Nelson Zagalo analisa o anunciado “fim do social” nas redes sociais. Explicou o sucesso do Facebook e abordou a persuasão no Instagram.
“Sempre que há uma mudança, as pessoas entram em stress. As mudanças causam problemas quando a estrutura já está montada”.
Assim começou a análise de Nelson Zagalo à alteração mais recente anunciada – e entretanto já concretizada – pelo Facebook, que passou a ter mais atenção aos conteúdos do que é publicado e sugerido do que à rede dos amigos de cada utilizador.
O professor de Multimédia na Universidade de Aveiro comentou com o ZAP que, para a generalidade das pessoas, não vai haver grande alteração na rotina que cada uma tem no Facebook.
Mas há quem vá notar muito esta alteração: os influencers. “Ataca mais os influencers, que estão mais dependentes dessa proximidade com as pessoas que os seguem”.
“Vão ter de se ajustar porque os seguidores vão ver as coisas mais em função dos gostos no geral e não em função do que cada um segue. Isso já estava no algoritmo mas agora vai ganhar mais peso”, continuou.
“Aliás, eles têm dito no TikTok: não há tanto essa lógica de rede social, de proximidade, mas funciona muito mais pela “qualidade”, pelo sucesso do conteúdo, do que propriamente do criador do conteúdo. Só o facto de ser o Cristiano Ronaldo a partilhar não chega. Eu não vou ver, se o conteúdo não me interessar. Isso vai mudar muito o estado das coisas”, analisou.
O professor de uma cadeira sobre conteúdos para redes sociais admite, sem certezas, que vai surgir uma mudança na estratégia de muitas marcas: “Deixarão de investir tanto em influencers”.
E explicou: “Uma marca contrata um influencer porquê? Porque sabe que aquele influencer vai chegar a muitas pessoas. Mas se deixar de chegar a muitas pessoas, a marca vai contratar uma pessoa que produza conteúdo interessante“, mesmo que menos conhecida. As marcas poderão preferir “criadores que realmente fazem a diferença. A lógica do TikTok é essa. Mas vamos esperar para ver”.
A lógica do Facebook tem sido outra: “Ver o que os meus amigos andam a ver. Mas claro que cada pessoa pode controlar a gestão das suas redes”, recordou.
Já em relação a outras empresas, que utilizam o Facebook como “canais de marketing sério”, a alteração no Facebook muda pouco a sua estratégia porque o alcance orgânico é residual; a base destas empresas é o alcance pago, há algum tempo.
E o algoritmo escolhe o quê?
É a pergunta que muitas pessoas, empresários ou não, fazem constantemente. Nelson Zagalo deixa uma resposta: “Tem uma quantidade enorme de variáveis. Mostra o que um amigo teu muito próximo vê; mas só se for amigo muito próximo no Facebook, porque se for um amigo muito próximo teu, na tua vida real, se não contactares com ele no Facebook, a plataforma não sabe isso. Segue as tuas preferências, os milhares de likes, tudo isso entra no algoritmo”.
“No meio de milhões de conteúdos, conseguem apresentar-te o conteúdo que te interessa”. Aliás, é esse o sucesso do Facebook: “Quando abres o mural, vês as coisas que te interessam. Não o que abriu o telejornal, mas o que te interessa.
“Quase todas as outras plataformas têm copiado o algoritmo do Facebook”, analisou o especialista, numa conversa que até envolveu o hi5 (que ainda existe, sabiam?). “Sim, por exemplo, o hi5: não conseguiu manter o sucesso porque não conseguiu controlar as informações que apareciam no mural do utilizador”.
Depois o diálogo virou-se para o Instagram, que aposta nas imagens, comunica de forma “mais imediata e mais directa, a assimilação é mais rápida”.
A tendência de cada utilizador é para ficar mais tempo no Instagram. As marcas e até os meios de comunicação social adaptaram-se ao Instagram: “Muitos meios fazem do Instagram quase um tablóide, com aquelas imagens chamativas”.
Não há links. Nas publicações não conseguimos colocar ligações externas. Mas a ideia é essa: “Para mim isso é uma grande desvantagem. Mas isso é desvantagem para as pessoas que querem mais informação. As pessoas querem é consumo rápido e, se for preciso acrescentar informações, os jornais acrescentam algumas imagens, um slide e pronto. E fazem isso para nunca saíres do Instagram”.
“O objectivo é manter-te fechado na rede, aquilo está desenhado para te manter preso no Instagram. Querem dar mais, mais e mais. Não é aprofundar nada. Porque só meia dúzia de pessoas querem aprofundar”, continuou.
Em termos de design de interacção, “aquilo é contra tudo que ensinamos. Em termos de design de persuasão, está tudo certo”, completou Nelson.
O professor universitário lembrou também um factor importante: a idade de quem utiliza as redes. No Instagram o público no geral “vai dos 14 aos 20 e poucos anos, muito ávido por estímulos constantes. No Facebook sobe-se “dos 20 e muitos anos para a frente, adultos que reencontram amigos, por exemplo”.