A Tekever, empresa portuguesa especializada no desenvolvimento de tecnologia militar, recolheu “várias horas” de imagens aéreas do vulcão há quase um mês em atividade, na ilha cabo-verdiana do Fogo, que agora serão analisadas pela Proteção Civil cabo-verdiana.
Durante uma demonstração na Cidade da Praia, o administrador da Tekever, Ricardo Mendes, engenheiro informático, indicou à agência Lusa que foram obtidas imagens térmicas, através de sistemas autónomos aéreos – aviões não tripulados -, em missões diurnas e noturnas.
A empresa, de capital inteiramente português, lidera nove projetos de segurança aérea e espacial, tendo parcerias e colaborações com várias empresas e instituições, no quadro da Agência Europeia de Defesa.
“Recolhemos algumas horas de imagens, em toda a extensão das lavas”, deu conta o responsável da empresa, que, para a missão de três dias, utilizou um sistema denominado “AR 4 Light Ray“.
“Toda a informação recolhida será passada à Proteção Civil cabo-verdiana, para que depois possa difundi-la junto dos seus parceiros, nomeadamente as universidades e os institutos envolvidos”, sublinhou Ricardo Mendes.
“O nosso papel aqui era ajudar, em tudo o que pudéssemos, as autoridades cabo-verdianas, recolhendo a maior quantidade possível de informações, da forma mais precisa possível”, prosseguiu.
Ricardo Mendes avançou que, através das informações recolhidas, é possível perceber onde estão as lavas, a que distância estão das populações, se estas poderão ser ou não atingidas e que novas frentes podem surgir.
O gestor português, acompanhado pelo operador João Mestrinho e pela técnica Filipa Martins, salientou que a missão na ilha do Fogo também permitiu testar os equipamentos.
“Deve ter sido das missões mais complicadas que já fizemos. Mas conseguimos ultrapassar as dificuldades e foi uma prova muito boa para testar e melhorar sistemas”.
Entre as dificuldades encontradas, o responsável citou o vulcão, a cratera, o terreno acidentado, a altitude a que se realizavam os voos, as correntes, a temperatura da lava e a existência de muito metal em Chã das Caldeiras.
O responsável pelas operações da Proteção Civil no terreno, Jair Rodrigues, considera a iniciativa da empresa portuguesa “muito importante”, uma vez que vai permitir aceder, pela primeira vez, em quantidade e qualidade, a imagens que dão uma perspetiva global sobre o avanço das lavas e os estragos causados.
“Tentámos ter uma imagem da caldeira, para fazer a avaliação, mas revelou-se impossível. Quando surgiu esta proposta para utilizar um ‘drone’, aproveitámos logo e foi uma grande valia”, disse Jair Rodrigues à agência Lusa.
O responsável adianta que a proteção civil cabo-verdiana vai começar a analisar as imagens na segunda-feira, para delinear as ações a seguir.
/Lusa