“Há o risco de surgir o pântano depois das europeias de 2024”

António Cotrim / Lusa

Luís Marques Mendes

O comentador Luís Marques Mendes afirmou que “muita coisa mudou esta semana”, como é o caso da perceção sobre a duração da legislatura, da coesão interna do PS, assim como o facto de o Presidente da República ter feito sérios avisos a António Costa na sua mensagem de Ano Novo.

Na sua opinião, esses fatores fazem com que seja possível uma degradação política ao ponto de ficar em causa a legislatura após as Europeias de 2024. “É indesejável, mas pode suceder”, afirmou o comentador no seu espaço habitual de opinião na SIC.

A demissão de Pedro Nuno Santos deixou a opinião pública com a “sensação de que o Governo pode não aguentar a legislatura inteira”, o que faz com que possa surgir “o pântano a seguir às europeias. Já tivemos um depois das autárquicas de 2021. Não é impossível termos outro depois das europeias de 2024”, disse.

A saída de Pedro Nuno Santos da pasta das Infraestruturas e da Habitação faz com que António Costa passe a contar com “oposição interna”, devido à “guerra da sucessão no PS. Isto é novo e é mau. Não garante coesão”, logo o primeiro-ministro terá agora “piores condições para governar”, comentou.

Para Marques Mendes, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa “termina o ano a ganhar poder”. “2023 é um ano decisivo para mudar e reformar. Até por uma razão: é o único ano até 2026 em que não há eleições. Logo, não há desculpas para falhar”, indicou o comentador.

E continuou: o país tem “excelentes condições para vencer: estabilidade, fundos europeus, turismo, atração de investimento”.

“O Governo não pode continuar pelo caminho que tem seguido. Não pode desperdiçar a maioria absoluta, seja com descoordenações, inação, fragmentação interna, falta de transparência e descolagem da realidade”, referiu Marques Mendes.

De acordo com o comentador, Marcelo fez uma espécie de “ameaça em relação a 2024”: “ou muda de vida ou a sua situação política complica-se”. O Governo, segundo indicou, “passa a depender muito” do Presidente porque “esta é uma crise em que Marcelo ganha e António Costa perde”.

“É muito raro acontecer, mas às vezes há semanas em que, de repente, tudo muda”, apontou Marques Mendes.

Sobre o caso Alexandra Reis, que causou “um tsunami na imagem do Governo”, disse que a ex-secretária de Estado do Tesouro teve um comportamento “absolutamente imoral” pelo valor da indemnização bruta “milionária” que exigiu e a que veio a receber.

Sobre Pedro Nuno Santos, cuja demissão classifica como “uma bomba”, referiu que o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação saiu porque “não tinha outra saída” mas também devido a um “cálculo político”.

“Sai porque também lhe dá jeito sair. Pedro Nuno Santos é muito crítico do Governo. Não o diz em público, mas pensa-o. Ele tem a ideia que a governação de António Costa vai acabar mal. É preferível sair agora, ainda que politicamente debilitado, do que sair “esturricado”, no final”, explicou.

Sobre o ministro das Finanças, Fernando Medina, considerou que este “fica muito fragilizado”. Apesar de Marques Mendes ter dúvidas de que Medina não soubesse da indemnização que foi paga a Alexandra Reis, o ministro das Finanças “tinha a obrigação de saber”.

“Ao convidá-la para o Governo, tinha a obrigação de indagar por que é que Alexandra Reis tinha saído da TAP e em que condições tinha saído. Dizer que não sabia não é atenuante. É agravante. Foi muito negligente”, criticou ainda o comentador.

ZAP //

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