A roçar Portugal, há uma vila espanhola “fantasma” que foi evacuada por engano

Discasto / Wikimedia

Durante a ditadura de Franco, os moradores foram obrigados a abandonar as suas casas devido a um decreto errado que determinava que a construção de uma barragem iria inundar a vila. Até hoje, os habitantes de Granadilla ainda não podem regressar a casa.

A cidade medieval de Granadilla é uma cidade-fantasma. Os turistas podem visitar as casas vazias, caminhar pelas ruas e ver a cidade do alto do castelo. Mas ninguém mora lá — desde que todos os moradores foram removidos na década de 1960.

Fundada por muçulmanos no século IX, Granadilla, localizada na província de Cáceres, no oeste de Espanha e na fronteira com Portugal, ocupava uma localização estratégica e permitia aos seus ocupantes vigiar a Ruta de la Plata, uma antiga rota de comércio e viagens que atravessava, de norte a sul, parte do que são hoje as regiões de Andaluzia, Estremadura, Castela e Leão e Astúrias.

Ao longo dos anos, o domínio da cidade mudou de mãos, e hoje é uma das poucas cidades-fortaleza espanholas onde as antigas muralhas ainda estão intactas. Mas a comunidade que lá viveu até bem depois da metade do século XX já não existe.

A derrocada de Granadilla começou na década de 1950, durante a ditadura do general Francisco Franco (1936-1975), quando a Espanha embarcou num grande projeto de construção de barragens como forma de impulsionar a economia durante o período de isolamento internacional.

Um desses esforços foi o reservatório Gabriel y Galán, no rio Alagón. Em 1955, as autoridades decretaram que Granadilla estava na planície que ia ser inundada pela obra e, portanto, teve de ser evacuada.

Mudança forçada

Ao longo de 10 anos, de 1959 a 1969, os mil moradores foram despejados à força, muitos deles realojados para povoamentos próximos da cidade.

A experiência foi traumática para os moradores, muitos dos quais ainda se sentem frustrados. “Foi uma piada”, diz Eugenio Jiménez, presidente da Associação Filhos de Granadilla.

“Eles expulsaram-nos  alegando que a barragem ia inundar a cidade, o que era impossível, porque a cidade é mais alta que a barragem. Mas era uma ditadura e não tínhamos direitos. Mas o que realmente me frustra é que, em tempos democráticos, tenho lutado pela recuperação de Granadilla com a antiga associação e nenhum governo nos ouviu”, lamentou.

Purificación Jiménez, ex-residente, também relembrou a dificuldade daqueles anos. “Lembro que todas as vezes que uma família saía da cidade, todos saíam de casa para se despedirem e chorar“, disse ele.

Ainda hoje, os antigos moradores da cidade não podem recuperar suas casas, porque o governo mantém o decreto de inundação assinado por Franco. No entanto, o local pode ser visitado.

A cidade foi designada Sítio Histórico-Artístico em 1980 e agora funciona como um museu gratuito ao ar livre.

Já os habitantes e os seus descendentes reúnem-se duas vezes por ano em Granadilla, no Dia de Todos os Santos (1º de novembro) e no dia da Assunção de Maria (15 de agosto).

ZAP // BBC

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