A eurodeputada portuguesa Isabel Santos, eleita pelo PS, descarta qualquer envolvimento no escândalo de corrupção Qatargate. A eurodeputada grega Eva Kaili já se declarou inocente no caso, e a Hungria pede a dissolução do Parlamento Europeu, o que pode mesmo vir a acontecer.
O primeiro-ministro da Hungria, Víktor Orban, diz que é o momento de “drenar o pântano” em Bruxelas e defende a dissolução do Parlamento Europeu (PE).
“Os húngaros gostariam que o PE fosse dissolvido”, aponta Orban que entende que a credibilidade da instituição está beliscada devido ao envolvimento de vários eurodeputados no Qatargate.
Na habitual conferência de imprensa de fim de ano, o primeiro-ministro húngaro salienta que o escândalo reforça o euroceticismo e defende uma mudança na eleição dos deputados com assento no PE.
Orban refere que o modelo actual devia ser substituído para dar lugar a uma Assembleia de Delegados dos Parlamentos nacionais dos Estados-membro da União Europeia (UE).
Para lá da ideia do governante húngaro, a dissolução do PE é algo que pode mesmo vir a acontecer, sobretudo se “implicar a demissão de muitos europeus e personalidades francesas”, refere o escritor egípcio Abdelrahim Ali, presidente do Centro de Estudos do Médio Oriente (CEMO), com sede em Paris, em entrevista ao site Dreuz.info, plataforma de informação franco-americana de cariz conservador e pró-israelita.
“Neste momento, estamos apenas na ponta do iceberg“, entende Abdelrahim Ali que acredita que só estamos “no início das revelações sobre o Qatargate”.
Há “16 parlamentares europeus na mira”
“Provavelmente, deveria ser criada no PE uma comissão especial de inquérito sobre as operações de influência do Qatar na Europa”, frisa ainda, considerando, contudo, que todos os Parlamentos nacionais da UE devem “rever as suas relações com os países do Golfo”.
“Alguns países estarão particularmente na berlinda, como a Itália, um país onde a esquerda foi tão ajudada pelo Qatar que contribuiu para sua chegada ao poder”, acrescenta.
Nesta entrevista, Abdelrahim Ali revela que as autoridades belgas têm “16 parlamentares europeus na mira” para além dos já revelados, incluindo também “empresas de comunicação” nas investigações, pois terão sido usadas “para canalizar dinheiro do Qatar para o PE”.
“O dinheiro chega do Qatar em malas diplomáticas”, revela também o presidente do CEMO que é igualmente jornalista e tem contactos com muitas “personalidades políticas” do mundo árabe. Além disso, foi deputado do Parlamento Egípcio e membro do Comité de Segurança Nacional do país e, por isso, diz que teve acesso a fontes dos “serviços de inteligência árabes”.
Qatar quer esconder apoio a islamistas e terroristas
Abdelrahim Ali também fala do Qatargate como uma forma de o Qatar “corromper as elites” para “branquear a sua reputação” e para “obter incríveis vantagens como isenções de taxas imobiliárias”, o Mundial de Futebol ou “o direito de gerir-financiar os movimentos de islamização da Europa sem que lhes coloquem perguntas embaraçosas”.
O escritor egípcio nota que o Qatar apoia “oficialmente” a Irmandade Mulçulmana, uma organização islâmica radical, na Europa, e em França em particular. Além disso, também “reconhece oficialmente” os talibãs e até ajudou “a negociar com os americanos antes da retirada do Afeganistão”.
Abdelrahim Ali acrescenta que o Qatar apoia o grupo “terrorista” palestiniano Hamas, “grupos jihadistas na Síria“, bem como “outros extremistas islâmicos na Líbia”.
Mas falta também de “actividades suspeitas de financiamento dos islamistas na Europa” para a construção de mesquitas, revelando que o Qatar “investiu mais de 4 milhões de euros, entre 2011 e 2014, em cinco projectos” da Irmandade Muçulmana na Suíça.
Isabel Santos nega envolvimento no Qatargate
Entretanto, em comunicado enviado ao ZAP, a eurodeputada portuguesa Isabel Santos nega qualquer implicação no escândalo.
