Líder do Chega não deveria “colar-se” a Francisco Sá Carneiro: “Era um homem que se encontrava nos seus antípodas”.
André Ventura citou Francisco Sá Carneiro no encerramento da VI Convenção Nacional do Chega, no domingo passado.
“Quero dizer-vos que sinto-me tão pronto hoje como sei que Sá Carneiro se sentia para ser primeiro-ministro em 1979. E estou tão pronto a dar a minha vida por este país. Como ele estava para transformar Portugal”.
Palavras do líder do Chega, que se sente o herdeiro da Aliança Democrática de 1979, como descreveu o jornal Observador.
Ventura mencionou três vezes o nome do antigo primeiro-ministro, falecido num acidente de aviação em 1980.
Mas não o deveria fazer. A postura é do Instituto Francisco Sá Carneiro: “Porque Francisco Sá Carneiro é inimitável, muito menos caricaturável, repudiamos as persistentes tentativas do líder do Chega em tentar colar-se à imagem e à memória do fundador do PPD-PSD”.
O comunicado citado na rádio TSF, assinado pela presidente do instituto, Maria da Graça Carvalho, admite que o presidente do Chega tem o direito de “fazer crescer a base de apoio do seu partido através de um culto de personalidade centrado na sua figura, seguindo a linha de outros partidos e movimentos populistas, na Europa e no mundo, que lhe servem de inspiração e de suporte, tanto nos atos como no discurso”.
Mas não se deve comparar a Sá Carneiro: “Não o faça procurando incorporar qualidades, que não tem, de um homem que se encontrava nos seus antípodas“.
Maria da Graça Carvalho, que também é eurodeputada, sublinhou que os dois políticos não são comparáveis “desde logo no campo do respeito pelas pessoas – independentemente das suas origens, crenças, grupos étnicos, orientações sexuais ou condições socioeconómicas. Mas também no campo do primado da verdade sobre a demagogia e a mentira“, acrescentou.
“Para Francisco Sá Carneiro, o ‘eu’ nunca foi importante“, lê-se no comunicado.
O instituto vai recorrer a “todos os meios ao seu dispor” para proteger a “personalidade que foi Francisco Sá Carneiro, que merece ser protegida de todas as tentativas de apropriação, em benefício de agendas pessoais, que ponham em causa a sua verdadeira essência e valores e possam conduzir a interpretações equívocas e manipulações da história”.
“Delírio”
Já no jornal Público, a descrição é outra: esta comparação foi um dos “delírios” de André Ventura durante a convenção do Chega.
Questionada sobre o assunto, a comentadora Ana Sá Lopes reagiu: “Meu Deus, coitado. É patético, como quase tudo em André Ventura. O milagre é o Chega ser o terceiro partido em Portugal”.
“André Ventura não tem vergonha nenhuma, por isso utilizará todas as trafulhices possíveis; e está a convencer o eleitorado, está a enganar muita gente“, analisou Ana Sá Lopes.