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“Desligue o motor!” – o aviso foi engano, mas o assunto é sério

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Um alerta invulgar surgiu num túnel no Porto. Era para ignorar, mas a poluição nos túneis não deve ser ignorada.

Era uma sexta-feira, no Porto. Perto da hora do almoço.

Quem passou pelo túnel das Antas, entrando pela Avenida Fernão de Magalhães em direcção à saída junto ao Estádio do Dragão, deve ter visto um aviso invulgar.

“Desligue o motor!”

O alerta era directo: desligue o carro. Em princípio seria por causa dos níveis de poluição no túnel, até porque não havia qualquer acidente naquela zona.

Pode ter originado conversas descontraídas entre os condutores: “Pronto, desligámos o motor, desligámos o carro. Então e agora? Ficamos aqui dentro do túnel, a conversar uns com os outros, a ingerir a poluição?”.

A Câmara Municipal do Porto esclareceu o ZAP: foi uma anomalia, que foi corrigida pouco depois. Era uma avaria em sensores internos do túnel, que estava a enviar automaticamente a mensagem referida para os painéis.

O alerta foi um engano, neste caso. Mas o assunto é sério.

Ainda recentemente a Zero avisou que, em Lisboa, as concentrações de dióxido de azoto (poluente atribuído principalmente à combustão dos motores a diesel), na Avenida da Liberdade, estão acima dos limites determinados na legislação europeia.

A associação ambientalista defende a criação de uma Zona Zero Emissões, quer em Lisboa, quer no Porto, abrangendo os centros das cidades.

A mesma Zero, e voltando aos túneis, confirmou ao ZAP que, de uma forma geral, a (pobre) qualidade do ar nos túneis urbanos é um reflexo do excesso de tráfego rodoviário nas grandes cidades. Deu dois exemplos, ambos em Lisboa: Marquês e Avenida João XXI.

A poluição é uma mistura de compostos provindos da exaustão dos motores e do desgaste de pneus, travões, abrasão do pavimento e embraiagem, criando uma mistura preocupante de óxidos de azoto, partículas, metais pesados e compostos orgânicos (aromáticos, alifáticos, PAHs).

Para quem passa pelo túnel a conduzir, e porque a passagem é rápida, os métodos de protecção são conhecidos: fechar a janela do automóvel, activar a recirculação de ar no interior.

Para quem trabalha em túneis, as consequências podem ser outras. Por isso, é melhor utilizar protecção respiratória adequada.

Não é um problema crítico, continua a Zero, mas o ideal seria resolver o assunto a montante: reduzir o tráfego automóvel.

Muitos estudos

A associação partilhou connosco alguns estudos sobre o assunto. Todos realizados em Portugal.

Dois deles deixam alertas em relação a cancro.

Uma estudo realizada em 2018 a um túnel em Braga (Avenida da Liberdade) e a cinco ruas centrais no Porto reforça que a ressuspensão da poeira rodoviária é uma das principais fontes de material com impactos na qualidade do ar, saúde e clima. E o número de partículas poluentes PM10 (inaláveis, de diâmetro inferior a 10 micrómetros) em algumas estradas pode contribuir para um excesso estimado de 332 a 2.183 por milhão de novos casos de cancro em adultos expostos por ingestão e contacto dérmico.

Mais recentemente (2022), e mais a Sul, foi analisada a ressuspensão de poeiras rodoviárias em dois túneis de Lisboa (João XXI e Marquês de Pombal). Neste caso, em 90% da zona analisada, o risco de cancro aumentou porque as pessoas estão expostas ao cobre – elemento químico que é consequência do desgaste de travões e pneus. A exposição ao cobre pode contribuir para o desenvolvimento de cancro ao longo da vida. Os resultados mostraram a forte contribuição de certos compostos químicos perigosos associados a partículas de ressuspensão e os seus efeitos potenciais na saúde humana.

Numa análise (2013) à composição química do aerossol – suspensão de partículas finíssimas sólidas ou líquidas num gás – do túnel do Marquês, em Lisboa, verificou-se que esse túnel tinha concentrações de PM10 muito superiores às do ambiente exterior envolvente. A massa de aerossol no ar do túnel é formada quase exclusivamente por emissões frescas de carros e ressuspensão de poeira local da estrada.

No mesmo túnel, mas num estudo realizado em 2016, verificou-se que as concentrações de material particulado (partículas muito finas de sólidos ou líquidos suspensos no ar) no túnel foram 17 a 31 vezes maiores do que na beira da estrada, nas proximidades. Já aqui tinha surgido a tese de que o aerossol surge quase exclusivamente em emissões frescas de veículos.

Também encontrámos um estudo realizado no Brasil, no Túnel Rebouças (Rio de Janeiro). Publicado em 2020, esta análise trouxe uma boa notícia: nos 10 anos anteriores, houve uma grande redução nas emissões poluentes, muito por causa dos avanços na tecnologia, principalmente as de controlo ambiental. Mesmo assim, é preciso reduzir mais por causa dos níveis do material particulado.

E não se pense que estes estudos são uma “grande inovação” do século XXI. Encontrámos uma análise a dois túneis rodoviários em Londres, onde as concentrações de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos eram muito maiores do que os valores médios no centro da cidade. Este estudo foi realizado em… 1961.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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1 Comment

  1. …e alguém já se lembrou de medir a poluição nos parkings subterrâneos para automóveis ( Colombo,Auchan,Corte Inglês,etc,etc ) ?

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