O ministro da Saúde da Roménia, Alexandru Rafila, pediu esta segunda-feira à população com menos de 40 anos para se abastecer “o mais rapidamente possível” com comprimidos de iodo, dado o risco de um desastre nuclear na vizinha Ucrânia.
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) alertou domingo para o risco de “desastre nuclear” na central ucraniana de Zaporizhia, a maior da Europa, ocupada pela Rússia desde março, após as instalações terem sido alvo de ataques de novo na sexta-feira, dos quais Kiev e Moscovo se acusam mutuamente.
Esta central, a maior da Europa, se localiza numa região a 700 quilómetros da fronteira com a Roménia, como lembrou a agência Lusa, que cita a agência Agerpres.
O ministro pediu que os menores de 40 anos – mais expostas ao desenvolvimento de cancro e lesões da tiroide devido à radiação – “se apresentem o mais rapidamente possível ao médico de família a quem devem pedir a receita”, divulgando a lista de 2.500 farmácias podem obter os comprimidos gratuitamente.
Após o início da invasão russa da Ucrânia, o Governo romeno ordenou à sua indústria farmacêutica que redobrasse a produção de comprimidos de iodo face à possibilidade de um acidente nuclear na antiga central de Chernobyl ou noutra instalação em território ucraniano.
Estes comprimidos servem para prevenir a absorção de iodo radioativo, ajudando a eliminar esta substância e a reduzir o risco de contrair cancro da tiroide.
O Governo romeno armazenou 30 milhões de comprimidos de iodo para a sua população, temendo o risco de uma catástrofe nuclear na Ucrânia.
Kiev e Moscovo pedem missão internacional
A Ucrânia considerou esta segunda-feira “totalmente despropositadas” as alegações russas de que Kiev tenha bombardeado a central nuclear de Zaporizhzhia e pediu o envio de uma missão internacional dirigida pela ONU até finais de agosto.
Em contraste, a Rússia assegurou que mantém a AIEA informada sobre a situação da central nuclear, atualmente controlada pelo exército russo e alvo de vários ataques na passada sexta-feira, admitindo ainda a necessidade de uma inspeção internacional.
“Enviamos regularmente à AIEA informação atualizada ‘in situ’ e que está refletida nas circulares informativas do organismo, que revelam de forma clara as ações criminosas das Forças armadas ucranianas, cujo comando perdeu em definitivo a capacidade de pensar racionalmente”, indicou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.
Segundo a porta-voz da diplomacia russa, aos militares ucranianos “faltou-lhes o sentido elementar da autopreservação”.
“Ao apontar as suas peças de artilharia contra os reatores em funcionamento e ao armazenamento de combustível nuclear utilizado, os ucranianos disparam contra si próprios”, alertou, ao assinalar que “a situação torna-se mais perigosa cada dia”.
Ainda a partir de Viena, o embaixador ucraniano junto da AIEA indicou que os recentes ataques, ocorridos na sexta-feira e sábado, destruíram numerosos sensores de vigilância, pelo que não é possível medir os níveis de radiação em toda a central.
Tsymbaliuk reconheceu que a Ucrânia desconhece os objetivos da Rússia, mas não afastou a hipótese das forças russas desligarem a central do sistema elétrico ucraniano e provocar um apagão generalizado na parte sul do país, invadido pelo exército russo em 24 de fevereiro.
“Esperamos a chegada de uma missão internacional, liderada pela AIEA, mas também com peritos da ONU e outros países. Essa missão é importante porque os peritos devem chegar a conclusões reais e a sua mera presença melhorará o nível de segurança da central”, prosseguiu Tsymbaliuk.
Após denunciar o “terrorismo nuclear russo”, o embaixador também assegurou que a presença dos peritos da AIEA na central nuclear nunca será entendida por Kiev como uma “legitimação” da ocupação russa.
Já a porta-voz da diplomacia de Moscovo optou por saudar as declarações do secretário-geral da ONU, António Guterres, em apoio aos esforços da AIEA “para criar condições destinadas a estabilizar a situação em Zaporizhzhia e permitir o acesso (da agência) à central”.