Apesar dos avanços inegáveis que a ciência conseguiu dar nos últimos anos, há outras áreas do conhecimento que ainda têm espaço na sociedade — e prometem não desaparecer tão cedo.
Durante centenas de milhares de anos vivemos na escuridão. Isto é, vivemos sem respostas ou explicações para as mais elementares das questões e dos fenómenos, como o tamanho do Universo, como é que este se formou e como é que a vida humana começou. Antes de haver cientistas muitas destas questões eram colocados a teólogos, filósofos ou poetas.
Felizmente, ao longo dos últimos cem anos, a humanidade descobriu respostas mais convincentes para muitas das suas dúvidas. Através do método científico, que engloba a realização de experiências observações, aumentamos o conhecimento científico definitivo, permitindo a obtenção de conclusões em vez de enveredarmos por especulações infindáveis.
No entanto, é possível afirmar que mesmo com perspetivas científicas sólidas, a filosofia e a religião nunca se tornarão obsoletas.
Apesar de todas as questões a que a ciência já conseguiu responder, há ainda dúvidas que permanecem, para além de novos dados que ainda não foram incorporados. Isto é o mesmo que dizer que todas as verdades científicas que foram alcançadas até agora têm as suas limitações. Por exemplo, a teoria da evolução explica como as características humanas foram herdadas, mas não explica a origem da vida por si só.
O Big Bang explica como o Universo surgiu de um estado precoce, quente e denso, mas não explica como surgiu com essas condições.
Por outras palavras, por muito longe que tenhamos chegado na nossa compreensão científica, há sempre um ponto onde esse entendimento termina. Quando tenhamos conhecimento definitivo de um determinado fenómeno e uma compreensão detalhada dos processos que o sustentam, podemos colocar com segurança esse fenómeno dentro da esfera da ciência.
No entanto, existem muitas questões que podemos colocar e que não se enquadram — pelo menos ainda não — no âmbito da competência do cientista.
Muitos dos mistérios mais entusiasmante da atualidade, desde a origem da vida à inteligência extraterrestre, passando pela gravidade quântica, até aos puzzles da matéria e energia negra, situam-se atualmente fora do domínio do que é cientificamente compreendido.
A ciência tenta responder a perguntas que começam com “como“, aventurando-se a explicar e prever qual será o resultado (ou conjuntos resultados) de um sistema físico, inicialmente criado com certas condições. Paralelamente, a teologia tenta responder a perguntas centradas no “porquê“, incluindo perguntas que não se enquadram no conhecimento definitivo.
Muitas questões que em tempos foram consideradas como pertencendo ao domínio da teologia, são agora questões científicas que têm respostas definitivas, sublinha o Big Think.
No entanto, entre a interface destes dois campos, a ciência e a teologia, para além do nosso conhecimento definitivo mas sem um apelo a uma fonte autorizada, encontra-se a filosofia.
Esta é, em certo sentido, a derradeira zona de guerra. Invadindo a área – e os limites – tanto da ciência como da religião, a filosofia procura sondar questões que a ciência (ainda) não pode responder. Contudo, ao contrário da religião, a filosofia aborda estas questões com apelos à razão e à lógica, e tenta utilizar estas ferramentas para explorar questões cujas respostas ainda não são conhecidas, mas que poderão um dia ser conhecidas.
Onde os nossos conhecimentos científicos são insuficientes e onde as respostas teológicas não nos conseguem compelir e convencer, a filosofia continua a representar um esforço útil.
As questões relativas à consciência, ao propósito do Universo — se a realidade é objectiva ou dependente do observador, se as leis da natureza e as constantes físicas do Universo são imutáveis com o tempo ou se são mutáveis — são todos reinos onde a filosofia pode ser útil ao curioso intelectualmente.
Para cada pergunta que possamos fazer, o objectivo final deveria ser encontrar uma resposta científica: levar uma investigação cujo resultado é desconhecido a uma conclusão satisfatória baseada em conhecimento definitivo.
O ideal seria criarmos vida a partir da não vida num ambiente de laboratório, descobrir uma forma de testar várias interpretações da mecânica quântica umas contra as outras, ou medir as constantes físicas através de distâncias e tempos cósmicos, estaríamos bem justificados em tirar conclusões científicas.
Mas até o fazermos, devemos admitir a nossa própria ignorância. As nossas melhores teorias científicas só são bem estabelecidas num determinado intervalo de validade; fora desse intervalo, não sabemos até que ponto essas regras se quebram.
Podemos explorar cenários, executar simulações e modelar o comportamento dos sistemas com base em certas suposições. Perante a inexistência de dados suficientes para aprender a resposta definitiva, só podemos empregar as ferramentas à nossa disposição..
É aqui que a filosofia tem a sua verdadeira oportunidade de brilhar. Ao chegarmos às fronteiras científicas — e ao compreendermos qual é o corpo atual do conhecimento científico e como o obtivemos — é possível antecipar para além das fronteiras e explorar uma variedade de ideias especulativas.
As que conduzem a inconsistências lógicas ou conclusões impossíveis podem ser descartadas, permitindo-nos favorecer ou desfavorecer ideias mesmo sem conhecimento científico definitivo.