Costa em Bruxelas? “Acho que já terá tirado a ideia da cabeça”

António Cotrim / Lusa

O conselheiro de Estado e antigo líder do PSD, Luís Marques Mendes

Marques Mendes comenta o Orçamento de Estado recentemente aprovado e faz um balanço dos sete anos de António Costa como primeiro-ministro.

No seu habitual espaço de comentário televisivo, Luís Marques Mendes comentou a aprovação do Orçamento de Estado que a maioria absoluta socialista garantiu na passada sexta-feira, considerando que já é um “OE desatualizado

“A novidade é que ainda não entrou em vigor e já é um OE desatualizado. Pelo menos, na previsão de crescimento do PIB e da inflação para 2023. Vamos ter menos crescimento e mais inflação”, considera.

Marques Mendes aponta ainda o dedo à oposição, que diz fazer “acusações sem sentido” dado que todas as maiorias absolutas aceitam poucas propostas de alteração dos outros partidos.

“O Governo mostrou, todavia, uma injustificada falta de abertura, numa área capital: o apoio aos titulares de crédito à habitação. Num empréstimo de 125 mil euros, o aumento da prestação é de 46,8% em dezembro; 50% em janeiro; e 61,1% em julho de 2023. Perante estas evidências, as medidas adotadas pelo Governo e que esta semana entraram em vigor são positivas, mas insuficientes”, atira.

O comentador acredita que o executivo deveria ter consagrado no OE a possibilidade de dedução fiscal em sede de IRS de uma parte dos juros dos empréstimos contraídos a partir de janeiro de 2012.

“Não o fez e mal. Assim, temos dois regimes: empréstimos contraídos até dezembro de 2011 podem deduzir uma parte dos juros; empréstimos desde janeiro de 2022 não podem. Uma discriminação injusta e incompreensível“, reforça.

Balanço de 7 anos de Costa

Foram também assinalados nos últimos dias os sete anos de António Costa como primeiro-ministro de Portugal. Marques Mendes faz um balanço do trabalho do chefe do Governo até agora.

Do lado positivo, o comentador destaca a criação da geringonça, a conquista da maioria absoluta, “a inteligência de saber afastar-se de Sócrates e dos seus efeitos tóxicos”, a gestão da pandemia, a “determinação a reduzir o défice e a dívida” e a “capacidade de celebrar um acordo social de médio prazo”

Já entre os aspetos negativos, há o “fraco crescimento económico registado, se comparado com os países de leste”, a falta de reformas em setores-chave, os atrasos no aeroporto de Lisboa e no plano para a ferrovia, os atrasos na execução dos fundos europeus e a perda de três lugares no ranking europeu do PIB per capita.

Marques Mendes comentou ainda o futuro de Costa, considerando que uma recandidatura nas legislativas é a opção menos provável. “Costa quer que este seja o seu último mandato governativo. Chegado a 2026 já terá 11 anos de PM. Será o recordista nacional no cargo. Nessa altura, dará o lugar a outro. Provavelmente a Pedro Nuno Santos. Embora Medina tenha voltado a interessar-se”, prevê.

Já sobre a muito debatida possibilidade de Costa sair para Bruxelas, o comentador acredita que o chefe do Governo “já terá tirado isso da cabeça“: “António Costa desejava ser Presidente do Conselho Europeu. Tem qualidades para esse lugar. E provavelmente condições para o obter em 2024. Só que a orientação do PR de que, saindo o PM a meio, dissolveria a AR, tornaram inviável esse cenário. Ir para Bruxelas e dar azo a uma crise política seria fazer pior do que fez Durão Barroso, em 2004.

“A última hipótese – candidato presidencial em 2026 – é a única que até hoje o PM publicamente rejeitou. Disse que não queria. Admito que esteja a ser sincero. Que não goste da função presidencial. Julgo, porém, que lá para 2024/2025 ele vai ser fortemente pressionado para ser candidato presidencial. É o candidato mais forte da esquerda. Acresce que Santos Silva não arranca. Tem muita dificuldade em descolar. Vai ser curioso ver como António Costa reage”, antecipa ainda Marques Mendes.

E, por fim, “chegado a 2026, pode mesmo sair da política”, pois está já há quase 30 anos com cargos políticos, desde a Câmara de Lisboa até ao Governo.

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