Professores russos passam a explicar aos alunos que as sanções são positivas para a economia local. É obrigatório citar Vladimir Putin.
A guerra na Ucrânia também originou alterações nas escolas russas.
Há duas semanas, um dos assistentes de Putin, Vladimir Medinsky, sugeriu que os alunos deveriam iniciar o dia na escola a orar. Uma oração dedicada à glória da Rússia e à sua bandeira – e até citou os Estados Unidos da América, que têm um cenário semelhante, justificou.
Agora há outra novidade, já concretizada: uma espécie de disciplina relacionada com sanções.
Um professor de uma escola nos arredores de Moscovo cedeu documentos ao jornal Kommersant, que ilustram o que também está descrito em sites oficiais de escolas da capital, de Oriol e de Samara. E também há relatos semelhantes da Crimeia e de Sebastopol.
A ideia principal destas novas aulas é mostrar aos alunos – desde o 5.º até ao 11.º ano – que a Rússia tem capacidade para superar as consequências negativas das sanções e apresentar as direcções principais da política anti-sanções local.
Inseridas nos estudos sociais, as aulas começam com uma citação. Os professores receberam a indicação de, logo nos primeiros minutos, citar o presidente Vladimir Putin: “A Rússia está sob uma pressão externa sem precedentes”.
Os alunos são então questionados: sabem quais são as medidas prioritárias incluídas na política anti-sanções da Rússia?
Depois o professor explica o que são sanções: “Restrições que punem qualquer país por causa das suas acções”.
E que acções realizou a Rússia, neste caso? “Operação militar especial realizada pela Rússia na Ucrânia, causada pela necessidade de proteger a população de Donbass”.
Aí são apresentadas aos alunos algumas das sanções mais significativas: congelamento de activos de empresas estatais e de bancos, de reservas de ouro e divisas e saída de empresas estrangeiras.
Entre as “áreas prioritárias” na resposta a estas sanções, estão a protecção do mercado interno e a manutenção do emprego da população.
No fundo, no geral a ideia transmitida às crianças e aos jovens é que esta fase de dar prioridade a produtos internos, quase sem produtos importados, é benéfica para a Rússia.
No manual das novas aulas, lê-se: “O professor, juntamente com os alunos, conclui que a política económica dos últimos anos tem sido centrada no aumento da segurança dos produtores nacionais, garantindo a sua sustentabilidade face às crises externas”.
Os alunos do 5.º ao 9.º ano têm de cumprir uma tarefa: fazer uma lista de medidas que apoiam a economia e os cidadãos russos, perante o aumento da pressão das sanções. Os estudantes mais velhos, dos 10.º e 11.º anos, descrevem as consequências das medidas.
Já na parte final da aula, é entregue aos alunos um formulário, no qual respondem a estas perguntas: “As sanções contra a Rússia são justas?”, “As sanções vão fortalecer a economia russa?”, ou ainda “Quem vai sofrer as maiores perdas económicas: Rússia, países da NATO ou todos os países do planeta?”.
O Ministério da Educação russo confirmou que as escolas têm novas indicações, elaboradas pelo Instituto de Estratégia de Desenvolvimento da Educação. O objectivo é que os alunos fiquem a par das medidas tomadas por Putin e pelo Governo, nesta fase.
“Isto adianta muito… No próximo Verão, ou no máximo no Outono, as crianças vão chegar a casa e vão ver por si mesmas que a família não tem dinheiro, que não há como comprar bens”, avisou a economista Natalya Zubarevich.
Sim, quem vai pagar a crise são as populações da Rússia mas também da UE. E quem vai ganhar com o “negócio” são os EUA como sempre.