeos, propôs um investimento de 10 milhões de euros no Global Media Group (GMG) para ficar com 51% da empresa, segundo um comunicado divulgado esta quinta-feira.
“Mais um ato de terrorismo da CE da GMG”
A redação do Jornal de Notícias, por sua vez, repudiou “mais um ato de terrorismo da Comissão Executiva do Global Media Group” enquanto “decorria a reunião de trabalhadores”.
Assegurou ainda que “defenderá inequivocamente – e até às últimas consequências – o Jornal de Notícias e os seus trabalhadores, tendo sempre em vista o superior interesse dos leitores, do jornalismo e da democracia”.
Por tudo isto, as duas redações decidiram “ativar a suspensão dos contratos de trabalho por falta de pagamento dos salários”.
Os sindicatos dos Jornalistas (SJ) e dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (SITE-Norte) apresentaram esta quarta-feira denúncia na ACT devido à falta de pagamento dos salários no Global Media Group (GMG).
Num comunicado, as estruturas sindicais disseram que foi apresentada denúncia na Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) “pela falta de pagamento dos salários de dezembro aos trabalhadores da Global Notícias”, empresa do grupo GMG que detém o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias e o desportivo O Jogo.
Marcelo quer “transparência sobre quem lidera e gere”
O Presidente da República defendeu esta quinta-feira, no 5.º Congresso dos Jornalistas, que tem de haver transparência sobre “quem lidera e gere o quê na comunicação social”, sem nomear nenhum grupo ou órgão em concreto.
À chegada ao Cinema São Jorge, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa cumprimentou trabalhadores do grupo de Global Notícias — que tem entre os seus acionistas um fundo sediado nas Bahamas de proprietários desconhecidos — que seguravam uma faixa “em luta pela defesa dos postos de trabalho”, sem prestar declarações.
Na sua intervenção, depois de fazer um diagnóstico da situação do jornalismo em Portugal, o chefe de Estado afirmou: “Tudo isto torna inevitável, primeiro, que haja transparência no saber quem lidera e gere o quê na comunicação social, com que projetos editoriais, com que modelos, com que perfis e viabilidade de dar vida ao setor”.
“Segundo, que os proprietários e gestores de meios, todos eles, mais os especialistas nas mudanças científicas, tecnológicas e sociais em curso estejam em constante convergência, interação e prospetivas estratégicas, formando uma plataforma de diálogo e de convergência que decisão com os jornalistas. Houve em certa altura alguns passos, mas pararam cedo de mais“, acrescentou.
Segundo o Presidente da República, impõe-se que “o Estado — o que é diverso de quem em cada momento exerce funções em sua representação — não se alheie nunca de um debate essencial”, porque “há meios públicos históricos e muito importantes” e porque “só numa base de entendimento amplo de forças e hemisférios doutrinais, ideológicos e políticos diferentes é possível abordar esta temática de regime”.
O chefe de Estado entrou no 5.º Congresso dos Jornalistas acompanhado pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Henrique Araújo, e sentou-se ao seu lado antes de intervir.
Nesta sessão de abertura estiveram também a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e representantes de partidos com assento parlamentar.
À saída, em declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou a esperança de que este congresso, “em tempo eleitoral”, a menos de dois meses das legislativas de 10 de março, seja “um grande momento para se chegar a um entendimento amplo, eu diria de regime, quanto a medidas já experimentadas noutros países” de apoio ao setor da comunicação social.
“Há várias pistas possíveis, tem de ser por um acordo partidário muito amplo, tem de ser por regras gerais e abstratas, com um regime de grande independência e isenção, porque se não os governos eles próprios têm um bocado de puder em tomar qualquer iniciativa”, considerou.
ZAP // Lusa