Quanto à ligação à Fight Impunity, a organização não-governamental (ONG) que está no centro do Qatargate, Isabel Santos garante que só fez parte do “quadro de honra” a par de figuras como Denis Mukwege, Prémio Nobel da Paz 2018, Bernard Cazeneuve, ex-primeiro-ministro de França, Emma Bonino e Frederica Mogherini, ex-Comissárias Europeias, “entre outras personalidades de reconhecido prestígio e serviço público”.
Note-se que várias destas figuras, incluindo Isabel Santos, demitiram-se do quadro honorário logo que o escândalo rebentou.
A eurodeputada portuguesa nota que os fins e actividades da ONG sempre lhe “pareceram adequados, humanitários e eticamente irrepreensíveis“, “caso contrário não teria aceite associar-me a tal entidade”, sublinha.
Além disso, destaca as “personalidades tão respeitáveis” associadas à ONG e refere que esta “era chamada à Comissão de Direitos Humanos do PE e que organizava actividades nas instalações” do mesmo. Por isso, “nada me podia levar a ter qualquer suspeita sobre a sua idoneidade, ou que não estaria inscrita no registo de transparência”, acrescenta.
A parlamentar portuguesa frisa que nunca teve “qualquer função executiva, de gestão ou de representação dessa associação” e que só participou em “algumas sessões ou conferências públicas, num relatório anual” e sempre “a título gracioso”.
“É completamente falso que tenha avalizado, apoiado ou incentivado financiamento seja a que organização for, nomeadamente à associação em causa”, aponta também.
Eva Kaili diz-se inocente, mas fica na prisão
A defesa da eurodeputada socialista grega Eva Kaili, arguida e em prisão preventiva pelo alegado envolvimento no esquema de corrupção, pediu a sua libertação com pulseira electrónica.
Mas o tribunal de primeira instância de Bruxelas decidiu que vai continuar em prisão preventiva por, pelo menos, mais um mês.
Os advogados de Eva Kaili ainda podem recorrer desta decisão.
A defesa da eurodeputada socialista grega tinha pedido a sua libertação porque “participa activamente na investigação e rejeita qualquer acto de corrupção”, como explicou o advogado belga André Risopoulos.
Eva Kaili, que foi afastada da vice-presidência do PE na sequência do escândalo de alegados subornos a eurodeputados, é acusada de participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção numa rede ligada ao Qatar e a Marrocos.
“Ela é inocente, nunca foi corrompida”, garante o seu advogado grego, Michalis Dimitrakopoulos.
Eva Kaili está detida na Bélgica, apesar de gozar de imunidade parlamentar porque as autoridades belgas consideraram que foi encontrada em flagrante delito.
Uma operação policial realizada a 9 de Dezembro passadou permitiu apreender mais de 1,5 milhões de euros em dinheiro, material informático e telefones. Foram detidas várias pessoas além de Eva Kaili, incluindo o seu namorado Francesco Giorgi e o eurodeputado italiano Pier Antonio Panzeri.
Também foram detidos o sindicalista italiano Luca Visentini e o pai da ex-vice-presidente do PE, Alessandro Kailis, mas acabaram por ser libertados dois dias depois.
Já o ‘lobista’ e secretário-geral da organização não-governamental No Peace Without Justice (Sem Paz Não Há Justiça), Niccolo Figa-Talamanca, ficou em liberdade, com obrigação de usar pulseira electrónica.
O caso envolve também dois outros eurodeputados, o socialista belga Marc Tarabella e o socialista italiano Andrea Cozzolino, ambos já suspensos dos respectivos partidos apesar de terem garantido ser inocentes.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar também negou que o seu país esteja envolvido no escândalo, garantindo que são “informações enganosas”.
Susana Valente, ZAP // Lusa
Penso que é uma Social Democrata, que faz parte dos Sociais Democratas europeus, mas da extrema Esquerda á extrema Direita não se aproveita nada, razão porque Antonio Costa cada vez reforçará mais a sua maioria absoluta, basta olhar para a bancada parlamentar do PSD para garantir vitórias ao Antonio Costa independente do partido onde esteja, ganharia mesmo sozinho.