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Quando a impoluta banca Suíça tem problemas, devemos temer o pior? Há boas e más notícias

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O colapso do banco suíço Crédit Suisse fez disparar os alarmes: será que estamos na iminência de uma nova crise financeira global? Afinal, se a Suíça, conhecida pela estabilidade e confiabilidade, tem problemas…

Enquanto o Crédit Suisse parece ter encontrado uma bóia de salvação no principal concorrente, o UBS que é o maior banco da Suíça, o mundo está em suspenso, com receios de que venha aí uma nova crise financeira global. Poderá a crise helvética despoletar um efeito de contágio, atirando o mundo para uma nova recessão?

Essa é a grande dúvida que paira no ar e, para já, sobram só as dúvidas! Mas como é que chegamos aqui?

Crédit Suisse: a história de um colapso anunciado

Fundado em 1856, o Crédit Suisse é o segundo maior banco da Suíça. Foi, durante muitos anos, um pilar do sistema financeiro do país que tem uma longa fama de estabilidade e confiabilidade.

De resto, o banco resistiu à crise de 2008 sem precisar de ajuda estatal, ao contrário do rival UBS que, agora, se apresta para o adquirir, num processo que ditará a salvação do Crédit Suisse.

Pelo meio, o banco vai receber um empréstimo de 50,7 mil milhões de euros num processo de resgate do Banco Nacional da Suíça (BNS).

As autoridades helvéticas já garantiram que o banco não estava exposto a taxas de juros muito altas, ao contrário do que aconteceu com o norte-americano Silicon Valley Bank que faliu recentemente. Então, o que justifica o colapso?

Na verdade, o Crédit Suisse vinha apresentando problemas desde antes de 2015, altura em que se iniciou um processo de reestruturação, com o corte de milhares de empregos numa tentativa de redução de custos.

Entretanto, o banco esteve envolvido em vários escândalos relacionados com maus investimentos que levaram à perda de milhões de euros, nomeadamente no âmbito do colapso do fundo de investimento Archegos e da falência da empresa financeira Greensill Capital.

Esses processos criaram um rombo nas contas de um banco conhecido também por ter contas secretas de ditadores como Ferdinand Marcos das Filipinas e Mobutu Sese Seko do Congo, ou por estar envolvido em lavagem de dinheiro de “barões de droga”.

Em 2022, o recém-eleito CEO, Ulrich Körner, que continua a gerir o banco, traçou novo plano de reestruturação que previa mais cortes na divisão de investimento.

A guerra na Ucrânia e as sanções à Rússia acabaram por complicar ainda mais a vida ao banco.

Mas a gota de água foi a posição do Banco Nacional Saudita, que detém quase 10% do Crédit Suisse, que anunciou que não pretendia investir mais dinheiro no banco.

Isso levou a uma queda abrupta das acções na bolsa – e fez soar os alarmes junto dos clientes. Nem sequer o atestado de confiança emitido pelo BNS num comunicado os acalmou.

Quando um banco perde a confiança dos clientes, está perdido – e o Crédit Suisse deixou de ser visto como o exemplo de excelência e de confiabilidade que a imagem de Roger Federer passa como seu porta-estandarte nas imagens de marketing.

Reputação suíça também fica em xeque

Mas o descrédito vai para lá do Crédit Suisse e a própria reputação do sistema financeiro suíço está também em causa. Doravante, pessoas endinheiradas pensarão duas vezes antes de investirem o seu dinheiro no país.

Entretanto, teme-se que as regras introduzidas após a crise de 2008 não sejam, afinal, tão rígidas e eficazes como se esperava que fossem. Se isso for realmente verdade, é mesmo um motivo sério para preocupações.

No caso específico da Suíça, após a ajuda estatal ao UBS, implementou normas que visavam os principais bancos, classificados como “grandes demais para falir” – a ideia era garantir que os contribuintes suíços nunca mais tivessem que resgatar um banco.

Assim, em teoria, o Crédit Suisse deveria ter o capital necessário para evitar o pior cenário. Em teoria, os órgãos supervisores suíços teriam actuado para evitar o desastre. Na prática, nada disso aconteceu.

