A urna que transporta o corpo do antigo Presidente angolano, coberta pela bandeira de Angola, vai até à Praça da República.
A cerimónias fúnebres de Estado a José Eduardo dos Santos (JES) tinham arranque previsto para esta manhã, mas não houve qualquer registo nos órgãos de comunicação social angolanos do velório previsto para hoje.
Tal terá acontecido porque teve lugar à porta fechada, sem acesso da imprensa, segundo avança a edição angolana da Deutsche Welle.
“A imprensa não está permitida“, afirmou um agente da segurança do Estado, que estava na estrada que dá acesso à residência oficial de JES, à radio-televisão alemã. “Estamos num país de ordens superiores”, acrescentou.
As cerimónias fúnebres do ex-presidente angolano vão terminar no domingo, data em que celebraria 80 anos, com um funeral de Estado na presença de vários chefes de Estado, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa, segundo o Observador.
A Praça da República, onde se encontra o monumento fúnebre do primeiro presidente angolano, no Memorial António Agostinho Neto, foi novamente escolhida para as cerimónias fúnebres, depois de ter acolhido um velório público sem corpo, logo após a morte de José Eduardo dos Santos, durante um luto nacional de sete dias.
A urna saiu de manhã cedo da residência familiar no Miramar, em Luanda, com honras militares reduzidas, dirigindo-se em cortejo fúnebre para a Praça da República.
No domingo haverá honras militares num programa que inclui música lírica, leitura de mensagens do estado angolano e da família, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), da Fundação José Eduardo Santos e leitura do elogio fúnebre, bem como um culto ecuménico, acompanhado de grupos corais.
Militares transportam a urna, que está coberta pela bandeira de Angola, para o carro funerário. O momento foi acompanhado por várias pessoas próximas, incluindo a antiga primeira-dama Ana Paula dos Santos. Esta seguia de braço dado com o seu filho mais velho — e também filho de José Eduardo dos Santos — Danilo dos Santos, a encabeçar o cortejo. “É Angola, Zedú, muito obrigado”, cantaram alguns dos presentes. “Angola chora a morte do Zedú“.
O cortejo que acompanha a urna de José Eduardo dos Santos seguiu em marcha lenta por vários pontos de Luanda, tendo já entrado na zona da baixa.
Algumas pessoas acenam à coluna de carros e motas, mas são mais cidadãos isolados do que grandes aglomerados de pessoas. Não há multidões a assistir.
Marcelo homenageia JES em Luanda
O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, recusou hoje comentar as queixas da oposição sobre as eleições de Angola e disse que está em Luanda para prestar homenagem ao ex-presidente José Eduardo dos Santos, mas terá uma agenda bilateral “muito intensa”.
Na sexta-feira, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), partido dado como derrotado pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), rejeitou os resultados e pediu uma comissão internacional para contar os votos a partir das atas síntese que os partidos têm.
Confrontado com a possibilidade de os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ajudarem nesse processo, Marcelo Rebelo de Sousa limitou-se a dizer aos jornalistas, à chegada ao hotel em Luanda, que essa “é uma realidade que ainda não existiu, não vale a pena antecipar”.
Em Angola, “está em curso o processo eleitoral” e, “por maioria de razão não farei” comentários, disse Marcelo Rebelo de Sousa, não esclarecendo se irá reunir-se com o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior.
Sobre o dia das eleições angolanas, o chefe de Estado português elogiou a “tranquilidade do ato eleitoral em termos do que deve ser um momento de vivência normal democrática”.
O Presidente português confirmou que irá ter “um programa muito intenso” hoje de reuniões com os homólogos de São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique, países da CPLP que estão representados ao mais alto nível nas cerimónias fúnebres oficiais de homenagem a José Eduardo dos Santos, no domingo.
À chegada à cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa falou com a CNN Portugal, que lhe perguntou se tinha discutido o tema dos resultados eleitorais em Angola com o ministro dos Negócios Estrangeiros João Gomes Cravinho. O Presidente da República assegurou que não.
“Não falámos propriamente disso, falámos do cerimonial, do programa muito intenso, do Presidente José Eduardo dos Santos e da homenagem”, disse apenas.
“MPLA não ganhou as eleições”
A UNITA continua a divulgar aos jornalistas mais dados da contagem de votos paralela, com base nos resultados das atas-síntese das assembleias de voto.
As últimas informações dizem respeito à votação por município na província de Luanda. Segundo o partido, a UNITA foi a força política mais votada em todos os 9 municípios, apenas com exceção de Quiçama, onde o MPLA terá obtido mais votos.
Em alguns municípios, a diferença de votos apresentada pela UNITA é muito acentuada. É o caso da cidade de Luanda, onde a UNITA diz ter obtido 586.698 votos, contra 161.836 do MPLA, e de Kilamba Kiaxi, onde a diferença é mais do dobro (125.230 contra 63.156).
A UNITA criou um “sistema de escrutínio paralelo” para contar os votos das eleições em Angola e concluiu que o MPLA não venceu as eleições, ao contrário do que a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) divulgou na quinta-feira.
“Não existe a menor dúvida em afirmar com toda a segurança de que o MPLA não ganhou as eleições do dia 24 de agosto. A UNITA não reconhece os resultados provisórios resultados pela CNE”, notou Adalberto Costa Júnior, candidato presidencial da UNITA, aos jornalistas.
Segundo os resultados apurados pelo sistema paralelo da UNITA, anunciados pelo candidato presidencial, que analisou as atas, só em Luanda o partido obteve 70% dos votos, contrariamente aos “63% que a CNE atribui à UNITA”.
Adalberto Costa Júnior defendeu ainda que a votação foi “abusiva e ilegal”, com “discrepâncias brutais”. Pede a intervenção de uma comissão internacional para comparar as atas dos partidos com as atas da CNE.
Perante esta “trapalhada da CNE”, o candidato da UNITA pediu aos apoiantes para permanecerem calmos, serenos e confiarem na direção do partido.
Emídio Fernando, diretor da Rádio Essencial em Angola, considera que esta é uma forma subtil de a UNITA pedir uma recontagem dos votos. Mas o que vai acontecer a seguir ainda é incerto.
“Essa é que é a grande questão. Da parte da UNITA parece-me muito inteligente ter optado por fazer uma proposta à Comissão Nacional Eleitoral para se criar uma comissão internacional que possa avaliar os resultados, é uma forma um bocado subtil de querer pedir uma recontagem dos votos”, realça, em entrevista à TSF.
“A não ser que aconteça uma coisa verdadeiramente extraordinária, como por exemplo uma pressão internacional que obrigue à recontagem dos votos, não me parece que a Comissão Nacional Eleitoral vá aceitar a recontagem dos votos ou vá aceitar até fazer parte dessa comissão internacional por razões muito simples. A CNE é orientada pelo MPLA que, supostamente, não estará interessado em fazer essa recontagem dos votos”, explicou Emídio Fernando.