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“Espanha é conhecida como um país de racistas”

Kai Forsterling / Lusa

Vinícius Jr. voltou a ser vítima de racismo em Espanha. O jogador do Real Madrid acusa o presidente da liga espanhola de desvalorizar o caso e de se igualar aos racistas. Lula da Silva exige medidas.

Ontem, o Real Madrid e o Valência defrontaram-se em jogo a contar para a 35.ª jornada do campeonato espanhol, mas ninguém saiu a ganhar.

O jogador do Real Madrid, Vinícius Júnior, voltou a ser vítima de insultos racistas, em Espanha. Desta vez, no estádio Mestalla, em Valência.

Na sua conta oficial de Twitter, o jogador brasileiro criticou a LaLiga e os adeptos do futebol espanhol pelo “racismo normal” na competição, depois de insultos racistas terem marcado o duelo contra o Valência.

“Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhois que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender”, escreveu o futebolista no Twitter.

O presidente da liga, Javier Tebas, reagiu e pediu ao futebolista que não se deixasse manipular: “Antes de criticar e insultar a LaLiga, tens de te informar bem, Vinícius. Não te deixes manipular e certifica-te de que compreendes as competências de cada um e o trabalho que temos feito juntos”.

Vinícius Júnior deu seguimento à troca de mensagens nas redes sociais, respondendo à mensagem de Tebas, a quem pediu “ação e castigo”.

O avançado do Real Madrid acusou Javier de Tebas de, “mais uma vez”, o atacar e desvalorizar um caso evidente de racismo, igualando-o aos racistas.

Omitir-se só faz com que você se iguale a racistas. (…) Quero ações e punições. Hashtag não me comove“, disse o jogador.

No final do jogo, Carlo Ancelotti, disse “estar triste” com a “reação racista” dos adeptos do Valência, em relação a Vinícius.

O treinador do Real Madrid considera que é um “problema muito grave e inaceitável”, para o qual pediu medidas enérgicas.

“Falei com o Vinícius durante o jogo, o ambiente estava muito quente, muito mau e perguntei-lhe se podia continuar”, disse Carlo Ancelotti.

“O facto de pensar que tenho de o afastar porque o ambiente é racista não me parece correto”, lamentou o treinador dos merengues, na conferência de imprensa.

“O que me aconteceu hoje nunca me tinha acontecido antes. É inaceitável. A Liga espanhola tem um problema, não é o Vinicius, ele é vítima de um problema muito grave”, acrescentou.

O presidente da FIFA, Gianni Infantino, manifestou-se solidário com o brasileiro, reforçando, através de uma mensagem publicada hoje nas redes sociais, que o racismo não tem lugar no futebol, nem na sociedade.

“Estamos solidários com o Vinícius Júnior. Não há lugar para o racismo no futebol, nem na sociedade. A FIFA apoia todos os jogadores e jogadoras que sejam alvo de manifestações deste teor”, escreveu Gianni Infantino, em nome da FIFA.

Infantino considerou que os insultos proferidos contra o jogador brasileiro no Mestalla, durante o jogo da 35.ª jornada da Liga espanhola, mostram que “a luta contra o racismo é crucial” e lembrou que a FIFA recomenda uma série de procedimentos na luta contra o fenómeno, que devem ser aplicados em todos os escalões e níveis.

“Numa primeira fase, interrompe-se a partida. Num segundo momento, os jogadores abandonam o relvado e anuncia-se que se os comportamentos continuarem a partida será suspensa. Depois da partida ser retomada e, caso os comportamentos se mantenham, deverá ser suspensa e os três pontos serão atribuídos à equipa visitante”, explicou Infantino.

O presidente da FIFA admitiu que “é mais fácil dizer do que fazer”, mas considerou que a luta contra o racismo deve ser incutida desde cedo e só se faz por meio da educação.

O Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, também já veio condenar os insultos racistas e apelou às autoridades para que tomem medidas.

A LaLiga solicitou todas as imagens disponíveis para abrir uma investigação, indicando que “uma vez concluída a investigação, no caso de ser detetado qualquer crime de ódio, a LaLiga tomará as medidas legais adequadas”.

Nos últimos meses, Vinícius, de 22 anos, tem sido alvo de vários insultos racistas.

No final de janeiro, o jogador foi o protagonista de um episódio que levou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a enviar uma carta às entidades que regem o futebol – FIFA, UEFA e CONMEBOL -, exigindo medidas concretas para punir os comportamentos racistas e aumentar a consciencialização sobre o tema.

ZAP // Lusa

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