Armas nos EUA: até a Constituição “protege” o lobby

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Nina Delise / Flickr

Massacre numa escola primária, no Texas, recordou a controvérsia. Biden está “farto” mas dificilmente vai mudar algo.

O assunto não é novo mas não tem havido novidades ao longo dos anos: a facilidade de ter uma arma em casa, nos Estados Unidos da América.

Nesta terça-feira um jovem de 18 anos entrou no estabelecimento de ensino e começou a disparar aleatoriamente. Matou 19 crianças e dois adultos.

Entre as diversas reacções ao tiroteio, um emocionado Joe Biden admitiu que está “farto” destas tragédias. E perguntou quando se vai alterar este contexto do lobby das armas no seu país?

O presidente dos EUA quer tornar mais difícil a posse de armas. Mas dificilmente vai alterar algo no tal lobby.

Até porque, do outro lado, responsáveis do Partido Republicano – congressistas e senadores – condenaram o ataque na escola mas não condenaram a fácil posse de armas no país.

Lobby e Constituição

Tradicionalmente, os republicanos – mas não só – são muitas vezes apoiados (e apoios consideráveis, quer a nível de notoriedade, de influência pública, quer a nível financeiro) porque apoiam o acesso fácil a armas.

Ou seja, esses apoios só surgem se o candidato for contra a alteração das leis à volta deste assunto.

E nem o massacre de Sandy Hook (Dezembro de 2012, noutra escola primária) alterou o cenário. Pelo contrário: o “lobby das armas” cresceu consideravelmente logo a seguir, a partir de 2013.

E este esquema é tratado ao detalhe, para não ir contra a lei de financiamento de campanhas políticas nos EUA.

A Associação Nacional de Armas (NRA, em inglês, que sigla que tem aparecido em cartazes de protesto mediáticos) está no “jogo” há praticamente 50 anos. Envolveu-se em escândalos de financiamento, a sua influência pode ter abalado um pouco, mas continua a existir. E entretanto surgiram outras associações do género, que reforçam o panorama.

Depois, existe…a Constituição. Que defende, na sua Segunda Emenda, que “o direito do povo de ter armas não deve ser violado“.

Estas são as palavras recordadas frequentemente, neste “jogo de interesses”;l que envolve milhões de dólares. Mas antes, na mesma Emenda, lê-se que este direito “necessário para a segurança de um estado livre” deve ser “bem regulamentado”.

Recorde-se que a Constituição dos EUA foi redigida em 1787, há 235 anos. Noutros tempos, noutro contexto. Mas a tendência no país é não mexer na “escritura sagrada”.

Donald Trump, por exemplo, ao longo da sua campanha presidencial em 2016, assegurou que não iria alterar a Segunda Emenda. E foi aplaudido de forma efusiva por causa dessa garantia.

20 milhões em 2021

Não há registo oficial de número de venda de armas nos EUA. Mas estima-se que, só no ano passado, se tenham vendido mais de 20 milhões de armas.

E quem pode comprar armas? “Na verdade, na verdade… Quase toda a gente”, responde a jornalista Cátia Bruno, na rádio Observador, explicando que há várias regras (como verificar que o comprador não tem cadastro criminal) no momento da compra de armas – mas há várias formas de dar a volta a essas regras.

Em números aproximados, nos EUA – onde vive 5% da população mundial – estão concentradas 46% das armas na posse de civis, em todo o mundo.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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