Pela primeira na sua história, a CP – Comboios de Portugal fecha o seu balanço anual com resultados líquidos positivos, neste caso de oito milhões de euros, em 2022.
De acordo com o Público, essa é uma consequência direta da aplicação do Contrato de Serviço Público assinado entre a empresa e o Estado que a compensa pelos serviços que dão prejuízo.
Para 2022, a indemnização compensatória prevista era de 85,3 milhões de euros.
A CP registou em 2022 o maior número de passageiros transportados nos últimos 20 anos – 148 milhões.
Isto mostra que os prejuízos na CP podem ser eliminados se o Estado indemnizar a empresa de transportes pelo serviço público que presta enquanto não saneia a dívida que continua a pesar nas contas da operadora ferroviária, e que mais não é do que a dívida do próprio caminho-de-ferro em Portugal nos últimos cem anos.
Para já, e pela primeira vez em décadas, o acionista pagou o serviço público deficitário que a empresa está obrigada a realizar, originando oito milhões de euros de lucros contra uma média de cerca de 80 milhões de euros de prejuízos nos últimos quatro anos.
As principais receitas da empresa vieram dos comboios Urbanos de Lisboa (95 milhões de euros) e dos Intercidades (49 milhões), seguidos do Alfa Pendular (45 milhões), Urbanos do Porto (31 milhões), Regionais (29 milhões). Os comboios Urbanos de Coimbra, o Celta Porto-Vigo e os comboios históricos representaram receitas de 4,5 milhões de euros.
O Alfa Pendular está fora do Contrato de Serviço Público, porque é considerado um negócio de mercado aberto (com exceção de alguns percursos, como a extensão a Braga e a Guimarães, que a CP é obrigada a fazer, mas sem indemnização).
Ainda do lado das receitas, a importância do PART – Programa de Apoio à Redução Tarifária dos Transportes foi relevante, sobretudo no aumento das assinaturas mensais nos serviços urbanos e regionais, que cresceram 12%.
Os comboios da Grande Lisboa foram os que mais cresceram em passageiros, com um aumento de 6,7% no ano passado, face a 2021.
Mas os grandes ganhos de gestão foram do lado das despesas, com destaque para a fusão da EMEF – Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário com a CP e respectivas sinergias; a abertura das oficinas de Guifões; e a devolução a Espanha de algumas automotoras alugadas à Renfe.
A CP enfrentou em 2022 um aumento desses custos de energia na ordem dos 28,5 milhões de euros.
Mas a maior das penalizações, que continua a corroer as contas da empresa, é a manutenção da sua dívida histórica, de 2,1 mil milhões de euros, cujo saneamento tem vindo a ser sucessivamente adiado. Em 2020 e 2021 os juros da dívida foram, respetivamente, de 31 e 23 milhões de euros.