Uma equipa liderada pelo paleoantropólogo Lee Berger anunciou esta segunda-feira ter desenterrado os mais antigos túmulos pré-históricos descobertos até agora na África do Sul, descoberta que faria recuar os primeiros vestígios de práticas mortuárias em pelo menos 100.000 anos.
Paleontólogos da África do Sul anunciaram ter encontrado o mais antigo local de sepultamento conhecido no mundo, contendo restos de um parente distante de cérebro pequeno dos humanos, anteriormente considerado incapaz de comportamento complexo.
Liderados pelo conceituado paleoantropólogo Lee Berger, os investigadores descobriram fósseis de Homo naledi, hominídeo da Idade da Pedra que subia às árvores árvores, enterrados num sistema de cavernas dentro do Berço da Humanidade, local classificado como património mundial da UNESCO repleto de grutas e fósseis pré-humanos.
“Estes são os mais antigos enterramentos de hominídeos alguma vez registados, antecedendo os enterramentos do Homo sapiens em pelo menos 100.000 anos”, afirmam os cientistas numa série de artigos, que ainda têm de ser revistos por pares antes de serem publicados na revista científica eLife.
“Estas descobertas mostram que as práticas mortuárias não se limitavam ao Homo sapiens ou a outros hominídeos com grandes cérebros”, acrescentam.
Os investigadores associam geralmente o domínio do fogo, da gravura e da pintura ao grande tamanho do cérebro dos humanos modernos, como é típico do homem de Cro-Magnon.
A notável descoberta da equipa de Lee Berger, que foi anunciada esta segunda-feira numa conferência de imprensa na Stony Brook University, em Nova Iorque, encontra-se detalhada num artigo na National Geographic e pré-publicada no bioRxiv.
Os túmulos mais antigos descobertos até agora, nomeadamente no Próximo Oriente e no Quénia, datam de cerca de 100.000 a.C. e contêm os restos mortais do Homo sapiens, um antepassado direto do homem contemporâneo, Homo sapiens sapiens. Os enterros agora descobertos pela equipa de Berger na África do Sul datam de há 200.000 a 300.000 anos.
Os túmulos ovais, enterrados a cerca de 30 metros de profundidade, continham ossos de Homo naledi, primos distantes do homem, com um cérebro do tamanho de uma laranja, cuja descoberta em 2013 por Lee Berger já tinha posto em causa certas teorias da evolução.
Durante as escavações, que começaram em 2018, a equipa de Lee Berger também encontrou símbolos geométricos — linhas, quadrados e cruzes — traçados nas paredes dos túmulos.
“Isto significaria que os humanos não só não são os únicos a desenvolver práticas simbólicas, como podem nem sequer ter inventado esses comportamentos“, defende o paleoantropólogo, que é explorador residente da National Geographic.
“Este é um grande momento na História da Humanidade“, comentou Berger.
ZAP // Lusa