Quando a polícia mexicana viu os crânios escondidos dentro da caverna, pensou ter encontrado provas de um assassinato em massa moderno.
A polícia mexicana entrou numa caverna no município de Frontera Comalapa, em 2012, e não conseguiu acreditar no que estava a ver.
O local subterrâneo no estado de Chiapas continha 150 caveiras e outros restos mortais humanos. As autoridades assumiram imediatamente que se tratava de uma cena de crime moderna. Após uma década de investigação, porém, os peritos concluíram que os ossos são da era pré-colombiana.
De acordo com o New York Post, o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) anunciou a descoberta a 27 de abril de 2022.
Datados do período de 900 a 1200 d.C., os crânios pertenciam a homens, mulheres e bebés que eram decapitados num ritual — e expostos numa espécie de “prateleira de troféus” chamada tzompantli.
Com a gruta perto da fronteira da Guatemala, onde o tráfico de seres humanos e a violência são comuns, a polícia inicialmente não considerou os restos mortais como algo que não fosse uma cena de crime.
Além disso, as vítimas de sacrifícios pré-hispânicos tinham normalmente buracos nos crânios, mas estes restos mortais não mostravam provas de tais danos.
Contudo, de acordo com uma declaração divulgada pelo Ministério da Cultura do México, temos agora algumas respostas.
“Desde então, foram realizadas análises que permitem aos antropólogos físicos do INAH mergulhar num contexto funerário com cerca de mil anos e entender que havia um altar de crânios, ou tzompantli, na caverna de Comalapa”, lê-se na declaração.
Segundo a Ancient Origins, a polícia foi inicialmente alertada para o local por um cidadão, que “tropeçou” no seu conteúdo macabro.
Os agentes acreditavam ter descoberto provas de assassinato em massa e trataram o sítio arqueológico como tal, isolando o local do crime, denunciando a descoberta aos seus superiores — e recolhendo os próprios crânios.
“Acreditando que estavam a olhar para uma cena de crime, os investigadores recolheram os ossos e começaram a examiná-los em Tuxtla Gutierrez”, escreveu o Instituto Nacional de Antropologia e História.
Contudo, quando o INAH soube disto, seguiram-se anos de investigação antropológica e de análises aos crânios.
Descobriram que os ossos eram de 900-1200 d.C. e também perceberam que não foi encontrado um único esqueleto completo no local. Apenas alguns fémures, tíbias e ossos do rádio, espalhados no interior da caverna.
“Reconhecemos os restos de esqueletos de três bebés, mas a maioria dos ossos são de adultos e são mais de mulheres do que de homens”, escreveu o INAH.
“Ainda não temos o cálculo exato de quantos são, uma vez que alguns estão muito fragmentados, mas até agora podemos falar de aproximadamente 150 crânios”.
O INAH ficou fascinado por saber que quase todos os crânios eram desdentados. Algo paralelo à descoberta de 124 crânios numa caverna em La Trinitaria, nos anos 80, e cinco outros encontrados numa caverna em Ocozocoautla, em 1993.
O INAH ficou ainda perplexo com a falta de perfurações dos crânios em ambos os lados, uma vez que a maioria dos sacrifícios humanos no México pré-hispânico incluíam buracos nas cabeças, para serem montados em prateleiras de exposição.
No entanto, um relatório da Procuradoria-Geral do Estado de Chiapas confirmou que as autoridades tinham encontrado vestígios de paus de madeira na caverna, e que estavam alinhados num padrão.
Esta característica levou o INAH a acreditar que as caveiras tinham sido montadas em cima de postes de madeira, em vez de serem penetradas através dos lados.
Estes bastões de tzompantli foram há muito documentados em relatos de conquistadores espanhóis, que datam da década de 1520.
Enquanto o INAH acredita atualmente que a caverna em Comalapa era um local de um ritual de sacrifício humano, as varas de madeira aparentemente usadas para exibir os crânios depois disso degradaram-se naturalmente ao longo do tempo.
“Muitas destas estruturas eram feitas de madeira, um material que desapareceu ao longo do tempo e que pode ter deixado cair todos os crânios”, escreveu o INAH.
Mas o INAH ainda tem inúmeras perguntas sem resposta. Porque é que a maior parte dos restos humanos dentro da caverna eram de mulheres, por exemplo, permanece um mistério. No final, o instituto confirmou que vai continuar a investigar o local e os restos mortais — com uma mensagem importante que se destaca acima de tudo:
“Quando as pessoas encontrarem algo que possa estar num contexto arqueológico, não lhe toquem e notifiquem as autoridades locais“, conclui o instituto.