O Presidente russo, Vladimir Putin, pediu à Ucrânia, esta segunda-feira, que garanta a segurança dos navios que usam o corredor de exportação de cereais, acusando-o de ser uma “ameaça” após a frota do Kremlin ter sido atacada na Crimeia no sábado.
“A Ucrânia deve garantir que não haverá ameaça à segurança dos navios civis. (…) Este ataque foi lançado pela Ucrânia contra os navios da frota do mar Negro. Criaram um perigo para os nossos navios e navios civis”, disse Putin, numa conferência de imprensa, acusando Kiev de utilizar o corredor de cereais para realizar o ataque.
Enfatizando que a Rússia não abandonou o acordo sobre as exportações de cereais, mas que apenas o “suspendeu”, o líder russo acrescentou que se trata de uma “ameaça” para os navios russos e civis.
Esta segunda-feira, os navios com cereais continuavam a usar o corredor marítimo, mas o Kremlin avisou que será “perigoso” continuar a aplicar o acordo sem o envolvimento de Moscovo.
“Sob as condições atuais, não pode haver dúvida de garantir a segurança de qualquer objeto na área até o lado ucraniano aceitar obrigações adicionais de não usar esta rota com objetivos militares“, disse o Ministério da Defesa russo em comunicado.
O ministério pediu ainda à Organização das Nações Unidas (ONU) que “obtenha garantias da Ucrânia de que não vão usar os corredores humanitários e os portos ucranianos designados para a exportação de produtos agrícolas em atos hostis contra a Rússia”.
O subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, rejeitou a acusação de que um navio civil que transportava os cereais russos possa ter estado envolvido no ataque. Segundo este, não havia navios no corredor seguro, nem houve relatos do incidente.
“O corredor são apenas linhas num mapa. Quando os navios da iniciativa não estão na área, o corredor não tem um estatuto especial. Não garante nem cobertura nem proteção para ações militares ofensivas ou defensivas”, explicou o responsável no Conselho de Segurança.
O acordo assinado em julho, com a mediação da ONU e da Turquia, permitiu a exportação de milhões de toneladas nos portos ucranianos desde o início da ofensiva russa em 24 de fevereiro.
No sábado, a Rússia acusou a Ucrânia de atingir a sua frota na baía de Sebastopol, na Crimeia, com drones aéreos e submarinos. O Kremlin assegurou que a operação foi planeada com o apoio de especialistas britânicos.
A Ucrânia denunciou um “falso pretexto” para a suspensão do acordo de cereais, enquanto Londres negou qualquer participação no ataque. De acordo com o Diário de Notícias, os Estados Unidos consideram a exigência russa uma “extorsão e punição coletiva” para os que dependem dos cereais.
Após falar com o secretário-geral da ONU, António Guterres, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, comprometeu-se a cumprir a sua parte do acordo e continuar a “garantir a segurança alimentar” global.
Sem água e luz
Depois de mais uma ronda de ataques russos contra as infraestruturas ucranianas durante a madrugada de segunda-feira, ao final do dia, cerca de 40% dos habitantes de Kiev continuavam sem água.
O balanço foi feito pelo presidente da câmara da capital, Vitaly Klitschko, e representa uma melhoria em relação aos números da manhã, quando 80% da cidade estaria sem água. Há ainda 270 mil lares sem eletricidade – de manhã eram 350 mil.
Segundo os ucranianos, os russos terão disparado “mais de 50 mísseis de cruzeiro”, com o exército a dizer que muitos foram intercetados pela defesa antiaérea. Moscovo confirmou os ataques, mas alegou que todos atingiram os alvos previstos.
Afundem mas é a esquadra russa da Crimeia. Já lhe dói por todo o lado.