O presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior denunciou este sábado o caso de vários professores que pagam do próprio bolso o material escolar ou levam de casa o papel higiénico, numa demonstração do impacto dos cortes orçamentais.
Cerca de 50 professores e investigadores do ensino superior estiveram hoje concentrados frente ao Ministério da Educação, em Lisboa, numa ação de protesto contra os cortes previstos no próximo Orçamento do Estado, já que temem que estes cortes agudizem ainda mais a sustentabilidade do ensino superior.
Em declarações aos jornalistas, o presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) revelou ter conhecimento de vários professores que já chegaram ao ponto de terem que ser eles a pagar o material que usam nas aulas.
“É verdade que neste momento há muitos docentes a terem que pagar dos seu próprio bolso materiais para as aulas, para lecionar, até para darem aos seus próprios alunos fotocópias de materiais para eles poderem trabalhar”, revelou António Vicente.
Acrescentou que os cortes orçamentais já fizeram com que alguns docentes tivessem de levar papel higiénico de casa, uma vez que “não há papel higiénico nas próprias instituições”.
“Quando se chega a uma situação destas no ensino superior, que supostamente estará a preparar a formação das próximas gerações e que tem que ter o mínimo de condições para poder funcionar com dignidade, é porque algo está muito mal no nosso país”, criticou o dirigente sindical.
Lembrou que os cortes previstos no Orçamento do Estado para 2014 “vêm agravar ainda mais as condições das instituições do ensino superior”, estando em causa uma redução que atinge já os 40% nos últimos cinco anos.
“Temos que traçar um limite a partir do qual não podemos ir e neste momento cortar ainda mais terá inevitavelmente consequências ao nível da qualidade do trabalho que se consegue fazer”, advertiu.
Cathy Besson tem 40 anos e está há 15 em Portugal com contratos renovados de três em três anos. É atualmente investigadora na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e aproveitou para chamar a atenção para a precariedade em que vive a maior parte dos investigadores em Portugal.
“Há despedidas para professores reformados que se vão embora, mas não há condições para criar novos empregos. Os empregos são tão poucos que tenho muitos colegas com montes de publicações que ainda andam na rua à procura de trabalho”, revelou.
Pedro Rodrigues, por outro lado, explicou que foi à manifestação não pela sua situação pessoal, mas pelo “estrangulamento” a que estão a sujeitos politécnicos e universidades de todo o país, defendendo que isso põe em causa o futuro do país.
A manifestação contou com o apoio do historiador, professor universitário e político Fernando Rosas, que aproveitou para lembrar que o próximo Orçamento do Estado corta 30 milhões de euros à educação.
“Neste momento há faculdades onde há jovens a dar aulas de graça, o que viola a lei fundamental do trabalho e portanto é altura, no que diz respeito ao ensino superior, da indignação se manifestar”, defendeu, acusando o ministro Nuno Crato de ser um “malfeitor político”.
O SNESup planeia organizar até ao final do ano nova reunião do conselho nacional, prevendo-se que seja nessa altura que sejam definidas novas formas de luta.
“Passam no limite por greves às avaliações no final do primeiro semestre que decorrerão no mês de janeiro”, adiantou António Vicente.
O Sindicato Nacional do Ensino Superior reúne mais de 5 mil associados, num universo de cerca de 23 mil docentes e investigadores.
/Lusa