MPLA segura poder em Angola, mas a UNITA cresce muito. Luaty Beirão fala em eleição “falseada”

Manuel de Almeida / Lusa

O presidente de Angola, João Lourenço

Os resultados provisórios das eleições em Angola dão mais de 51% dos votos ao MPLA de João Lourenço, o que constitui uma maioria absoluta. Mas, ainda assim, é um número muito abaixo de anteriores eleições, com a UNITA a caminho de um resultado histórico, com cerca de 44% dos votos.

Numa altura em que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Angola divulgou os resultados provisórios das eleições gerais no país, a UNITA está ainda a considerar contestar os números por “não corresponderem à realidade”, como disse um responsável do partido, Abel Chivukuvuku, à TSF.

Neste verdadeiro momento existencial para Angola, continuam os receios de que haja conflitos violentos nas ruas depois do anúncio dos resultados oficiais.

A postura da UNITA vai ser decisiva, mas o partido tem apontado para suspeitas de fraude eleitoral, salientando que tinha relatos de “uma tendência ganhadora para a UNITA em todas as províncias do país”.

As suspeitas de fraude são também lançadas pelo activista Luaty Beirão que foi preso político em 2015.

“As eleições estão completamente condenadas. Isso está mais para a teatralização de um acto eleitoral para legitimar um regime que considera a possibilidade de haver alternância de poder”, considera o activista em entrevista ao jornal brasileiro Folha de São Paulo.

Luaty Beirão diz mesmo que encontrou o nome do pai “morto em 2006” nas listas dos eleitores. “A dúvida que fica é se a incompetência é propositada ou não”, aponta.

Em entrevista à SIC, Luaty Beirão diz ainda que “desde Fevereiro que estão a fazer sondagens que dão a vitória à UNITA“. “Qualquer pessoa de bom senso em dois segundos percebe que [esta eleição] é falseada”, conclui.

Também o Movimento Cívico que tem apelado à alternância de poder no país junta lenha à fogueira, notando que uma sondagem à boca das urnas dava clara vitória à UNITA.

Movimentos cívicos e cidadãos angolanos têm denunciado situações irregulares nas mesas de voto no dia das eleições.

Mas observadores independentes que acompanharam o processo eleitoral, nomeadamente da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), já validaram a eleição, assegurando que tudo decorreu normalmente.

UNITA quase duplicou votos de 2017

A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola divulgou que o MPLA venceu as eleições com 51,07% dos votos, seguido da UNITA com 44,05% dos votos, quando estavam escrutinadas 97,3% das mesas de voto. Estes são ainda resultados provisórios, mas não deverá haver alterações substanciais face ao número de mesas de voto contadas.

A histórica Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), o Partido de Renovação Social e o estreante Partido Humanista de Angola, único liderado por uma mulher (Bela Malaquias), elegem dois deputados cada um e a coligação CASA-CE deixa de ter representação parlamentar.

Assim, o MPLA deverá manter-se no poder que segura desde 1975. Contudo, a UNITA ganha claramente terreno e deverá ter um resultado histórico, quase duplicando os votos que tinha conseguido nas anteriores eleições.

Em 2017, o MPLA tinha ganho com 61% dos votos, com a UNITA a reunir apenas 26,67%. Em 2012, o MPLA tinha arrecadado 71,84% dos votos.

As eleições mais renhidas do país dão sinais claros de mudança, mesmo que a queda do MPLA do poder não tenha acontecido como muitos angolanos desejavam.

O MPLA deve conservar a maioria no Parlamento com 124 lugares em 220 possíveis, mas deverá perder a maioria de dois terços que lhe permitia aprovar projectos sem o apoio de, pelo menos, outro partido.

A UNITA tem, até agora, 90 assentos parlamentares garantidos.

Num país que é um dos maiores produtores de petróleo de África e um dos principais produtores mundiais de diamantes, persistem graves dificuldades económicas, com milhões de pessoas entregues à pobreza.

Com a inflação galopante, uma seca severa, desemprego e um custo de vida demasiado elevado, João Lourenço, de 68 anos, terá de se esforçar para cumprir as reformas que tem prometido. Pela frente, tem mais cinco anos para mudar Angola, para lá da luta anti-corrupção que iniciou, tendo a família de José Eduardo dos Santos como principal alvo.

Susana Valente, ZAP // Lusa

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