A polémica opção da Suécia de não ordenar confinamentos e deixar o controlo da pandemia nas mãos dos cidadãos foi muito criticada no início da pandemia. Passados dois anos e meio, os números dizem que a estratégia resultou, apesar de terem havido falhas na proteção dos idosos.
A maioria do mundo fechou-se no início da pandemia de covid, mas a Suécia manteve-se aberta. A abordagem do país foi controversa, com alguns a chamarem-lhe “a experiência sueca“. Mas quase dois anos e meio depois do início da pandemia, o que podemos dizer hoje sobre o resultado desta “experiência”?
Primeiro, vamos recordar como era a estratégia sueca. O país geralmente seguiu o plano, originalmente criado para ser usado na eventualidade de uma pandemia de influenza. Em vez de confinamentos, o objetivo era alcançar o distanciamento social através de recomendações de saúde pública.
Os suecos foram encorajados a trabalhar a partir de casa se possível e limitarem as viagens dentro do país. Adicionalmente, as pessoas com mais de 70 anos foram recomendadas a limitar os contactos sociais e pediu-se às pessoas com sintomas de covid que se auto-isolassem. O objetivo era proteger os mais velhos e outros grupos de risco enquanto se diminuía a transmissão do vírus para que o sistema de saúde não fosse sobrecarregado.
Com a subida do número de casos, foram impostas algumas restrições. Os eventos públicos foram limitados a um máximo de 50 pessoas em Março de 2020 e oito pessoas em Novembro de 2020. As visitas a lares de idosos foram banidas e as escolas secundárias foram fechadas. As escolas primárias, no entanto, ficaram abertas durante toda a pandemia.
As máscaras não foram recomendadas ao público geral durante a primeira onda e só foram aconselhadas em certas situações mais tarde na pandemia.
Durante a primavera de 2020, a taxa de mortalidade por covid na Suécia estava entre as mais altas do mundo. Os países vizinhos que implementaram medidas de confinamento, como a Noruega e a Dinamarca estavam a sair-se muito melhor e a Suécia recebeu duras críticas pela sua abordagem relaxada.
Mas os defensores da estratégia sueca disseram que esta compensaria a longo prazo, argumentando que as medidas apertadas não eram sustentáveis e que a pandemia era uma maratona, não um sprint.
A estratégia sueca resultou?
Olhemos para o excesso de mortalidade como um exemplo. Esta métrica mede o número total de mortes e compara-o com os níveis pré-pandemia, captando os efeitos gerais da pandemia e tendo em conta a contabilização errada de mortes por covid.
Apesar de a Suécia ter sido duramente afetada pela primeira onda, o seu número de mortes em excesso durante os dois primeiros anos da pandemia estão entre os mais baixos da Europa.
A decisão de se manter as escolas primárias abertas também foi correta. A incidência de casos severos de covid nas crianças tem sido baixa e um estudo recente mostrou que as crianças suecas não sofreram a perda de aprendizagem verificada noutros países.
Por este prisma, a estratégia sueca foi de um “desastre” ou um “mau exemplo” para um “sucesso escandinavo“. Mas para se retirar conclusões relevantes, precisamos de analisar a resposta sueca com mais profundidade.
Notavelmente, qualquer perceção de que as pessoas na Suécia continuaram com as suas vidas normais durante a pandemia como se nada tivesse mudado está errada.
Num inquérito da Agência de Saúde Pública da Suécia da primavera de 2020, mais de 80% dos suecos reportaram que tinham ajustado os seus comportamentos, por exemplo ao praticarem o distanciamento social, evitando multidões e transportes públicos, e trabalhando em casa. Os dados móveis agregados confirmam que os suecos reduziram as suas viagens durante a pandemia.
Os suecos não foram forçados a tomar medidos contra a transmissão do vírus, mas fizeram-no na mesma. Esta abordagem voluntária poderia não ter resultado em todo o lado, mas a Suécia tem um historial de uma alta confiança nas autoridades e a população costuma respeitar as recomendações de saúde pública.
Também é difícil comparar os resultados da Suécia aos de outros países fora a Escandinávia que têm condições sociais e demográficas muito diferentes.
Forças e fraquezas
Apesar dos benefícios de se evitar o confinamento, a resposta sueca não foi perfeita. Nos finais de 2020, a Comissão Corona, um comité independente nomeado pelo governo para avaliar a resposta sueca à pandemia, concluiu que o governo e a Agência de Saúde Pública falharam na sua ambição de proteger os idosos.
Nessa altura, quase 90% daqueles que morreram com covid na Suécia tinham 70 ou mais anos. Metade destas pessoas viviam em lares de idosos e quase 30% estavam a receber apoio domiciliário.
De facto, vários problemas com os cuidados de idosos ficaram evidentes durante a pandemia. As falhas estruturais como níveis insuficientes de trabalhadores deixaram os lares de idosos mal preparados para responder à situação.
No seu relatório final, a Comissão Corona concluiu que medidas mais duras poderiam ter sido adotadas no início da pandemia, como a quarentena para quem chegou de zonas de alto risco ou uma proibição temporária de se entrar na Suécia.
A Comissão diz, no entanto, que a estratégia sem confinamento foi fundamentalmente razoável e que o Estado nunca deve interferir com os direitos e liberdades dos seus cidadãos mais do que o absolutamente necessário. A Comissão também apoiou a decisão de manter as escolas primárias abertas.
Por comparação, a Comissão Corona na Noruega, um dos poucos países na Europa com mortalidade em excesso menor do que a Suécia, concluiu que apesar de a sua resposta à pandemia ter geralmente sido boa, as crianças foram muito afetadas pelos confinamentos e a as autoridades não as protegeram devidamente.
Apesar de a estratégia sueca continuar a sr controversa, hoje em dia a maioria dos países já adotou medidas semelhantes. Olhando para trás, parece um pouco injusto que o único país que seguiu o seu plano tinha sido acusado de levar a cabo uma experiência na sua população. Talvez a Suécia deva ser considerada o grupo de controlo, enquanto o resto do mundo fez uma experiência.
ZAP // The Conversation
O que difere na Suécia é o sentido de responsabilidade e respeito pelo próximo, além de terem uma cultura de distanciamento já enraizada sem necessidade de pandemias. A adicionar a isto, tem um sistema nacional de saúde robusto, podendo acatar com o aumento de afluência sem prejudicar as outras áreas da saúde (consultas, cirurgias, etc). Não comparável com países como Portugal, estratégia que seria um descalabro tal como se viu em Janeiro e Fevereiro de 2021