Até os media suíços pareceram ter sido apanhados um pouco de surpresa pela crise no Crédit Suisse – mas, afinal, até a “impoluta” banca helvética tem os seus males!

Soaram os alarmes na Europa

A situação problemática levou o Governo suíço a reunir-se de emergência e a anunciar que o Estado tomaria conta do banco para evitar “um colapso descontrolado” que “levaria a consequências incalculáveis para o país e para o sistema financeiro internacional”.

Deste modo, soaram os alarmes na Europa com uma intervenção conjunta da Autoridade Bancária Europeia, do Conselho Único de Resolução e do braço de supervisão do Banco Central Europeu (BCE).

Estas três entidades garantiram aos investidores que, no caso do colapso de um banco na União Europeia (UE), os accionistas seriam os primeiros a pagar por isso. É uma forma de passar confiança aos clientes e aos investidores, o que não aconteceu na Suíça na reacção ao descalabro do Crédit Suisse, o “19º maior credor da Europa“, segundo o Politico.

A temer o pior, também o Banco de Inglaterra tomou a mesma posição.

Vários bancos em risco nos EUA

Também dos EUA chegam sinais de preocupação. Os colapsos do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank foram apenas a ponta do icebergue e há outros bancos norte-americanos em risco.

Inúmeros clientes receosos já retirarem milhões de euros em dinheiro de pequenos bancos, colocando-os em instituições maiores, face à desconfiança crescente.

Vários bancos, alguns dos quais cuja identidade não foi revelada, procuraram “empréstimos de emergência” junto da Reserva Federal, como nota a CNN Business. Esta necessidade de pedir dinheiro para ter liquidez imediata revela a deterioração do sistema financeiro.

Mas há boas notícias porque estes “empréstimos não indicam nada inerentemente errado com o sistema bancário global” e nenhum dos bancos que os solicitou recorreu aos chamados “empréstimos secundários” para situações “profundamente problemáticas”, aponta ainda a CNN Business.

Estamos, portanto, a falar de empréstimos de “crédito primário”, o que demonstra que “os supervisores bancários dos EUA consideram os bancos que precisavam de apoio emergencial ‘saudáveis’ e não sob risco elevado de falência iminente“, refere a analista da Moody´s Jill Cetina, em nota citada pela CNN Business.

Contudo, também existem más notícias. A catadupa de empréstimos dos bancos “mostra quanta pressão” existe, actualmente, a pesar sobre o sistema financeiro, vinca a mesma publicação.

Esta “tensão significa que os bancos podem ser resistentes a emprestar dinheiro“, o que acrescenta “mais escrutínio à credibilidade” de quem pede empréstimos, nota ainda a CNN Business. E “isso significa menos hipotecas e menos dinheiro a fluir para as empresas, o que pode desacelerar a economia global e potencialmente levar a uma recessão“, conclui.

Sinais de que a crise vai ser duradoura

Neste cenário preocupante temos assistido à intervenção dos Bancos Centrais numa “acção coordenada como o mundo não via desde a crise da dívida europeia há uma década”, salienta também a CNN Business, constatando que esse é o primeiro sinal de que “a crise bancária pode ter efeitos duradouros e prejudiciais para a economia global”.

A estabilidade é o grande trunfo da banca. Quando esta fica em causa, começam os problemas, com os clientes a perderem a confiança nas instituições. E é aí que começa a retirada de dinheiro dos bancos, o que vai agravando a situação numa “bola de neve” crescente.

É, este âmbito, que surgem as garantias de depósitos dos clientes e dos investimentos como forma de impedir o efeito de contágio a outros bancos.

Mas entre as esperanças de que a crise desapareça e os medos de que se agrave, é certo que ainda não podemos respirar de alívio. E temos que esperar pelos próximos capítulos…

Susana Valente, ZAP //

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1 Comment

  1. Impoluta?! A banca suíça?
    Hahahaaaaaa… tão impoluta que os maiores terroristas, ditadores, corruptos, etc, etc, sempre tiveram na Suíça um dos seus maiores aliados!

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