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As bitcoins têm um apocalipse quântico à vista — e não estão preparadas para o enfrentar

A comunidade das criptomoedas começa a preocupar-se com uma nova geração de computadores super-poderosos — que poderá virar o mundo monetário digital de pernas para o ar.

A computação quântica promete cálculos avançados para além das limitações binárias de uns ou zeros, e pode ser o prenúncio de avanços futuros.

Mas os adeptos de criptomoedas começam a questionar se o seu sistema monetário digital está preparado para o que esta nova era de processamento de dados poderá trazer.

“O salto tecnológico da computação quântica poderá representar novos riscos para os utilizadores de criptomoedas e potencialmente minar a espinha dorsal criptográfica da blockchain”, explica à Forbes o CCO da empresa de computação quântica neural QuEra, Yuval Boger.

Segundo Boger, embora os riscos imediatos sejam baixos, o futuro poderá ver computadores quânticos de grande escala com correção de erros, capazes de executar algoritmos que poderiam quebrar a criptografia de curva elíptica (ECC) usada pela bitcoin como um dos principais protocolos de segurança do setor.

“Apesar de os computadores quânticos atuais ainda não sejam suficientemente poderosos, o risco é real a longo prazo“, diz Isaac Kim, professor de ciência da computação na UC Davis, numa entrevista recente à empresa de investigação de criptomoedas Presto Labs.

“Há ligeiras diferenças entre os níveis de risco para cada tipo diferente de criptomoeda, qualquer blockchain que utilize ECC, como bitcoin e ethereum, são vulneráveis”, nota Kim.

As criptomoedas estão mal preparadas“, afirmou também esta segunda feira investigador Rick Maeda numa entrevista à CoinDesk na segunda-feira. “O maior risco é simplesmente esperar demasiado tempo”.

Segundo a Decrypt, embora alguns membros da comunidade cripto estejam aparentemente a ignorar a ameaça iminente representada pela computação quântica, à porta fechada, figuras importantes do setor estão preocupadas com a potencial catástrofe que se pode abater sobre as criptomoedas.

Os especialistas acreditam agora que a indústria tem menos de uma década, talvez apenas alguns anos para implementar planos de contingência contra o “apocalipse quântico” que ameaça as cripto.

E mesmo esse prazo pode ser otimista: num novo artigo publicado no mês passado, Craig Gidney, investigador do Google Quantum AI, sugere que a encriptação usada pela bitcoin poderia ser ultrapassada utilizando 20 vezes menos recursos quânticos do que se estimava anteriormente.

Dada a gravidade da ameaça da computação quântica, é crucial seguir uma abordagem proativa, para antecipar a disrupção numa indústria que vale centenas de milhares de milhões de euros anualmente, afirmaram em 2024 investigadores da Universidade de Kent, num estudo que detalha como poderia ser essa abordagem.

A única forma de evitar perturbações em grande escala para um ativo como a bitcoin, dizem os autores do estudo, é atualizar ou substituir os sistemas de chave pública atuais por outros, que não tenham vulnerabilidades conhecidas a ataques quânticos — conhecidos como “criptossistemas pós-quânticos“.

Este tipo de atualização de protocolo completa deixaria a criptomoeda offline durante 76 dias, explica a Fortune.

Mais realisticamente, a rede poderia dedicar apenas 1/4 da sua capacidade de processamento à atualização, permitindo aos utilizadores continuar a minerar e negociar a um ritmo mais lento — caso em que o tempo de inatividade seria estimado em dez meses.

Este risco de inatividade tem-se mostrado uma “barreira fundamental” para enfrentar o desafio iminente e a comunidade tem, resistido a avançar com as atualizações — que são inevitáveis.

“Não podemos esperar até que a ameaça se manifeste para começar a levá-la a sério. Nessa altura, já será tarde demais“, realça Rick Maeda.

ZAP // The Week

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