Órgãos reguladores dos Estados Unidos fecharam o Silicon Valley Bank (SVB) e assumiram o controlo dos depósitos de clientes na maior falência de um banco no país desde 2008, quando o Washington Mutual colapsou.
O SVB, importante credor para a área de tecnologia e de inovação em saúde, teve dificuldades em obter dinheiro para cobrir a perda com a venda de ativos afetados pela subida da taxa de juros. Os problemas levaram a uma onda de levantamentos de depósitos por clientes.
Segundo reguladores bancários da Califórnia, onde a empresa tem a sua sede, o Silicon Valley Bank enfrentou “liquidez inadequada e insolvência”.
A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), que normalmente protege depósitos até 250.000 dólares, disse que assumiu o controlo de cerca de 175 mil milhões de dólares em depósitos mantidos no banco, o 16.º maior dos EUA.
Os escritórios e agências do banco devem ser reabertos “até segunda-feira de manhã”, quando clientes com depósitos segurados poderão ter acesso aos fundos. Ainda de acordo com a FDIC, o dinheiro obtido com a venda dos ativos do banco irá para clientes não segurados.
Com muitos dos clientes nessa posição, empresas com dinheiro preso no banco estão preocupadas com o seu futuro.
O colapso ocorreu depois de o SVB anunciar que estava a tentar levantar 2,25 mil milhões de dólares para cobrir uma perda causada pela venda de ativos, principalmente títulos do governo dos EUA, que foram afetados por taxas de juros mais altas.
A notícia fez com que investidores e clientes fugissem do banco. As ações tiveram a sua maior queda, de mais de 60%, em um dia, na quinta-feira.
Preocupações de que outros bancos possam enfrentar problemas semelhantes levaram à venda generalizada de ações de bancos em todo o mundo na quinta-feira e no início da sexta-feira.
Bolsas à volta do mundo registaram quedas no final de sexta: a Nasdaq de 1,7%, S&P 500 1,4% e Dow Jones 1%. Os principais índices europeus e asiáticos também fecharam em baixa, com a FTSE 100 a cair 1,6%.
Credor fundamental para empresas em estágio inicial, o Silicon Valley Bank é parceiro bancário de quase metade das empresas americanas de tecnologia e saúde apoiadas por capital de risco listadas nas bolsas de valores no ano passado.
O banco, que começou na Califórnia em 1983, expandiu-se rapidamente na última década. Agora emprega mais de 8.500 pessoas em todo o mundo, embora a maioria das suas operações esteja nos EUA.
Além de ser um grande choque para a indústria de tecnologia, o colapso do SVB levantou preocupações sobre os riscos enfrentados por outros bancos, à medida que os rápidos aumentos nas taxas de juros atingem os mercados de títulos.
Os bancos centrais de todo o mundo — incluindo o Federal Reserve dos EUA e o Bank of England — aumentaram acentuadamente os custos dos empréstimos ao longo do ano passado, tentando conter a inflação.
Mas à medida que as taxas sobem, o valor das carteiras de títulos existentes geralmente diminui. Essas quedas significam que muitos bancos estão a enfrentar potenciais perdas significativas.
As ações de alguns dos maiores bancos dos EUA recuperaram nesta sexta-feira, mas os bancos mais pequenos continuaram a ser atingidos — o que forçou a paralisação de negociações de nomes como o Signature Bank.
Alexander Yokum, analista da consultora CFRA, explica que bancos especializados em setores específicos são vistos como vulneráveis a levantamentos rápidos, como os que atingiram o SVB.
“O Silicon Valley Bank não teria perdido valor se não tivesse ficado sem dinheiro para fornecer aos seus clientes”, disse. “A questão é que as pessoas queriam dinheiro e não havia — o que tinha foi investido, e os investimentos estavam em baixa”.
“Sei que há muito temor por aí, mas definitivamente esse problema foi específico desta empresa”, garantiu.
// BBC Brasil
Já começou… mas vão dizer que esta tudo bem!
O problema que afetou o SVB pode acontecer a qualquer outro banco que tenha uma carteira com muito peso em produtos da dívida pública. O aumento das taxas de juro reduz imenso o valor desses produtos. Se os não venderem, têm apenas uma perda potencial. Quando, por algum motivo, têm mesmo de gerar liquidez e vender esses produtos, têm de registar as perdas ocorridas. E nesse momento o problema deixa de ser potencial e efetiva-se.